Criminosos [Edição 27]
Todos os dias encontramos notícias que nos informam sobre processos investigativos que levam à prisão dos criminosos. Infelizmente, os grandes, aqueles que prejudicam um povo inteiro, têm mecanismos que os resguardam de maiores sanções.
Há todo um universo de palavras para veicular as ações envolvidas nesses procedimentos. Vamos agora esmiuçar umas poucas.
DESCONFIANÇA – muitas vezes uma investigação começa com base nesta. Tal palavra vem de “des-“, indicando “inverso, para trás”, mais o Latim confidere, “confiar”, formado por com-, intensificativo, mais fidere, “acreditar, ter fé”, de fes, “fé”.
Logo, quando deixamos de ter fé em alguém ou numa instituição, é hora de avaliar para ver se temos razão ou não.
SUSPEITAR – vem do Latim suspicere, “suspeitar, desconfiar”, formado por sub-, “de baixo”, mais specere, “olhar”. Significava “olhar disfarçadamente”, portanto, “desconfiando”, “não acreditando”.
CHEIRAR MAL – é uma expressão que diz tudo. Se se tentar ocultar um cadáver, ele vai espalhar o cheiro da decomposição e atrair até ele outras pessoas.
O cheiro não precisa ter bases químicas, como neste caso. Pode-se tratar, por exemplo, de uma capacidade financeira incompatível com os ganhos declarados de uma pessoa.
COM A BOCA NA BOTIJA – muitas vezes, em épocas antigas, os patrões tinham problemas com os criados beberrões que não resistiam a dar uma provadinha no estoque de bebidas. Os senhores podiam descobrir o criado praticando respiração boca-a-boca na botija, um recipiente para bebidas cujo nome vem do Latim butticula, diminutivo de buttis, “odre, vaso”.
Equivale a um flagrante definitivo.
Falando nisso, em Inglês há expressões muito interessantes para tal, como RED-HANDED, “com as mãos vermelhas”. Descreve uma pessoa que foi encontrada com as mãos ainda manchadas pelo crime que acabou de cometer.
Eles também podem dizer, passando da arma branca para a de fogo, que o criminoso foi descoberto com o SMOKING GUN, “com a arma fumegante”, isto é, visivelmente ligado aos meios de cometer o crime.
ACUSAR – uma pessoa pode ser acusada de uma desobediência à lei. Essa palavra vem do Latim accusare, “chamar a juízo”, formada por ad-, “contra”, mais causari, “apontar como causa, como motivo”, de causa, “razão, motivo, causa”.
PROVA – se apenas acusar bastasse para uma pessoa ser processada, o mundo estaria numa confusão tremenda. Para que se chegue à conclusão de culpa, é necessário provar as más ações do possível criminoso.
A legislação o considera inocente até que se prove o oposto. Felizmente estamos longe do Código Napoleônico, um conjunto de leis no qual o acusado era culpado de saída e a ele cabia provar a inocência.
Provar vem do Latim probare, “testar, demonstrar ser de valor”, de probus, “valoroso, bom, virtuoso”, que vem do Indo-Europeu pro-bhwuo-, “estar à frente”.
FLAGRANTE – ser apanhado assim pode ser a maior de todas as provas. Vem do Latim flagrans, “o que queima, ardente”, do verbo flagrare, “queimar”, da raiz Indo-Européia bhleg-, “queimar”.
Passou a ser usado a partir de 1706 com o sentido atual a partir da expressão jurídica in flagrante delicto, “com o crime ainda ardendo, ainda quente, recém-terminado”.
EXAME – para ser produzida prova, são necessárias muitas vezes procedimentos que chamamos de exame, como testar sangue, fibras presentes, armas disparadas, etc.
Essa palavra vem do Latim examen, “meio de testar”, de exigere, “pesar acuradamente”, literalmente “levar ou guiar para fora”, formado por ex-, “fora”, mais agere, “guiar, agir, levar”. O sentido figurado era “exigir, completar, inteirar”.
PESQUISA – compreende a reunião de informações e resultados de exames. Vem do Latim perquirere, “buscar com afinco”, de per-, intensificativo, mais quaerere, “indagar”, de quaestio, “busca, procura, problema”.
DETETIVE – geralmente imaginamos o agente da lei como um sujeito com capa de gabardine que anda atrás de provas.
A realidade é outra, mas podemos aproveitar para dizer que esta palavra vem do Latim detectare, “descobrir, destapar”, formado por de-, “fora”, mais tegere, “cobrir com algo”. Ele é a pessoa que “destapa, descobre” o que estava oculto pela conduta do criminoso.
A palavra em Inglês detective é um encurtamento da expressão detective police, “polícia investigativa”.
Falando nisso, convém esclarecer que Sherlock, palavra em uso desde 1903 e muitas vezes aplicada a um investigador como se fosse um sinônimo, é simplesmente um nome próprio inglês e quer dizer “de cabelo claro”. Vem do Inglês Arcaico scir, “claro”, mais locc, “mecha de cabelo”.
O autor das histórias em que Sherlock Holmes era um detetive de extraordinária eficiência, Sir Arthur Conan Doyle, colocou nele esse nome tal como poderia ter posto “John”, “James” ou “Archibald”.
INOCÊNCIA – é o que se presume se as provas não convencem a lei. Vem do Latim innocens, “que não causa dano ou mal”, formado por in-, negativo, mais nocens, “causador de dano”, do verbo nocere, “trazer dano”.
Em alguns países de língua espanhola, inocente se aplica como designativo às crianças pequenas.
CULPA – mas se a conclusão é outra… Esta palavra vem do Latim culpa, “crime, falta”.
Aproveitando, crime vem do Latim crimen, “lesão, acusação”, do verbo cernere, “peneirar, escolher”.
Provada a culpa, seguem-se as conseqüências.
SANÇÃO – não é aquele personagem da Biblia que derrubou o templo, não. Vem do Latim sanctio, “ato de de ordenar ou decretar”, do verbo sancire, “tornar sagrado, confirmar, decretar”, de sanctus, “sagrado”.
E este nome deriva de uma divindade romana, Sancus, em cujo nome eram feitos os juramentos.
PRISÃO – este lugar para onde quase nunca vão aqueles que nós sabemos que merecem tem o seu nome derivado do verbo latino prehendere, “prender, agarrar”. E ele se forma de prae-, “à frente”, mais hendere, derivado de hedera, “hera”, da noção de como essa planta se agarra aos muros para crescer. Talvez, algum dia, possamos ver lá todos os que deveriam estar presos.
Mas vai custar.