COLETIVOS [Edição 71]

 

Cri-an-ças! Me-ni-nos! Me-ni-nas! Parem
esta estapafúrdia balbúrdia, esta desordem, este pandemônio, confusão,
rebuliço, perturbação da ordem e quejandos! Com este comportamento inumano, vocês lembram um bando de…  não, não vou
ofender as outras criaturinhas da Natureza.

Mas isso me deu uma ideia. Larguem uns aos outros e se acomodem, que a Tia Odete vai falar sobre coletivos de animais

Por que? Nada, não, foi apenas a inspiração do momento que me levou a falar sobre essas palavrinhas que servem para nomear os animaizinhos quando estão em conjunto.

Por exemplo, quando a gente vê um bando só de bois, se lembra de que aquilo
é uma boiada, que veio de boi, do Latim bovis, “boi”, do Grego bous, “boi”.

Quando há vacas misturadas com os bois, dizemos que se trata de uma manada, uma palavra da ampla família do Latim manus, “mão”. Parece que ela se origina de manata, querendo dizer também “punhado, quantidade”, o que se aplicou depois
basicamente ao gado bovino. Ou, metaforicamente, a um grupo de seres humanos em extraordinária desordem, nada a ver com vocês, claro.

Se o conjunto que se vê é de camelos ou dromedários, visão bastante rara em nosso
país, é uma cáfila, do Árabe qâfila, “caravana”.

E se há um bando de lobos correndo atrás dos camelos para convidá-los para participarem de um jantar, dizemos que vimos uma alcateia, também do Árabe.

Parem de gritar! Já entendi! Vocês estão muito espertinhos hoje, percebendo que onde há camelos não costumam existir lobos e portanto estes não podem perseguir
aqueles. Eu estava falando apenas metaforicamente, não fiquem nervosos; essa
palavra vem de al-qâtih, outra forma de dizer “manada, conjunto de animais”.

E não me perguntem como é que ela foi ser aplicada em regiões onde há lobos.

Num lindo dia de primavera, vocês podem ver no parque uns bichinhos voando, lindas abelhas listradas, que tomara que venham dar uma picada na ponta do nariz decada um… Não, não berrem, eu me enganei, quis dizer que queria que elas lhes
trouxessem o pólen das flores! Foi um erro de revisão apenas, não um ato falho.

Pois elas, quando unidas, constituem um enxame,
do Latim examen, “enxame” mesmo. Sim, Aninha? Hum mais uma que está espertinha hoje. Parem de debochar, ela está certa.

Ela acaba de perguntar o que é que essa palavra tem que ver com exame. Pois tem tudo, elas vêm exatamente da mesma fonte, o Latim examen, que tanto queria dizer “grupo de abelhas” como “análise, estudo, investigação”; inicialmente este
sentido foi outro, o de “balança”.

Já explico, Zorzinho. É que o início da palavra foi a raiz exag-, a mesma de exigere,
o nosso exigir, e que queria dizer “examinar, retirar algo, inquirir”. Com uma balança se examina o peso de alguma coisa. Já com um enxame, sou obrigada a confessar para vocês que não sei o que se consegue além de mel e picadas.

Ou seja, não sei de onde os romanos tiraram essa comparação.

Olhando ainda para o céu, podemos ver uma revoada de pássaros, que evidentemente vem de voar, coisa que a maioria tem o hábito de fazer, do Latim volare, “voar”.

Antes que me esqueça, já que estamos falando em coletivos, esta vem do Latim collectivus, de collectus, particípio passado de colligere, “reunir junto”, formado por com, “junto”, mais legere, “juntar, reunir”.

Podemos lembrar também grupo, do Germânico kruppaz, “massa, aglomerado”.

E temos a ninhada, que serve tanto para aves como para mamíferos menores, de ninho,que veio do Latim nidus, “ninho” mesmo. Como?…

Sei, Aninha, se sua gata teve uma ninhada, é injusto não permitir que vacas ou
baleias ou hipopótamas tenham as suas. Mas é assim e acabou, a linguagem tem lá
as suas manias. Eta menina que vai ter trabalho na vida se continuar assim!

E, já que estamos falando mais genericamente, cabe aqui lembrar a palavrinha fauna, vinda do nome da que teria sido a esposa do deus Fauno, que protegia a fertilidade da terra e dos rebanhos.  Seu nome, de etimologia incerta, agora é usado
para englobar o conjunto dos anmais de uma região ou época.

E, como estamos falando nisso, quero saber quem me diz qual é o coletivo de
“gato”. Quem souber vai ganhar um dos famosos bolos que eu faço.

Quem se habilita?

Não, Valzinha, não é “gatume”. Nem “gatilha”.

Não, Lary, tampouco é “gatáfila”.

Ora,crianças, esse simpático animalzinho simplesmente não tem coletivo! Ele é um
animal de hábitos solitários, um caçador que prefere se virar sozinho e que não
forma bandos. Daí não existir um coletivo para ele.

Bem, agora vão para casa e pensem nos mistérios insondáveis da natureza e no cansaço que vocês dão à sua pobre professora.

 

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