Palavra meio ambiente

Médio

X-8, o detetive das palavras, está à espera da cliente desta noite. Ele revisa cuidadamente seus alfarrábios, para não deixar escapar nada quando estiver contando a sua origem.

Ela é uma palavra de importância, extremamente requisitada; ela é…

Mas eis que ela bate à porta. Ao ouvir que ele manda entrar, com a voz mais fria e detetivesca possível, ela penetra no escritório antiquado e se senta à frente da escrivaninha onde se encontra o bravo, corajoso, intrépido, destemido explorador das origens das palavras, aquele que não tem medo de abrir qualquer livro ou site de computador, por empoeirados que estejam.

Ele a cumprimenta:

– Muito prazer, Médio. Então chegou a hora de descobrir algo sobre seus antepassados, não? Vamos lá.

Você veio para o nosso idioma a partir do Latim medius, “meio, o que está entre duas partes, intermediário”, relacionado ao Grego meso, que foi gerado por uma fonte Indo-Europeia medhyo- a partir da base me-, que queria dizer “entre”.

E, no caminho, essas letrinhas foram espalhando uma grande descendência.

Apenas para dar uns exemplinhos:

Meio no sentido de “lugar, ambiente”, pela conotação de “lugar acessível a todos, que comporta todos”.

Note-se que está sacramentado o uso da expressão meio ambiente. Existe até Ministério com esse nome. Na verdade, ela é uma redundância, já que nela ambiente quer dizer exatamente a mesma coisa que meio. Mas que se vai fazer? De minha parte, quando é o caso, uso apenas uma dessas palavras. E olho torto para quem usa as duas juntas.

Medial é palavra culta, em uso apenas desde os fins do século XIX, para designar “o que fica entre duas coisas”, nas áreas de Matemática e Anatomia, por exemplo.

Intermédio e intermediário têm o mesmo significado, mas se aplicam de forma mais ampla.

Também temos medieval, “época da História compreendida entre 476 e 1453 DC”.

Falando em palavras cultas, mediana se usa para dizer “valor que divide um conjunto em partes iguais” ou “segmento de reta que vai do vértice de um triângulo à metade do lado oposto”.

Imediato começa pelo sufixo in-, de negação: “o que não tem intermediário”, ou seja, “o que acontece logo”.

mediato tem o significado oposto: quer dizer “indireto, que precisa de algo mais para acontecer, que produz um efeito através de outra causa”. Tanto que se chama um mediador, do Latim mediator, para resolver diversos tipos de questões.

Uma das invocações da Virgem Maria é Medianeira, “a que se coloca no meio para interceder”.

Medíocre é uma palavra que agora é usada apenas para indicar que algo tem baixa qualidade ou capacidade. Mas a coitadinha começou significando apenas algo que estava no meio, que podia não ser o melhor mas que estava longe de ser o pior.  Ela está gastando com psiquiatra até hoje por causa disso.

Para muitos, navegar pelo Mediterrâneo num cruzeiro é um sonho a ser perseguido. A idéia é boa e não custa lembrar que o nome dessa massa de água veio do Latim mediterraneus, “o que está entre terras”, de medius mais terra, “terra” mesmo. Ou seja, no início não era um nome próprio, como “Europa” ou “Roma”, mas sim um adjetivo. O Mare Mediterraneus era simplesmente “o mar que fica entre terras”.

Falando em Geografia, podemos citar a Mesopotâmia, “lugar entre rios”, pois potamos em Grego quer dizer “rio”.

Meridional, “relativo ao sul” veio do Latim meridianus, que se formou a partir da expressão latina mediei die, “no meio do dia”. Na Europa é forte a associação do que deve ser o momento mais ensolarado do dia com o Sul, onde essa estrela fica mais tempo no céu. Tanto que, em Francês, midi se usa tanto para dizer “meio-dia” como “sul”.

Meridiano também designa o grande círculo que passa pelos polos de nosso planeta.

Em épocas antigas, quando a gente cruzava os mares em veleiros, a vela que ficava no mastro do meio (quando ele existia, claro), se chamava a da mezena, mais um derivado de medius.

Mediante vem do Latim medians, particípio presente do verbo mediare, “mediar”.

Quando um médico fala em mediastino, refere-se ao espaço que fica entre os pulmões, onde se aloja o coração.

O sujeito que planta “a meias”, ou seja, repartindo os lucros a cinqüenta por cento com o dono da terra é um meeiro.

E, para quem acredita, médium, “pessoa que diz ter meios sobrenaturais para saber assuntos desconhecidos ou influenciar os acontecimentos”, é o próprio Latim medium, com o sentido de “canal de intermediação”.

– Mas vejo que você está bocejando, sinal de que esta nossa conversa está indo muito longe. Não é fácil absorver tanto conhecimento como o que existe numa família grande como a sua.

Ainda há mais, o que terei o prazer de lhe repassar mediante – olha sua parenta aí – uma outra consulta, a ser agendada no futuro. Assim, pode me passar os meus honorários combinados. Não se esqueça de olhar bem ao redor ao sair do  meu edifício, que este bairro é muito perigoso.   Até mais ver, e não esmoreça no caminho do saber!

Resposta:

Raptado!

 

O escritório de súbito fica totalmente às escuras. Seu proprietário, o famoso Detetive X-8, utiliza imediatamente seus elevados dons dedutivos para fazer a hipótese de que o cartaz luminoso do lado de fora da janela, cuja luz ele sempre aproveitou, pifou de novo.

Não faz mal, pensa. Como uma pessoa afeita às mais tenebrosas condições de trabalho, ele resolve, dentro de sua filosofia de “Se lhe derem um limão, faça uma mousse“, treinar para se deslocar no escuro, coisa que ele não faz desde as aulas da Academia de Detetives Etimológicos.

Propõe-se a ir até o banheiro às cegas. De saída, bate forte com o joelho na quina da escrivaninha, soltando uma praga. Uns passos depois, tropeça num banquinho e cai redondo. Ao tentar se levantar, escorrega num tapetinho solto e vai ao chão novamente, batendo o nariz.

Agora perdeu totalmente a orientação. Resolve se deslocar rapidamente – para sair logo daquela situação atrapalhada – e de quatro, para evitar mais tombos. Como resultado, dá tremenda cabeçada numa parede que decididamente não estava ali até há pouco.

Apalpando o chão, encontra por acaso o cesto de lixo e resolve colocá-lo na cabeça, como proteção. Enfia-o com firmeza ao redor da copa do chapéu. Em seguida se lembra que ele tinha comido bananas e laranjas e largado as cascas ali.

Deixa esse assunto para resolver depois, já que agora a prioridade é outra.

A desorientação é completa. Ele não tem sequer idéia do lado onde ficam as coisas: a porta de entrada, a do aposento ao lado, a janela…

Imobiliza-se e invoca o seu famoso sangue frio: raciocínio antes de mais nada. Se não podemos nos orientar com a visão, vamos usar a audição. Trata então de ouvir o mundo. Mas este está tão escuro aos ouvidos quanto aos olhos.

Lembra-se que, quando se instalou ali com o escritório de detetive, mandou colocar revestimento antiacústico nas paredes, teto e piso, pois queria dar às palavras suas clientes toda a segurança para poderem contar os seus problemas.

Nada ouve, exceto um leve arrastar de pés ao encostar o ouvido no chão. Estranhamente, ele parece se aproximar mais e mais, acompanhado de um leve tilintar metálico. Intrigado, começa a pensar se não se trata de um sonho, quando ouve uma fortíssima batida na porta de entrada, um ruído de madeira quebrando, e é brutalmente ofuscado pelos raios fortes de diversas lanternas.

Ouve gritos breves e decididos: – “Ali! Ali no chão! Pega, pega, pega!!”

Ele se sente levantado no ar por mãos experientes. Começa a ser carregado ao ombro por quatro homens fortes para fora do seu tranqüilo escritório.

Uma voz ao fundo, em tom mais baixo, diz: – “Central, alvo atingido sem perdas. Objetivo agora sendo levado. Em três minutos abandonaremos o recinto, em sete estaremos em zona segura, se nada acontecer até lá”. Uma voz responde rapidamente alguma coisa, cercada de uma estática de rádio que só permite ouvir um tenso “Boa sorte!” final.

Olha ao redor, agora que as lanternas permitem enxergar. O quadro é inverossímil: seu local de trabalho foi tomado por diversos sujeitos vestindo as roupas típicas de grupos de intervenção armada: botinas, coletes à prova de bala, capacetes de kevlar, tudo preto; uma pistola à cinta e vários carregadores, faca, um fuzil de assalto Colt Commander às costas ou na mão.

O grupo que o carrega desce a escada aos trambolhões, com o risco de escorregar no lixo que se acumula nos degraus.

Em seguida chegam à calçada; do ombro dos raptores, ele entrevê dois furgões pretos e mal-encarados, com homens armados ao redor, mantendo um olho temeroso e alerta à sua volta. Ele é jogado sem cerimônia para dentro de um dos veículos. A equipe entra junto, atirando-se de qualquer jeito. Os dois veículos aceleram e saem, cantando os pneus.

X-8 está amontoado no chão, aturdido. Ainda assim consegue notar que aquele pessoal que o seqüestrou não se ocupa dele. Nos poucos minutos que levam para deixar aquela horrível parte da cidade, os homens armados olham ansiosamente para fora, pelas seteiras dos costados do furgão, mãos crispadas nas armas.

Quando atingem o bairro vizinho, os veículos diminuem a velocidade. Os homens soltam um suspiro de alívio, abraçam-se e se apertam as mãos. Largam as armas, afrouxam as roupas, tiram capacetes. Muitos estão suando.

O detetive está cada vez mais intrigado. O que foi que ele fez para ser levado assim pela Polícia? Porque, pelos uniformes e pela organização, devia ser ela.

Ele estava com o pagamento da TV a cabo atrasado uma semana, mas um descuido assim não era para tanto. O pai daquela moça da Faculdade seria agora uma alta autoridade? Mas aquilo tinha sido há tanto tempo, ela inclusive tinha casado depois! Algum concorrente no ramo da Etimologia resolvera acabar com ele? Uma emboscada seria mais fácil.

Acima de tudo, agora eles estavam sendo muito gentis com ele. Ofereceram-lhe um assento, cigarros, garrafinha de uísque de bolso, chicletes, chocolate.

Ele só aceitou o assento, ainda estupidificado demais para fazer alguma pergunta. Quando começava a ensaiar uma, finalmente, os veículos frearam e as portas se abriram.

Saíram todos e se perfilaram frente a frente, formando um corredor que levava à porta de uma Delegacia. O que parecia mais graduado dentre eles apontou gentilmente para a porta. X-8 começou a ir para lá e se espantou ao ver que eles apresentavam armas à medida que ele passava.

Entrou num escritório muito bem organizado e foi recebido por nada menos que o Chefe de Polícia da cidade. Este o cumprimentou respeitosamente, sem parar de olhar meio espantado para algum ponto logo acima da cabeça do detetive.

Foi então que este se lembrou que devia estar fazendo uma figura muito estranha, com um cesto de lixo cheio de cascas de fruta enfiado na copa do chapéu. Sem dizer nada, friamente, ele o retirou dali e o largou num canto. Sua linguagem corporal toda dizia ” Tive boas razões para isso. Agora vamos esquecer tudo”.

O Chefe falou:

– Peço desculpas por eventuais incômodos. Nós precisávamos muito falar com o senhor, mas só tínhamos o seu endereço, sem o telefone… Ninguém se atreveu a ir até lá, naquele lugar tão perigoso. O senhor sabe que o Correio se recusa a passar pelo bairro. Então resolvemos buscá-lo usando as novas táticas que treinamos, as armas e os veículos, após cortar a luz da área… Desde já a cidade agradece a sua ajuda para o treinamento dos nossos homens.

– E eu quase tenho um infarto por causa do raio do treinamento deles! – pensa X-8. Mas fica quieto, aliviado por não estar devendo nada à Lei e curioso por saber a causa de tamanha mobilização.

O Chefe de Polícia explica por que ele precisava falar com o famoso detetive em particular: estava se desenvolvendo, na cidade, o XV Congresso para Avanço da Atualização do Vernáculo, o CADAVER.

Essa era a reunião anual de palavras, que acontecia a cada ano em uma capital importante, e a cidade estava muito honrada por ser a sede neste ano.

Mas a Polícia, que acompanhava discretamente os acontecimentos, desconfiava que algo estava sendo aprontado pela organização do CADAVER.

– Sabe, senhor detetive, esse pessoal jovem e ardente é capaz de tudo. Não têm a vivência que nós temos, acreditam que podem mudar o mundo… Todos nós já fomos assim, até que tivemos que ganhar a vida sozinhos. Nada como a gente ter que se sustentar para acabar com qualquer idealismo, não é?

Pois o Ministério da Educação nos colocou em alerta devido às suspeitas de que se estivesse tramando alguma coisa contra o vernáculo. E, lá pelas tantas, observamos que havia numerosos Grupos de Dois, palavras parecidas ou iguais que sempre andavam juntas. O que seria isso? Algum código? Alguma ação se desenvolvendo?

Nossos agentes definiram as duplas e ficamos sem saber o que fazer, pois não tínhamos detectado qualquer crime.

Nós nunca agimos ao arrepio da lei, exceto quando não há escolha. Eu tive, então, a idéia mais democrática possível: fizemos um arrastão no acampamento das palavras, na madrugada passada, trouxemos todas as duplas suspeitas e hoje buscamos o senhor para tentar descobrir o que está havendo. Naturalmente que o Município cobrirá os seus honorários e eventuais danos que tenham sido causados à sua propriedade.

Estava dita a palavra mágica. X-8 estava querendo mesmo expandir os negócios, e havia ali uma oportunidade de ficar mais conhecido ainda. Portanto, aceitou a tarefa, com a ressalva de que não contava ali com a sua biblioteca e que o serviço, dado o seu caráter de emergência, teria que ser bastante resumido.

Era isso o que a Polícia queria: apenas saber se alguma palavra era clonada, mal escrita ou malintencionada.

Foi rapidamente organizada uma sala para acareação e exame dos suspeitos. Havia ali uma mesa, cadeiras, um escrivão para anotar tudo o que fosse dito. No pátio, do lado de fora, ficariam as duplas de palavras, que iriam sendo chamadas para avaliação.

Conforme o veredicto de X-8, agora alçado à condição de Perito Criminal Temporário (ele anotou mentalmente a necessidade de solicitar um comprovante daquele título), as palavras seriam liberadas com um pedido de desculpas ou iriam para o xadrez mesmo.

O detetive olhou para o pátio antes de começar e se espantou: havia ali dezenas e dezenas de palavras assustadas em silêncio, olhando ao seu redor com olhos muito abertos.

X-8 pensou no tempo que iria levar naquela tarefa, mas se animou ao se lembrar da palavra mágica.

Sentou-se e pediu para chamarem a primeira dupla. O Chefe fez um gesto pela janela e um dos agentes fez passar as mais próximas da porta.

O Chefe ia explicando a razão das suspeitas sobre as palavras:

– Olhe aqui: Apressar e Apreçar. Acho que a segunda é falsa, seja por algum propósito maligno, seja por ignorância. Penso em mandá-la para a cadeia.

– Não, disse X-8. Apressar vem do Latim ad mais pressa, de premere, “premer, tornar urgente”. E Apreçar vem de ad mais pretium, “preço, aprezo”. Significa “colocar preço em, avaliar, apreciar”. É uma palavra correta, apenas pouco conhecida. Ambas são válidas; têm origens diferentes e resultaram parecidas com o tempo, soando da mesma forma.

– Soltem-nas! – disse o Chefe. Mandem vir outras.

E entrou a dupla Horal – Oral. O chefe disse: – Agora sim, pegamos uma mal escrita. Horal só pode ser erro dos mais grosseiros!

– Pois não é. Oral, como todos sabem, vem do Latim os, “boca, face, expressão”. E Horal vem de hora, “hora, momento” e quer dizer “referente a hora”. É mais uma palavra injustiçada pelo seu pouco uso. Podem libertá-las.

E assim a coisa seguiu, o Perito Criminal Temporário falando e o escrivão anotando:

Queda e Queda: observem bem, uma tem o “E” aberto (“É”) e a outra, fechado (“Ê”). São palavras diferentes, a segunda perdendo o acento diferencial na Reforma Ortográfica de 1971. A primeira vem do Latim cadere, “cair, desabar, ir ao chão”. A segunda, de quietare, “ficar em repouso, em silêncio, deter-se”. Significa “quieta, parada”. Nada errado com ela. Aliás, quem dera que todos fossem assim. Soltem.

Leda e Leda: a primeira também tem acento aberto no “E”, a segunda fechado. É um caso como o anterior. Leda com “E” aberto vem de laeta, “alegre”, e significa exatamente isso em nossos dias. Já a outra Leda, nome próprio, vem de um dialeto da Lícia, país da Ásia Menor, onde era lada, “esposa, mulher”. Podem soltar, que não houve qualquer clonagem aqui.

Lustro e Lustre, hein? Ah, estão achando que significam a mesma coisa e que uma das duas não é necessária? Nada disso, as duas são úteis e bem diferentes no sentido. Lustro vem de lustrare, “limpar, dar brilho”. Havia uma cerimônia de purificação que ocorria a cada cinco anos em Roma, na qual se aspergiam as “águas lustrais” e eram feitos sacrifícios e orações. O termo “lustro” acabou se fixando no significado de “período de cinco anos”. Se o seu filho faz dez anos hoje, ele tem já dois lustros de idade.

Lustre, por sua vez, vem do mesmo lustrare, mas com o sentido original de “polir, limpar”. As duas são úteis. Já sabem: nunca dêem lustro nos seus carros ou móveis. Dêem lustre.

– Hum. Massa e Maça. Tampouco aqui se trata de erro de ortografia. Massa era, em Latim, massa, “amontoado, pasta, massa”. E Maça veio de mattea, “porrete, clava, martelo”. Designa uma arma que era muito usada na Antigüidade. E que dá vontade de usar hoje em dia, às vezes. Liberem.

– Ora, Ovular e Uvular. Fiquem tranqüilos, que elas não são perigosas. A primeira vem de ovulum, diminutivo de ovum, “ovo” em Latim. Como adjetivo, significa “referente ao óvulo”. Como verbo, “expelir um óvulo”. Já Uvular vem de uvula, diminutivo de uva, “uva”. Sim, na Roma antiga essa fruta já era pedida aos vendeiros exatamente como nós fazemos agora. É uma palavra que se aplica a formações que lembrem uma pequena uva, como é o caso da nossa úvula, na entrada da faringe. Sem problemas.

Coxo e Cocho, hein? Coxo vem de coxa, “anca” em Latim. Designa o animal que, tendo defeito em membros ou quadril, caminha mancando. E Cocho deriva de cochlear, “colher”. Designa um objeto de madeira feito para conter alimentação de animais. Não há nada contra vocês, rapazes.

Agora entra uma dupla que mais inocente não pode ser: Meio e Ambiente, de braços dados, com muita segurança e até um certo toque de indignação, demonstrando um já longo costume de andar juntos. O Chefe disse, alarmado:

– Mas que barbaridade! Quem foi o incompetente que prendeu Meio Ambiente? Pois esta expressão vive na mídia, até Secretarias e Ministérios existem com esse nome! Desculpe, pessoal, isso não devia… – Foi interrompido por X-8, com um olhar duro que infelizmente se perdeu nas sombras do seu chapéu.

– Um momento, Chefe. O senhor está lidando aqui com duas palavras que, juntas, atentam descaradamente contra o Vernáculo. Não, não se espante assim; poucas são as pessoas que sabem do erro que essas duas representam. Veja bem: ambas querem dizer exatamente a mesma coisa. O senhor seria um Chefe que Chefia, o escrivão aqui seria um Escrivão Escrevente, se esse exemplo começasse a ser seguido. Este é um caso dos mais graves de redundância que giram por aí, na maior impunidade, até com cargos no Governo!

Meio e Ambiente agora estavam encolhidos, demonstrando que sabiam quem estava com a razão. Nem tentaram se defender. O Chefe, espantado, os encaminhou para que fosse feito um Termo de Ajuste oficial que os impedisse de andar juntos.

– Viu só, Chefe, como os criminosos andam entre nós? – disse X-8.

O Chefe, impressionado e contente com a sua escolha de assessor, assentiu.

CONTINUA

EM FUTURA EDIÇÃO…

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