Jogos De Azar Na Aulinha [Edição 54]

– Que horror, Santo Antenor! Que pesadelo, São Serzedelo! Uma contravenção, meu São João!

Cri-an-ças! Dedicando-se aos jogos de azar em plena aula! Volto do recreio e descubro um antro criminoso, um covil de mafiosos aqui! Só faltam o uísque e os charutos!

Não, Valzinha, não quero saber se era um inocente jogo de dados para ver quem tinha mais sorte ou mais azar. É assim que começa a queda para o abismo, em cujo fundo se encontra Satanás com suas hostes, esperando para espetar as crianças viciadinhas com seus tridentes farpados. E não pensem que há TV a cabo para se olhar por lá quando não se está sendo torturado!

Como é? Que nem o seu vizinho, que joga cartas em casa e já perdeu diversas vezes a mulher para outros? Não, não quero nem saber, vamos passar para outro assunto mais ameno, como imaginar vocês passando a Eternidade no inferno.

Deem aqui esse material, está apreendido. E desde já fiquem sabendo que dado vem do Latim donare, “dar”. Exatamente por que nunca pude entender.

E cartas é do Latim charta, “folha de papel” material em que são impressos esses verdadeiros convites do Demônio.

Já a palavra jogo vem do Latim jocus, “pilhéria, gracejo, zombaria”. O que eles usavam para designar o que agora conhecemos como jogo era ludus, mas esta foi dominada pela outra.

Agora ela trabalha fazendo parte de palavras mais cultas, como “lúdico”. Inclusive surgiu a moda de se usar a detestável pseudo-palavra brinquedoteca, para designar um local onde há jogos e brinquedos à disposição dos interessados; invenção de gente ignorante que não sabe que se deve dizer ludoteca, de ludus mais o Grego theke, “caixa, lugar para guardar algo”.

Quando eu vejo essa horrível palavra, saio correndo atrás com o chinelo na mão e a esmago como se fosse uma barata.

Quanto a saber se alguém tem sorte, é uma grande bobagem. Esta não passa de uma coincidência que favorece a pessoa.

O que me traz à mente a afirmação de Mark Twain, para quem “Coincidência é a única explicação que um trouxa encontra para a coincidência”.

Colho a ocasião para dizer que sorte vem do Latim sors, “parte, porção, o que cabe a cada um”. Ela apresentou uma evolução, em vários idiomas, no sentido exclusivo de “boa sorte, fortuna”.

Mas não pensem que esta pode ser adquirida apostando na loteria; esta, que deriva do Inglês arcaico hlot, “objeto usado para fazer uma escolha, para tirar a sorte”; não vale a pena para ganhar dinheiro, não.

O hlot podia ser uma varinha, uma pedra, qualquer coisa que pudesse ser colocada num recipiente e retirada às cegas pelos participantes.

E o azar vem do Árabe sahr, “flor”, pois uma das faces dos dados árabes tinha o desenho de uma florzinha. Em Espanhol, essa palavra tem uma conotação diferente da nossa; quer dizer “acaso”, sem definir se é bom ou mau.

Falando nisso, acaso vem do Latim a casu, “por acaso”, onde casu quer dizer “possibilidade, acontecimento” e deriva de cadere, “cair”. Não é uma noção interessante, a de comparar o acaso a algo que “cai” na nossa frente?

Agora, a fortuna vem do Latim fortuna, “boa sorte”, de fors, “possibilidade, força”. Inicialmente queria dizer apenas “boa sorte”, mas acabou ficando mais com o significado de “riqueza”.

Muitas vezes ela era personificada como uma deusa, em Roma; daí a frase “a fortuna lhe sorriu”. Mas não se esqueçam de que esta gosta mesmo de sorrir é para quem estuda e trabalha bastante.

Claro que ela faz exceções, como no caso de certas pobres professoras que trabalham que nem umas mouras e que da cor do dinheiro veem muito pouco, mal dá para comprar o Nervocalm de que ela precisa para não ter ataques em plena rua.

E agora vão para suas casas. Lá podem jogar até roleta, mas aqui é sem jogos.

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