BOMBEIROS [Edição 93]

 

Que susto! Chego para dar a minha inescapável aula na Escolinha Maternal e vejo fumaça no ar e um carro dos bombeiros parado em frente. Animada, digo, alarmada com a possibilidade de que meus aluninhos me deixem em paz, ouço que eles me chamam, do pátio:

– Tia Odete! Tia Odete! Estamos aqui!

Entro e me reúno a eles, que estão vibrando com a confusão, que foi gerada por um pequeno fogo na casa em frente, a esta hora já debelado.

Levo-os para sala de aula e não perco a oportunidade de os acalmar com a origem das palavras concernentes ao fato.

– Bem, caros aluninhos, sobre o que vão querer aprender hoje?

– Bom-bei-ros! Bom-bei-ros!

– Eu já desconfiava disso, não sei por que. Bem, essa palavra vem de bomba, na acepção de “dispositivo para fazer um líquido fluir”. Os equipamentos contra incêndio antigos eram acionados manualmente e se chamavam bombas, de origem imitativa do ruído que fazem ao funcionar.

Como vocês puderam ver, eles usam um uniforme especial para se protegerem adequadamente contra os riscos que correm. Esse termo vem do Latim unus, “um”, mais forma, “aspecto, formato”. Imaginem só se cada bombeiro ou soldado ou marinheiro usasse o que bem entendesse, que caos seria!

– Quer contar algo, Valesquinha? Uma das suas vizinhas gosta de sair à noite de uniformezinho colegial, saiazinha curta, meias brancas… Ora, ela certamente estuda em algum colégio bem exigente e… Ah, ela tem trinta anos? Bem, talvez os estudos dela sejam de outro tipo e fique quieta agora que eu tenho que falar, por exemplo, sobre o capacete que nossos amigos bombeiros usam. O nome dele vem do Espanhol capacete, “peça de proteção para a cabeça”, do Latim capaceum, derivada de capere, “conter”.

Isso é o que um bom capacete faz, contém a cabeça dentro dele. Pena que não inventaram ainda um que contenha as besteiras de certos alunos dentro de suas cabecinhas ocas. Iam ganhar um dinheirão.

Durante o trabalho, eles usam muitas vezes a mangueira, que vem de “manga”, que vem do Latim manica, “parte da roupa que recobre os braços”, de manus, “mão”.

Eu sei, Aninha, que eles estavam meio apressados para dar esse nome e que uma manga de roupa não serve para espalhar água, mas é assim e pronto, não tenho tempo para suas confusões agora.

Tenho que contar que a mangueira muita vezes é colocada num hidrante, aquele cilindro vermelho que fica nas calçadas e que contém uma válvula para a saída de água. Ele deriva do Grego hydor, “água”, pois é com ela que ele trabalha.

Ali está Lary, hoje com uma estranha cara de bem-comportada, perguntando de onde vem escada. Muito bem, esse é outro material que se usa no combate ao fogo, e vem do Latim scalare, “subir”

Muitas vezes ouvimos falar na Escada Magirus, aquela que faz parte de um caminhão e é telescópica. Esse nome vem da companhia alemã que a fabrica, a qual começou a fazer equipamentos contra incêndio em 1866.

Antes que perguntem, desde já aviso que eu nem era nascida ainda quando ele iniciaram.

Sim, Patty, eles usam uma sirene para pedir aos demais veículos que saiam do caminho quando estão numa emergência. Esta vem do Latim sirena, do Grego seiren, “sereia”, nome de certas ninfas aquáticas que emitiam sons muito doces que enlouqueciam os marinheiros e os levavam à destruição. Talvez as sirenes de agora não sejam tão melodiosas como as de antes, mas certamente são ouvidas à distância também.

Outro equipamento que eles usam é o machado. Uns dizem que deriva do Francês hache, do  Frâncico hapja; outros, que vem é do Latim marculatus, derivado de marcus, “martelo”.

Quando ocorre um incêndio, que nem hoje, eles são chamados logo. Essa palavra vem do Latim incendium, “fogo, calamidade, conflagração”, formado por in-, “em”, mais candere, ou seja, “colocar fogo em”.

Eles lutam contra o fogo, que vem do Latim focus, “lareira, local de fazer fogo numa casa”.

Atacam as chamas, do Latim flamma, “chama, labareda”, do Indo-Europeu bhleg-, “brilhar, queimar”. E labareda vem do Basco labe, “chamas”.

Depois deste ficam as brasas, aparentemente de uma palavra germânica brasa, “fogo”.

E depois destas ficam as cinzas, do Latim cinis, “material sobrado de um processo de combustão, cinza”.

É quando o bombeiros se dedicam a fazer o rescaldo, a retirada de material ainda quente, do Latim re-, “de novo”, mais caldus, “quente”.

Estão todos inquietos e assanhados demais, loucos para chegar em casa e contar as novidades. Pois bem, podem ir saindo. Mas façam o favor de não tentar nenhum incêndio em casa.

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