Palavra margarina

Café Da Manhã

Santa Gertrude que me ajude! Santa Hortência, dai-me vossa paciência! São Sambaqui, acalmai isto aqui!

Cri-an-ças! Mais confusão na hora da merendinha da manhã, é? Parem de chorar e de bater uns nos outros, que assim não vai dar. Olha ali a Leonorzinha com geléia de amora no cabelo, o Zorzinho com uma fatia de pão com manteiga grudada no rosto – ele é tão desligado que acho que nem reparou – a Patty bem limpinha, o que a torna muito suspeita, a Aninha e o Tiaguinho dançando sobre os sanduíches não sei de quem…

Sentem-se aqui ao meu redor que eu vou limpar vocês enquanto eu conto a origem dos nomes das coisas que consumimos no café da manhã.

Para início, café vem do Turco kahweh, que veio do Árabe kahwah, que provavelmente se relaciona com Kaffa, região da Etiópia que era grande produtora.

Ao falar nele, e gente se lembra do seu companheiro frequente, o leite, que vem do Latim lac, “leite, seiva com aspecto lácteo”.

Sim, Ledinha? Claro que as vacas não sobem em árvores, isso todos sabem. Ah, e como foi que elas colocaram o leite nos cocos? Isso é um assunto diferente, meu bem, e depois que eu conversar com seus pais a gente fala nisso, tá?

Nessa ocasião em que a gente se alimenta para enfrentar o trabalho diário – claro que, para uns, como policiais e bombeiros, é tudo moleza, difícil mesmo é dar aulas para certas turminhas – em geral não falta o pão, que vem do Latim panis, “pão”.

Ao ver certas pessoinhas que fazem dupla para incomodar, que nem aqueles dois dançarinos ali, a gente tem que se lembrar da palavra companheiro, que significa “aquele com quem se reparte o pão”, ou seja, “pessoa de confiança”.

Joãozinho, quieto, pare de cochichar no ouvido da Valzinha! Às vezes me dá vontade de dar… deixa pra lá, não sei por que me ocorreu agora outro componente do café da manhã, a bolacha. Ela vem de “bolo”, pela sua forma arredondada. Digamos que é um bolo minúsculo.

Pois não, Valzinha? Era de ver o bolo que deu quando o seu vizinho da frente descobriu que a mulher dele se mostrou muito carinhosa com a empregada nova que ela levou para casa?

Bem, essa palavra aí quer dizer “mistura, confusão”, tal como se faz com os componentes ao fazer um bolo e vamos logo seguir adiante e aprender que a gente passa uma coisa chamada manteiga no pão e cujo nomezinho, tão bonitinho, vem do antigo idioma ibérico mantica, uma espécie de saco de couro para transportar este alimento que as vaquinhas, tão boazinhas, nos fornecem.

E para quem tem problemas com o colesterol ou não tem paciência para passar a manteiga no pão sem o transformar em farofa, existe a margarina, cujo nome vem do Francês margarine. Ela foi criada quando, no século XIX, o imperador Napoleão III ofereceu um prêmio para quem inventasse um substituto para a manteiga, para uso da classe pobre e dos militares. Muito bonzinho ele, não? A manteiga ficava para o pessoal do andar de cima. Pois aí se inventou uma mistura de óleos comestíveis que recebeu o nome pela semelhança com o aspecto perolado do ácido margárico.

Calma, Maria Tereza, sua Tia Margarida tem algo a ver com isso, sim, não fique assim brava. É que “pérola” em Grego se dizia margaron, daí o nome de sua tia e o do tal ácido.

Arre, se a gente não tem um pouco de cultura geral não se ajeita com estes demoninhos…

Não, crianças, entenderam mal, eu disse que-ri-di-nhos.

Mas seguindo: a gente também pode passar geléia no pão ou no bolo ou até no dedo, se estiver meio confusa. Este nome vem também do Francês gelée, “congelado”, de geler, “gelar”, do Latim gelare, idem.

Eu sei, Angélica, que ela não é nem fria, mas o pessoal achava que lembrava algum líquido gelado sobre o pão e pronto.

Olha só, terminou nosso horário, graças a São Macário! Vão todos agora para casa e amanhã, durante o café, não se esqueçam de repetir para seus pais o que aprenderam hoje, certo?

Resposta:

Nomes De Alimentos

Todos somos obrigados a comer alguma coisa diariamente. Seja em que quantidade e de que qualidade forem os alimentos, precisamos manter acesas as fornalhas, ou o organismo pára. Vamos nos debruçar um pouco sobre as origens de alguns nomes daquilo que ingerimos comumente.

SANDUÍCHE – quando você vai fazer um sanduichinho com presunto defumado, queijo Dambo, tomate, alface, mostarda, pequenas tiras de pimentão, pedaços de azeitona – coisa simples! – você talvez não imagine que está repetindo gestos que a humanidade faz há muito tempo.

As legiões romanas já comiam sanduíches; eles também fazem parte da Páscoa judaica, o que significa que eles são usados há milhares de anos.

Na verdade, colocar um recheio entre dois pedaços de pão não parece requerer uma criatividade muito desenfreada. Mas, quando é bem feito, vale a pena.

Muito já se falou na origem de tal petisco; quase todos sabem mais ou menos de onde veio o seu nome. Vamos apenas acrescentar alguns pormenores.

Na Inglaterra viveu, entre 1718 e 1792, o quarto Conde de Sandwich, cujo nome era John Montagu. Parece que o nome original da família era, na verdade, Sandwith, que queria dizer “vau arenoso”.

Pois este nobre personagem era extremamente apegado ao jogo de cartas. Gostava a ponto de não querer interrompê-lo. Se o castelo estivesse pegando fogo, o Sr. Conde só sairia quando as cartas começassem a arder.

Ele era capaz de passar horas a fio jogando, sem parar para fazer as refeições complicadas e cheias de pratos que, na época, condiziam com a sua posição.

Para resolver o problema, ele teve uma brilhante idéia: mandava a criadagem trazer à mesa de jogo bifes entre fatias de torrada e assim matava a fome com um alimento mais fácil de manusear do que um que exigisse prato e talheres.

De qualquer modo, dá para imaginar o estado em que deviam ficar as cartas. Será que ele nunca enfiou uma carta adversa entre duas fatias de pão para se livrar dela? Pensamentos maldosos…

Há quem diga que o primeiro sanduíche ordenado por ele viu a luz por primeira vez às cinco da manhã de 6 de agosto de 1762. Esta informação poderia servir para as lancherias comemorarem o Dia do Sanduíche.

Não foi o Conde que inventou esta forma de preparar um alimento; mas, por alguma razão, ele foi o nome certo no momento certo.

Nossa homenagem e agradecimento ao Earl of Sandwich!

MAIONESE – quando pedimos maionese no restaurante, nem desconfiamos que estamos homenageando uma pessoa falecida ainda antes da Era Cristã.

Trata-se do irmão de Aníbal, o Cartaginês, que viveu ao redor do ano 200 A.C.

O nome dele era Magon; ele fundou uma cidade que recebeu o seu nome na ilha mediterrânea de Minorca, atualmente em posse da Espanha. Muito tempo depois, a cidade de Magon acabou se chamando Mahon, depois Port Mahon e virando a capital da ilha.

Durante uma guerra, a cidade foi capturada pelo Duque de Richelieu, em 1756. Para comemorar essa vitória, o prato feito com gemas batidas e azeite recebeu o nome de mahonnaise em Francês e maionese em Português. Os americanos, para encurtar, agora a andam chamando de mayo.

É interessante saber que, até 1912, não era possível comer maionese sem que ela fosse preparada em casa.

Nesse ano, um proprietário de mercearia em Manhattan, chamado Richard Hellmann, começou a vender maionese pronta em potes de madeira. As pessoas gostaram muito de se livrar da trabalheira de bater os ovos e a idéia fez sucesso logo.

Por motivos higiênicos, passou-se para potes de vidro em 1913. Hoje comprar maionese pronta é coisa de todos os dias, a ponto de haver muitas pessoas que não conhecem o sabor da feita em casa.

CACHORRO-QUENTE – quem diria, esta comida tão americana não foi inventada por um americano.

Na primavera de 1906, o emigrante inglês Henry M. Stevens, que detinha a licença para vender sorvete e refrigerantes num estádio de “baseball” de Nova Iorque, estava se vendo mal: a temperatura estava anormalmente baixa e poucos fãs do esporte se interessavam em comprar seus artigos.

Obviamente, ele teria que vender algo que fosse quente. Ocorreu-lhe oferecer aos espectadores salsichas quentes, que na época eram conhecidas por salsichas dachsund.

Este era o nome alemão do nosso conhecido “cachorro salsicha”, canino que foi desenvolvido para desentocar pequenos mamíferos de suas covas. Para isso era muito útil o seu formato alongado e estreito.

Stevens teve a idéia de enrolar salsichas em pão, tanto para poderem ser seguradas como para mantê-las quentes.

Como houve boa aceitação do artigo logo de saída, ele colocou todos os seus vendedores a comprar as salsichas das redondezas. Deu a ordem de anunciá-las como red hot dachsund sausages, ou seja, “salsichas tipo dachsund em brasa”.

A idéia fez sucesso, ajudada por uma baforada de sorte: precisamente nessa noite, o cartunista de um jornal de muita circulação foi ao jogo e resolveu fazer um desenho sobre a novidade. Como ele não sabia escrever dachsund, chamou a salsicha num pão de hot dog, e desenhou duas delas latindo uma para a outra. O desenho foi logo veiculado no jornal e assim começou um sucesso de longa duração.

Antes se tinha tentado vender salsichas quentes, mas sempre se esbarrava com o problema de as segurar.Tentou-se entregar garfinhos de madeira e até luvas (!) para lidar com a situação, mas sem resultado comercial.

Como curiosidade, devemos acrescentar que o Sr. Stevens teve algum trabalho para eliminar os rumores de que as salsichas eram feitas com carne canina.

PÃO – em Latim, panis não era muito diferente do que é agora. Claro que já era feito com farinha como nos tempos atuais, e isso nos traz uma informação interessante. Nesse idioma, far era a palavra usada primeiramente para designar um tipo de trigo, cujo nome acabou gerando, depois, a nossa farinha.

Com essa farinha era feito o panis farreus, um ancestral do nosso bolo de casamento.

Já naquela época, quando ocorria um casamento, a festa muitas vezes ficava desenfreada. Podia virar uma verdadeira pândega, em parte por alegria, em parte por álcool mesmo. O nome do bolo, o tal panis farreus, acabou sendo associado à festa em si. A expressão acabou perdendo a sua primeira palavra e farreus virou a nossa muito conhecida farra.

Existe em Português uma palavra não muito usada, farrancho, que designa um grupo de gente se divertindo. Esta palavra é um desenvolvimento de farra.

Como muitas vezes a diversão se associa à comida, derivou daí o rancho, significando comida, refeição. Esta palavra encontrou abrigo no jargão militar e é muito usada nesse meio.

MANTEIGA – vem do Latim mantica, que era o nome dado à bexiga de animal usada para o transporte.

Nos países ibéricos, o nome passou do continente para o conteúdo. Daí temos manteca em Espanhol e, é claro, a nossa manteiga.

Na maioria dos outros países europeus, predominou a origem grega, butyros, que deu butyrum em Latim. Daqui temos beurre em Francês, butter em Inglês, boter em Neerlandês.

Agora que você está aprendendo Etimologia, não bata mais no garçon quando ele lhe sugerir uma massa al burro. O bom homem está apenas lhe propondo um prato feito ao molho de manteiga, cuja origem você já domina.

Já que falamos na manteiga, logo surge à mente a…

MARGARINA – ela foi inventada em 1869 por um francês, e era inicialmente feita a partir da gordura da carne bovina.

Esta continha um ácido graxo chamado margárico. Este nome se deve à cor perolada da substância quando cristalizada,
e o seu inventor resolveu aplicar esse nome ao produto.

Margarita em Latim significa “pérola”. As nossa amigas que porventura se chamem Margarida, Margarete ou Margô podem, outrossim, ser chamadas de “pérolas”. Provavelmente vão gostar.

O nome “pérola”, por sua vez, veio do Latim pirula, diminutivo de pirum, “pera”, já que o formato de pera é o de maior ocorrência entre elas.

GELÉIA – vem do Francês gelée, que deriva do Latim gelare, “gelar”. Note-se que glaceado, aquela fina camada de doce que se coloca sobre algumas delícias, vem de uma palavra (glacé) que significa “coberto de gelo” em Francês. Marron glacé significa “castanha coberta com gelo”. A semelhança é visual, não pela temperatura.

Resposta:

Origem Da Palavra