Palavra liana

FLORESTAS

 

X-8 está esperando as palavras-clientes desta noite. Fora de seu escritório (Ed. Éden, 3º andar, ao fundo do corredor; se a lâmpada do teto estiver queimada, vá apalpando as paredes), o bairro se apresenta escuro e sujo como sempre.

Dentro do escritório não é muito diferente, só que aqui o clima lúgubre e decadente é proposital, cuidadosamente planejado por decoradores caros.

As clientes entram e se acomodam nos bancos de madeira dura. Eles são assim de propósito, para que as consultas não demorem muito. X-8 não quer palavras se demorando para bater papo no fim de uma sessão.

Hoje ele está atendendo palavras relacionadas a grandes grupos de vegetação.

Depois que elas tomaram assento, com muito esparramar de folhas e galhos, o grande profissional fala:

– Sejam bem-vindas, palavras ligadas a mato, floresta e outros agradáveis conjuntos vegetais.

Na pesquisa sobre suas origens, começaremos aqui por floresta. Há certa discussão sobre sua etimologia. Provavelmente vem do Latim forestem silvam, “as matas externas”, querendo-se dizer com isso “os bosques do rei”, que estavam fora do alcance de quem não tivesse permissão expressa deste. E não era nada bom para o pescoço andar caçando em terras reais.

Existe também a hipótese de ter vindo do Latim forestis, “reserva de matas e caça”, de forum, “julgamento, corte de direito”, em outras palavras, “terra sujeita a penalidades”.

Falando em matas, tanto mato como mata vêm do Latim matta, “esteira de junco, bosque, floresta”.

A palavra inglesa jungle foi aportuguesada para jângal. Veio do Sânscrito jangala-s, “área com árvores esparsas”. Mais tarde passou a ser usada para designar “floresta, área com muitas árvores”.

Por seu lado, bosque deriva do Latim boscus ou buscus, “grande conjunto de árvores e vegetação”, possivelmente de uma raiz germânica.

Muito tímida, vemos ali arboreto, que sabe que é pouco usada mas nem por isso tem menor valor. Usa-se mais para designar um conjunto de árvores para fins científicos ou exibição.

Deriva de árvore, do Latim arbor, “árvore”, possivelmente do Indo-Europeu herdhos-, “ereto; qualidade do que é erguido ou aprumado”.

Vejo que vergel se encontra impaciente por saber de onde veio. Sua origem é o Provençal vergier, do Latim viridarius, de viridis, “verde”. Aplica-se a “local com plantas ornamentais, horto”.

E do seu lado se encontra selva, do Latim silva, “floresta, bosque, selva”.

Outro grupo de árvores é o capão, que indica um aglomerado de árvores de pequena extensão, com espécies diferentes da vegetação que o rodeia. Recebeu esse nome a partir do Tupi ka’a pu’ã, “mato redondo”.

Certo, arbusto, eu devia ter citado você logo depois de árvore, mas não fique emburrada por isso. Claro que você se origina dela, através do Latim arbustum, “local com árvores”.

Mas nem só de árvores se faz um mato. Ali são encontradas diversas outras formas de vegetais, como as lianas.

Este nome vem, por estranho que pareça, do Francês das Antilhas, liane, “cipó”, de lienner, “atar, ligar”, já que elas parecem unir as árvores entre si.

E cipó veio do Tupi isi’po, “cipó”, trepadeira lenhosa com caule flexível que se enrosca nas árvores.

Caule vem do Latim caulis, “tronco curto, talo de planta”, do Grego kaulós, de mesmo significado.

Com o mesmo significado atual, de “caule lenhoso de árvores e arbusto”, tronco veio do Latim truncus, “caule lenhoso de árvore, parte do corpo humano”, originalmente significando “mutilado, cortado fora”, de truncare, “truncar, interromper, cortar a extremidade de”.

E galho, que sai dos troncos, deriva do Latim galleus, “excrescência, ramo de árvore”.

Antes de ser um galho, um crescimento de árvore é um broto. Vem do antigo Germânico spreutanan, do Indo-Europeu spre-, “espalhar, dispersar”, passando pelo Grego speirein, “espalhar”.

O galho pode ser chamado também de ramo, do Latim ramus, “parte flexível da árvore que sai do tronco, galho”, do Grego rádamnos, do Indo-Europeu rad- ou vrad-, “ser flexível, poder ser dobrado”.

Temos aqui também copa, a parte superior, espalhada, de uma árvore. Deriva do Latim cupa, “taça ou vasilha grande”, pela semelhança de forma.

E na ponta e ao longo dos ramos ou galhos temos as folhas, do Latim folium, que começou sendo usado para denominar uma parte dos vegetais e depois assumiu também o significado de “pedaço de papel para escrita”.

Bem, prezadas clientes, as informações foram dadas, o pagamento foi conferido e nossa jornada se encerrou.

Favor não espalharem folhas secas ao sair e… pensando bem, nossos corredores estão tão sujos que ninguém vai reparar.

Uma boa noite.

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