Estabelecimentos [Edição 46]
Santa Marmota, eu sou uma idiota. São Xavier, pareço uma burra qualquer. Santa Graça, não há besteira que eu não faça. Santa Cunegunda, mereço um pontapé na – nas canelas.
Pois não é que, dentre tantas outras professoras em minha escolinha, fui eu justamente a escolhida para liderar um passeio com estes demoninhos pelo bairro e não tive forças para evitar tamanha provação.
Agora eis-me aqui, com este bando de hunos mas sem ter os poderes de Gêngis Cã para os controlar. Ah, um bom chicote longo…
Como, Ledinha? Não, nada, Tia Odete está apenas falando sozinha um pouco, é para preparar a garganta para ir contando para vocês a origem dos nomes de alguns estabelecimentos comerciais que a gente vai ver neste passeiozinho.
Olhem ali, um restaurante. Esse nomezinho dizem que foi usado inicialmente em Paris, em 1765, e vem do Latim restaurare, “renovar, reparar”, de re-, “de novo”, mais staurare, “estabelecer”. Foi usado porque se tratava de um lugar onde as pessoas restauravam as forças durante a jornada.
Isso lá eles, porque certas pessoinhas que eu conheço nunca perdem suas forças destruidoras, estão sempre em ação.
E do outro lado da rua, olhem o cartaz: açougue. Isso vem lá dos Árabes quando dominaram a Península Ibérica, que diziam as-suq para “feira, mercado, lugar de comércio de alimentos”.
Não, Valzinha, não queremos saber como é que a sua tia-avó fazia para ter sempre carne em casa sem pagar nada, isso não é Etimologia. Não, nem mesmo o apelido que o seu tio-avô ganhou por isso.
Olhem que gracinha, o Zorzinho aqui com seus cadernos pateticamente recobertos de rabiscos me apontando o cartaz ao lado: mercearia. Esse nome vem do Latim merx, “mercadoria, algo posto à venda”.
Sim, Aninha, muito bem: mercado vem daí também. Certo, mercante, mercantil, também, você é muito esperta.
Ai.. não, não, pare com esse rolo! Mercúrio e mercerizado não têm nada que ver. Fique caladinha um pouco, respire fundo e controle-se.
Arturzinho apontou bem, com seu infalível interesse por comida: temos aqui uma padaria. Ela vende principalmente pão, que vem do Latim panis, “pão”.
Aliás, aprendam que a palavra companheiro vem daí: em Roma, dizia-se companio, de cum panis, aquele com quem se repartia o pão.
Aliás, sejam companheiros do Sidneizinho e ajudem-no a descer daquele poste ali antes que ele toque num fio de alta tensão. Mas não se apressem muito, não.
Para a Aidinha, a única aluninha que já vi usar tênis de salto alto cor-de-rosa com strass e pingentes roxos, temos ali uma sapataria. Claro que esse nome vem de sapato, que vem do Espanhol zapato, de origem incerta.
Sim, Valzinha? Falando em sapato, sua mãe diz que a vizinha do lado… Pare aí, não podemos ouvir sua interessante história porque precisamos aprender que a farmácia ali adiante deve seu nome ao Grego pharmakon, “droga, veneno, poção, filtro, encantamento”. Na Antigüidade se usava muito envenenar as pessoas com líquidos que eram preparados com diversas misturas. Ah, outras épocas…
Não, Mariazinha, eu não cheguei a ver isso, já disse que nasci um pouco depois.
Venham cá, não atravessem a rua ainda. Esperem que venha um ônibus a toda velocidade.
Como, crianças? Não, não, ouviram mal! Eu disse: cuidado com os ônibus que passam a toda velocidade.
Agora que cruzamos, estamos em frente à livraria. Eles vendem livros, palavra que vem do Latim liber, “livro”, originalmente “parte interna da casca das árvores”, material de onde eram feitas as folhas para escrita.
Certo, Aninha, o supermercado ali vem de mercado, que vem de merx, mas o super não quer dizer que foi feito pelo Super-Homem nem que pertence a ele. Essa palavra, em Latim, queria dizer “sobre, além”. Ou seja, é um mercado que vai além dos antigos.
O surgimento deles foi prejudicial para ao armazéns, que antes existiam em cada esquina, e cujo nome vem do Árabe al-mahazan, inicialmente “depósito de armas” e depois “depósito de víveres, entreposto”.
E ao lado dele temos um bar, cujo nome vem do Inglês bar, devido ao balcão onde são servidas suas mercadorias, e que vem do Latim barra, “barreira”.
E agora acabamos de completar a volta à quadra de nosso coleginho e vamos entrar logo que eu preciso agradecer aos céus por estar ainda viva.