Veículos 2 [Edição 41]
Eu estava conversando com meu avô em seu gabinete forrado de livros, quando ele recebeu um telefonema de seu mecânico. Depois que encerraram, ele se voltou para mim:
– Da outra vez eu lhe falei sobre as origens dos nomes de veículos, lembra-se?
– Sim, e eu me lembrei disso enquanto o senhor falava com o Carlos, o seu mecânico.
– Pois vamos ver alguma coisa mais sobre o assunto. Lembro-me de ter citado veículos terrestres e aquáticos, puxados a cavalo e a motor… Já sei. Não falei na bicicleta, aquela em que você levou tão reverendos tombos. Essa palavra vem do Latim bi-, “dois”, mais o Grego kyklos, “redondo, circular”, já que tem duas rodas.
– Ahá, Vô, o senhor agora vai me convencer que gregos e romanos tinham bicicletas? E que iam à guerra montados nelas, gládio na mão e gritando?
– Pare com esse desenrolar de história, que você parece a sua avó quando resolve inventar coisas. Essa é uma palavra que foi criada em 1868 para nomear o veículo, que já existia então mas era chamado de velocípede. Muitas palavras que vêm de idiomas mais antigos foram criadas para designar algo que não existia antes.
– E triciclo vem de tri, “três”, mais esse kyklos aí?
– Puxa, este meu neto me surpreende! É bem mais esperto do que parece…
– Ah, tá… E o patinete que ganhei quando entrei no colégio?
– Vem de patim, que veio do Francês patin, o nome de um calçado de base larga ao qual se podia acrescentar uma lâmina para poder deslizar no gelo. E esse nome veio de patte, “pata”.
Mas, saindo um pouco do plano, podemos falar em balões, o modo mais antigo de fazer uma viagem aérea. O nome deles veio do Italiano pallone, aumentativo de palla, “bola”, já que o formato dos primeiros era esférico.
– E o planador?
– Veio de planar, que veio do Latim planus, “liso, sem relevo, achatado”. Para poder deslizar razoavelmente pelo ar, um objeto deve ser aparentemente plano.
– E quem fala nisso, se lembra de…
– Avião!
– Impressionante como anda esperto o meu neto! Deve ser algum gen meu nessa sua cabeça. Pois é, avião. Tal palavra vem do Francês avion, derivado do Latim avis “ave, pássaro”, já que a idéia é que ambos voem.
Outra coisa que anda pelo ar é o helicóptero. Deriva do Grego helix, “espiral”, mais pteron, “asa”, pois na verdade esse veículo se vale de uma asa que descreve um movimento em espiral no ar.
– Outra coisa que sobe é o elevador, Vô. Qual a origem?
– De elevar, naturalmente, do Latim elevare, “erguer”, formado por ex-, “fora”, mais levare, “tornar leve, fazer subir”, de levis, “leve, de pouco peso”.
– Falando em peso, Vô, e o tanque de guerra?
– Esse nome é interessante. Esse veículo desenhado para ultrapassar trincheiras recebeu esse nome – tank – dos ingleses em 1915, como um disfarce.
Era para os planos deles, se descobertos pelo inimigo, fazerem pensar que se tratava de uma espécie de trator para transportar água para o front. Tank deriva de uma palavra que veio da Índia trazida pelos portugueses, tankh, “reservatório de água, cisterna”.
– Legal, Vô! Mas e o trator?
– Essa palavra vem do Latim tractor, “aquele que puxa”, do verbo trahere, “puxar, arrastar”. Passou a se aplicar a esse tipo de veículo de trabalho em 1901.
Mas a palavra já se usava antes para um aparelho com duas rodas metálicas, uma charlatanice para curar reumatismo de 1798. Veja só que essas espertezas não são próprias apenas de nossa época.
E agora vamos descansar, que ninguém é de ferro.