CONFEITARIA [Edição 83]
Logo que entrei para a Faculdade, meu avô me levou para lanchar numa confeitaria chique para uma comemoração.
– Sai mais barato que uma janta – disse ele, sempre querendo passar por ranzinza.
Mas eu conhecia aqueles olhos que nunca tinham me mentido e respondi:
– Está bem, Vô, se o seu dinheiro não der para pagar a conta, eu o deixo lavando a louça e vou embora.
– Nesse caso vou fingir que sou um idoso doente explorado pelo seu único neto. Provavelmente vão linchá-lo.
– Melhor então é a gente fazer o pedido – eu quero uma fatia daquela torta ali, ó, a mais cara de todas – e deixar isso para lá.
– Você acaba de dar um grande passo, hoje nada é demais para você.
– Obrigado, Vô, mas colho a ocasião de lhe perguntar de onde veio o nome deste tipo de estabelecimento.
– Confeitaria deriva do Italiano confitto, “docinho”, do Latim confectum, “feito, fabricado”, de com, “junto”, mais o particípio passado do verbo facere, “fazer”. Um confeito é algo como um grão, como o amendoim, ou um pequeno glóbulo de doce revestido com uma camada também doce. O estabelecimento que vendia essas iguarias, além de outras coisas, levou esse nome.
– E os confetes?
– Parece que eles começaram como pequenos doces que eram atirados pelas pessoas em certas festas. Depois, para baratear e para fazer menos meleca no chão, passaram a ser bolinhas coloridas de gesso e mais tarde de papel.
– Falando em lugar onde a gente mata a fome, e o que o senhor me diz de restaurante?
– Esse vem do Latim restaurare, “renovar, reparar”, de re-, “de novo”, mais staurare, “estabelecer”. Isso porque se tratava de um lugar onde as pessoas restauravam as forças durante as longas jornadas das viagens de antigamente.
– O senhor fazia muitas dessas?
– Fiz bastante e ainda me ficaram forças para puxar as orelhas de certos espertinhos. Mas não me distraia, que estou me lembrando de um sinônimo de restaurante, usado pelos nossos primos de Portugal: Casa de Pasto.
E não venha com gracinhas; você provavelmente não sabe que em nosso idioma pasto, do Latim pastus, tem o significado de “comida em geral”. Não se refere unicamente aos vegetais que alimentam o gado, não.
– E as lancherias?
– Essas vêm do Inglês lunch, “almoço, refeição leve”. E essa palavra é um encurtamento de luncheon, que veio do arcaico nonechenche, “comida do meio-dia”, de none, “meio-dia”, mais schench, “beber”. Claro que com o tempo, essa refeição já se modificou.
– Também se pode fazer uma comidinha rápida numa padaria.
– Sim, muitas vezes a diferença entre elas é só o fabrico local de pão. Padaria, claro, vem de pão, que veio do Latim panis, “pão”. Parece que uma forma anterior era pasnis, que alguns etimologistas associam a pascere, “apascentar, alimentar os animais da criação”, ligada ao mesmo pastus de que falamos há pouco.
– Também se pode fazer um lanche num bistrô, não?
– Sim, e há uma história de que esse nome viria de uma palavra russa que os cossacos em Paris usavam quando queriam comer e estavam com pressa, bystro, que queria dizer “rapidamente”.
– Ué, os cossacos não são da Rússia? O que é que estavam fazendo em Paris, turismo?
– Em 1814, estavam muito ocupados invadindo a cidade, já que Napoleão havia tentado invadir Moscou pouco antes.
– Eu nunca tinha ouvido falar nisso.
– Pois aproveite que agora você sabe ler e vá estudar o assunto. Não lhe fará mal nenhum aprender.
– Então, quando a gente come num bistrô, é por causa do idioma russo…
– Não. Os estudiosos do assunto chegaram à conclusão de que isso é pura lenda. A origem da palavra parece ser o Francês bistrouille, o nome dado à mistura de líquidos, como café com alguma bebida alcoólica.
– Ficou menos romântico assim. Mas e o que o senhor me diz de bar?
– Ah, esse vem do Inglês bar e se usa no sentido de “estabelecimento para venda e consumo de bebidas” desde 1592.
Originalmente (e ainda conserva o uso em Inglês), designava “tranca de porta”, do Latim barra, “barra, barreira, obstáculo”.
– E todos eles têm que ter uma tranca na porta?
– A comparação é com o balcão do bar, que funcionalmente é como uma tranca, já que evita que os clientes se sirvam por conta própria.
– Vivendo e aprendendo, Vô…
– Principalmente se eu estou por perto. E já que falamos nisso, lembrei-me da palavra taberna, com o significado original de “casa de tábuas, cabana”, e que veio do Latim taberna, “barraca, tenda”.
E também temos a távola, do Italiano tavola, “mesa”, do Latim tabula, “mesa, tabuleiro, tábua”.
– E as pizzarias?
– Claro que vêm do Italiano pizza, possivelmente do Grego medieval petta, “torta, bolo”. Mas não há certeza.
– E se a gente quer incomodar os amigos vegetarianos citando o nome de uma churrascaria?
– Consta que churrasco vem do Espanhol socarrar, “queimar, tostar”. O que é justamente, diz quem é expert, o que não deve ocorrer com ele.
Enfim, pelo que vejo, o meu acadêmico neto encheu a barriga enquanto eu falava sem parar. Mas não vou reclamar, não, que você fez por merecer. Vamos pedir mais?