Insetos Na Aula [Edição 32]
Cri-an-ças! Mas que gritaria é essa? Logo agora que eu ia falar em Pitágoras, essas meninas ali começam a berrar como se Satanás estivesse no meio delas abanando o rabo e os chifres! O que é que houve?
Hein? Uma abelha entrou voando e pousou no cabelo da Patty, ora vejam! E isso é razão para tamanho escândalo? Olhem, ela se assustou e já está saindo pela janela. A abelha, não a Patty, Ledinha!
O que não quer dizer nada, já que agora todos aqui estão agitados. Então tá, olhem para os desenhinhos que a Tia Odete vai fazer para vocês aqui no quadro e vamos aproveitar para saber de onde vêm alguns nomes de insetos.
Para começar, obviamente, a abelha, cujo nomezinho vem do Latim apicula, diminutivo de apis, abelha.
E o senhor marido da abelha, quem sabe o nome dele? Não, Deli, não é “abelho”, não. Ele se chama zangão. Essa é uma palavra o-no-ma-to-pai-ca, o que quer dizer que ela foi feita para imitar um som. No caso, o zzzzumbido deste inseto durante o vôo formou a sílaba “zang-“, que também é usada para formar o verbo zangar, já que este inseto não costuma ser muito bem-humorado.
As abelhas dão o mel, as borboletas colorem nossas primaveras como se fossem flores que voam. Mas, infelizmente, não há certeza completa sobre a origem do nome delas. Dizem que ele vem do Latim papilio, que era como os romanos a chamavam.
Sim, Valzinha? Ah, mariposa vem do Espanhol mariposa, da expressão Mari, posa! ou seja, “Maria, pousa!”. Esse Mari é um encurtamento de “Maria”. Parece que a origem é uma brincadeira infantil.
Por que você perguntou isso, Val? Não entendi bem, houve uma invasão delas num apartamento vizinho ao seu? Ahn… Sua mãe diz que as filhas da vizinha são umas mariposas, é isso? Ora, decerto alguma vez elas saíram no Carnaval infantil fantasiadas com asinhas e anteninhas e…
Ah, não são mais crianças e saem tarde da noite, de saia bem curta e decote bem grande e salto bem alto e muita pintura – tá bem, isso não quer dizer nada, houve alguma confusão entomológica e vamos falar noutra coisa.
Por exemplo, naquela mosca que está pousada no nariz do Soneca, que não percebe porque está sesteando. Essa palavra vem do Latim musca, “mosca”, do Indo-Europeu mu-, imitativo do zumbido das suas asas em vôo. Certo, Robertinho, esse som se imita fazendo “zzz”. Mas, se você fizer o som de “mmm” também ficará parecido. E depois, talvez o som fosse meio diferente há uns cinco mil anos.
Falando nela, desde já informo que o mosquito teve seu nome originado daí; ele veio do Espanhol mosquito, diminutivo de mosca.
Pare de se coçar, Sidneizinho. Está com pulga? Antes que vocês perguntem, este nome vem do Latim vulgar pulica, do Latim clássico pulex, “pulga”.
Olhem, o Zorzinho parou de escrever para perguntar de onde vem piolho. Vem do Latim pediculus, diminutivo de pedis, “piolho”.
E a laboriosa formiga? Vem do Latim formica, “formiga” mesmo. Muito bem, Robertinho, tem mesmo a ver com “fórmica”, aquele revestimento para móveis.
Você chutou para se fazer de engraçadinho mas acertou. Esta marca registrada foi feita usando-se a primeira sílaba de “formol”, uma substância química usada para a produção desses laminados. E o nome desta substância vem de “fórmico”, o nome de um ácido que este inseto produz.
Esses nomes vêm de um outro idioma, mas o do vaga-lume se formou dentro do Português mesmo.
Consta que inicialmente, em vez de “V”, se escrevia com “C”, já que ele leva a luz (lume) na traseira. Por pudor, o verbo que inicia a palavra teria sido trocado pelo verbo “vagar”, isto é, “andar sem rumo”.
Eu sei perfeitamente que vocês nunca mais vão se esquecer dessa. Qualquer coisa remotamente suja gruda de imediato nessas suas cabecinhas.
Falando em nomes formados dessa maneira, temos também o louva-a-deus. Não se esqueçam dos tracinhos entre as palavras, pois senão estarão usando uma expressão e não o nome dos insetos.
Este bicho se coloca com jeito muito humilde, quietinho, com as patinhas erguidas como em prece e de repente, -zás! – lança as garras contra a presa, que acreditou nele e se aproximou para ver melhor esse exemplo de religiosidade, talvez até para rezar junto.
Já existe quem queira mudar o seu nome para “bicho-político”, mas não sei se vai colar.
Como, Sheila? Ah, traça vem de “traçar”, num significado antigo de “partir em pedaços”. Esses bichinhos são perigosos porque roem roupas e livros.
Se podem ficar muito cultos de tanto roer livros? É difícil, mas não dá para duvidar de mais nada nestas épocas de engenharia genética.
O que foi que você disse, Joãozinho? Ah, cupim. Esse nome vem do Tupi kupi′i, que era o nome dado a esses roedores de madeira.
Nãão, Ledinha, eles não roíam os móveis dos índios porque estes não tinham móveis. Esses bichinhos, quando estão na floresta, roem árvores mesmo. Fazem o serviço na fonte.
Agora me lembrei do besouro, que deriva do Espanhol abejorro, um aumentativo de abeja, “abelha”. E este, por sua vez, veio do Latim apis, tal como em Português.
Vejam, então, crianças, que besouro veio de apis, sendo que atualmente não tem mais semelhança com a palavra original. São coisas da Etimologia!
Sim, Valzinha? Aranha vem do Latim aranea; inicialmente designava a teia dela, mas depois se aplicou ao animalzinho em si. Vem do Grego arakne, possivelmente de uma fonte Indo-Européia arak-, “tecer”. Mas preste atenção: isto não é um inseto. Os insetos são hexápodos, ou seja, têm seis patas, do Grego hexa-, “seis”, mais pous, “pé, pata”.
As aranhas têm oito – podem contar quando encontrarem uma, mas de preferência de longe. Pertencem a um grupo chamado aracnídeos.
Tá bom, eu sei que eles parecem insetos, mas essas duas patas fazem a diferença e… Como, Val? Se as aranhas brigam muito? Não diria isso, por que você pergunta? Ah, agora são as suas vizinhas de outro apartamento que o pessoal diz que…
Oh, olhem lá fora depressa, crianças, acaba de passar uma linda libélula, apressada para pegar sua comidinha. O nome dela vem do Latim libella, diminutivo de libra, “balança”, pois ela parece se balançar no ar durante o vôo. Existe em nosso idioma o verbo librar, que significa “sustentar-se no ar, colocar em equilíbrio”.
Esse bicho tão acrobático tem uma fase larvar subaquática, quando é completamente diferente e se chama náiade. Este nome vem do Grego náias, um ninfa que vivia nas correntes cristalinas da antigüidade, quando em qualquer passeio na floresta a gente podia encontrar uma divindade.
A sua pergunta sobre as aranhas, Valzinha? Ora, ora, acaba de soar o sinal; a aulinha terminou e eu ganho muito pouco para ensinar em aula, que dirá depois. Fica para outra vez!