Significado de “ano” ou “anno”
No caso, em Lucianno.
Graças a todos.
Resposta:
Trata-se do sufixo latino ANUS/ANA/ANUM, formando nomes derivados de lugares ou de pessoas.
No caso, em Lucianno.
Graças a todos.
Trata-se do sufixo latino ANUS/ANA/ANUM, formando nomes derivados de lugares ou de pessoas.
Spinozista, spinozismo, spinozano
Qual a origem, o significado e o porquê (se existir um) da diferença entre “ista”, “ismo” e “ano” das palavras acima? Grato.
1) Do sufixo grego -ISTES, para designar o adepto de uma ideologia ou praticante de uma atividade.
2) Do G. -ISMÓS, “intoxicação por uma substância” ou “movimento ideológico”.
3) Do sufixo latino -ANUS, de muito uso: em adjetivos; em toponímicos ou gentílicos; em derivados de antropônimos (é o seu caso aqui); em substâncias qímicas.
Meu avô limpava os livros de sua biblioteca quando me ocorreu a pergunta:
– Quem foi que inventou o tempo?
Ele apenas me olhou com ar interrogativo. Eu sabia que isso queria dizer “explique-se melhor, que isso está vago demais”.
– É, Vô, o tempo que passa nos relógios, não o tempo das nuvens e do calor e do vento. Quem foi que se deu conta que ele existia?
– Ah, agora sim. Devo dizer que sua pergunta é extremamente profunda, muito mais do que se poderia esperar, apesar de você ser um cabeça-oca.
Não dá para responder a ela, pois os físicos ainda estão discutindo o assunto e alguns até mesmo dizem que ele não existe.
Mas nós aqui podemos lidar com as palavras que o ser humano usa para lidar com uma coisa tão familiar e tão difícil de definir.
Ajeitei-me no velho banco de couro macio enquanto ele largava o pano de limpeza e se sentava na poltrona.
– Podemos começar com tempo mesmo. Ela veio do Latim tempus, “tempo, estação do ano”.
Podemos seguir com a palavra que designa uma parte do presente, hoje. Esta deriva do Latim hodie, de hoc die, “este dia”. Bem claro, não?
– Ah, que legal. E ontem, era “o dia que passou”?
– Essas tentativas em Etimologia quase sempre saem mal. Mas você não passou longe em seu chute. Essa palavra veio de ad noctem, “na noite”, significando “na noite passada”.
Antes que você pergunte, já vou dizer que amanhã vem de ad maneana, de hora maneana, “momento ou hora inicial do dia”.
– Eu me lembro da D. Alaídes dizendo “treisontonte”, que eu achava que se referia a uma data, mas nunca entendi.
– Ah, ela não tinha muita educação formal, mas lá se expressava. Isso é porque existe a palavra anteontem, de “antes” mais “ontem”. E o dia anterior a este é trasanteontem, que na linguagem popular, decerto influenciado por “três”, virou o que ela disse.
Podemos falar no presente, que vem do Latim praesens, “imediato, à disposição, presente”, de praeesse, “estar à mão, estar à frente”, de prae, “antes, à frente”, mais esse, “ser, estar”.
E no passado, que vem do Latim passare, “passar”, de passus, “passo”. É uma analogia que se fez entre o tempo e uma caminhada.
O caminho que percorremos está passado; infelizmente não pode ser percorrido de novo para acertarmos as voltas erradas que demos.
O velho suspirou. Eu respeitei suas lembranças ficando quieto e logo ele ergueu a cabeça:
– Felizmente existe o futuro, no qual colocamos as esperanças. Deriva de futurus, “o que vai ser, o que ainda não foi”, do verbo esse.
– E o ano?
– Vem do Latim annus, o tempo em que a Terra dá uma volta completa ao redor do sol.
Ele se divide em estações, que derivam de statio, “lugar de paragem, morada, posição”, de stare, “ficar, estar de pé”.
Um período de cem anos se chama século, do Latim saeculum, “idade, duração, geração”. Só foi adquirir o sentido de “cem anos” tardiamente.
Temos também o milênio, de mille, “mil”, que não preciso explicar.
– E os tempinhos pequenos, como a hora?
– Esta veio do Latim hora, “hora, tempo, estação”, do Grego hora, “qualquer tempo definido em extensão”.
– Ué!
– Sim, isso era meio complicado. Para os gregos, hora era inicialmente uma estação, mas também uma parte do dia, como manhã, tarde ou noite.
– Deixa para lá, Vô, agora quero saber do minuto.
– Esse vem da divisão de um círculo em sessenta partes, que eram chamadas em Latim pars minuta prima, “a primeira parte pequena”. Como se determinou que a hora teria sessenta subdivisões iniciais, a analogia geométrica se aplicou a ela.
– Vejam só. E…
– Já sei. O segundo vem de pars minuta secunda, “a segunda parte pequena”, cabendo também sessenta deles num minuto.
– E este instante?
– Arre, que você está perguntão hoje!
– Eu sei que o senhor gosta.
– Gosto, mas não confesso. “Instante” vem do Latim instans, “urgente, premente”, de instare, “ficar perto, apressar, exigir”, de in– “em”, mais stare.
– Que nem eu faço quando quero muito alguma coisa e me paro bem junto da Mãe ou do Pai até que resolvam me atender…
– Ou até que resolvam lhe dar a palmada que você merece, seu manipulador.
Mas agora, que veio de hac hora, “nesta hora”, chega de falar que já estou com sede.
Pegue este pano e me ajude aqui com estes livros.
X-8 já estava recobrando o controle e observou, num relance, o quadro patético: numa cama de cobertas seculares, uma palavra ainda mais magra que o velho Caronte agonizava, respirando com dificuldade.
Estava coberta por um lençol muito velho, tinha a pele coriácea e o rosto indiferente de quem está por sair deste mundo.
No aposento, os poucos móveis cheios de cupim tinham guardanapos rendados em mísero estado. O piso era de chão batido, as teias de aranha proliferavam no forro. Velas se espalhavam por vários pontos, emitindo uma iluminação fraca e trêmula que tornava a cena mais lúgubre ainda.
Na cama jazia uma palavra, Ogano. Ao redor dela, em pé, várias outras, as mesmas que estavam até há pouco discutindo em voz alta.
Excelente conhecedor da vida e morte das palavras, X-8 percebeu que a moribunda não tinha mais que poucos minutos de vida.
Puxou um banco de madeira amaciada pelo tempo e se sentou junto àquela triste figura. Segurou sua mão seca e fria e disse, em voz suave:
– Ogano, estou aqui para assistir sua partida. Sou Etimologista Juramentado e tenho plenos poderes para tal.
A palavra elevou os olhos para ele, com um suspiro de alívio.
X-8 prosseguiu, agora com clareza oficial:
– Saibam todos os presentes que esta palavra auxiliou nosso idioma desde pelo menos o século XIII, com o significado de “este ano”, derivando da expressão latina hoc anno, de mesmo sentido. Entrou em desuso já faz tempo e agora eis chegado o seu fim. Em nome do Vernáculo lhe agradecemos, Ogano.
O breve e solene discurso deixou todos os presentes emocionados. Até Caronte, tão acostumado a lidar com esses assuntos, parecia meio murcho, parado junto à porta, coçando alguma poeira que lhe havia entrado no olho.
A agonizante olhou docemente para seu oficiante, fez um leve movimento de agradecimento com a cabeça quase calva e serenou.
Com as palavras é assim: elas não temem a morte, o que não querem é partir sem que seja reconhecido o trabalho que um dia tiveram pelo idioma.
O detetive puxou a coberta sobre a face da finada e olhou ao redor, pronto para dar assistência às palavras presentes, que ele imaginou que deviam ser amigas e parentes – quando recomeçou a gritaria, umas xingando as outras da maneira mais vil.
X-8 apelou para uma solução heróica: puxou do bolso sua borracha de apagar, brandiu-a no ar e berrou para que todas se aquietassem.
Começou a fazer as perguntas pertinentes e descobriu sem perda de tempo o seguinte: todas elas se declaravam parentes da falecida e queriam ficar com a herança ou pelo menos alguma coisa pertencente a ela. O que exatamente, naquela miséria de palavra não-usada e morta de fome não se sabe. Mas entre as palavras a ambição e a mesquinharia são tão horrorosas quanto entre os homens.
O detetive olhou as presentes e disse:
– Vocês duas aí, Ano e Anual, são legítimas parentes daquela que se foi, já que “ano” fazia parte dela. Isso posso atestar em documento oficial, mediante cobrança dos devidos emolumentos – passado o momento duro, o profissionalismo dele voltava.
– Já o adjetivo Anular ali vem do Latim anulus, “anel” e nada tem a ver em termos de parentesco.
– O mesmo se dá com Anuro, “o que não possui cauda, tipo de anfíbio”, que me encara com olhos esbugalhados ali e vem do Grego anoura, de an-, “sem”, mais oura, “cauda”.
– E Cano, que vejo tentando se esgueirar pela porta, vem do Latim canna, o nome de uma planta de talo cilíndrico. Ele sabe muito bem que não é parente da finada.
– Isso para não falar na mais cara-de-pau de todas, bem quietinha ali no canto, Oca, que vem do Tupi oka, “casa”. Nem sequer deriva do Indo-Europeu, como a falecida! – e, indignado:
– Querem saber o que você merecem? Isto, suas ladras sem-vergonhas e desrespeitosas!
E encheu de pontapés os magros traseiros das empulhadoras, jogando-as porta afora.
Caronte, também revoltado, fez um gesto ameaçador em direção a elas e o resultado foi que elas se espalharam velozmente campo afora, deixando apenas um rastro de poeira.
X-8 chegou até à porta do rancho e olhou para fora.
A paisagem vista dali era extraordinária. Uma escuridão como só existe longe das cidades, campos prateados e sombras profundas, estradinha de terra fazendo uma suave curva colina acima… merecia um quadro.
Ou pelo menos uma boa foto. X-8 se amaldiçoou por estar sem sua nova máquina digital.
Mas também, quem ia imaginar semelhante aventura como consequência de um simples passeio pela rua?
Um ruído o fez virar-se. Ali estava Caronte, subido sobre o skate, com a vara nodosa e lisa de tanto uso na mão, já apoiada em terra. Com um gesto, mostrou que as parentas da falecida se encarregariam de tudo.
Algo em sua atitude demonstrava que X-8 tinha sabido merecer o respeito de alguém tão acostumado a lidar com os mortos.
Refizeram, agora com mais calma, o caminho até o bairro de X-8.
Este pediu para ser deixado nos arredores. Pareceu-lhe conveniente não ser visto em tão funérea companhia.
Este tempo não passa! A turma está incontrolável e a hora da saída está longe ainda! Os segundos parecem minutos, os minutos são horas!
Como, Ledinha? Não, nada, estou apenas resmungando. Coisas de uma pessoa cujo destino a faz pagar por coisas que deve ter feito em outra vida, que nesta nada justifica tamanho penar.
Muito bem, já tive a inspiração que me faltava. Meninos, deixem de acossar a Maria Tereza. Val, pare de falar. Zorzinho, pare de escrever. Soneca, acorde e continue dormindo. Mariazinha, pare de tentar uma reunião de cúpula com os meninos. Agora vamos fazer uma roda aqui no chão e vamos falar do Tempo, essa coisa que assusta tanto os seres humanos.
Não, Ledinha, não interessa se o tempo agora está chuvoso ou não; nós vamos falar nele com o sentido de “passagem dos momentos”. Realmente, o nosso idioma se presta a essa confusão porque, desde o século 16, tal palavra passou a significar também clima.
Os ingleses não sofrem disso, pois têm uma palavra para clima, weather, e outra para o tempo que nos envelhece, que é time.
No início, os romanos usavam tempus para designar “estação do ano, medida de uma sílaba para fazer poemas”.
Houve até agora diversas maneiras de medir o transcorrer do tempo. Não vamos hoje falar nos mecanismos usados, mas sim nas unidades que eles marcam.
Está certo, Robertinho, é fácil ver as horas no relógio digital, mas na época antiga não existia nem o despertador do seu avô.
Já que você falou em hora, vou contar que hora, em Latim, tinha um significado menos estrito que hoje e servia para designar “tempo em geral, hora, estação do ano”.
Em Grego, a palavra hora era usada para qualquer porção delimitada de tempo, como dia, hora, ano, estação. Que confusão, não é?
Pior vocês vão achar ainda se souberem que os gregos pegaram dos babilônios a idéia de dividir o dia em doze partes. Só que estes dividiam o dia inteiro em doze partes, com o que as suas horas duravam o dobro das nossas.
Talvez porque naquelas épocas a iluminação artificial era precária e poucas atividades se desenvolviam durante a noite – quieto, Joãozinho! – os gregos resolveram, passar essa divisão em doze para as horas em que havia luz. Os romanos também adotaram esse método.
Como resultado, as horas passaram a ter uma duração diferente conforme a época do ano, pois o tempo entre o nascer e o pôr do sol varia conforme as estações.
Por incrível que pareça, apenas no século 16 foi que se fez a distinção entre a hora sideral – vinte e quatro por dia, todas iguais em duração – e a chamada “hora temporária”, essa de que eu falei.
Uma coisa em que muitos ainda acreditam é o horóscopo. Ele tem a ver com essa hora de que estou falando, sim. Vem do Grego horoscopos, de hora mais skopos, “olhar, vigiar”, já que o fazedor de horóscopos indagava da hora de nascimento da pessoa.
Hein, Valzinha? Não, não queremos saber da briga do casal da frente da sua casa porque a sua vizinha leu no horóscopo que o marido ia encontrar uma paixão no seu trabalho. Deixe para lá.
Não, Lúcia, o mundo continuava existindo de noite, só que eles não contavam horas nesse período. Talvez, como eu disse, porque não havia muito o que fazer… Não, Joãozinho, não pedi sugestões sobre o que eles poderiam fazer. Calado!
Todos sabem que a hora se divide em 60 minutos. Este nome se originou na Geometria; foi dado por analogia com o círculo. Vocês ainda vão aprender que este se divide em 360 partezinhas bonitinhas, todas iguaizinhas, que se chamam graus. Pois um dia um matemático chamado Ptolomeu precisou de unidades mais precisas para seus estudos e dividiu cada um desses graus em 60 partezinhas bonitinhas iguaizinhas pequenininhas.
A cada uma delas ele chamou, usando o Latim, pars minuta prima, “a primeira parte pequena”, o que deu nosso minuto.
Calma, Mariazinha; você tem razão, deixe-me contar. É isso mesmo, se ele deu esse nome foi porque ele pretendia fazer ainda outra divisão: fragmentou o minuto em outras 60 partezinhas, que ele chamou de pars minuta secunda, nossos atuais segundos.
Essas subdivisões se aplicaram à hora, que passou a ter 60 minutos com 60 segundos cada.
Muito bem, Robertinho; você quer saber porque os antigos não dividiam essas partes em dez e cem. É que os babilônios escolheram o sistema duodecimal, baseado no número doze, que apresenta a vantagem de ter vários divisores. O 60, por exemplo, que é 5 vezes 12, pode ser dividido exatamente por 1, 2, 3, 4, 5, 6, 10, 12, 15, 20, 30, 60. Isso ajudava muito numa época em que as calculadoras eletrônicas não eram abundantes no mercado.
Um conjunto de 24 horas é chamado de dia. Tal palavra vem do Latim dies, de uma fonte Indo-Européia dyeu- ou diwos-, que queria dizer “brilhar” e também era associada a “céu”. Esta fonte também gerou as palavras “deus”, “divindade”, “Zeus”.
Um grupo de sete dias nós chamamos de semana, que em Latim era septimana, “relativo ao sétimo dia”. O adjetivo mais comum referente a ela é semanal. Mas podemos usar uma palavra mais culta, hebdomadário. Isto vem do Latim eclesiástico hebdomadarius, “aquele que desempenha ofício uma vez por semana”, do Grego hebdomos, “sétimo”.
Nosso ano tem doze meses, nome que vem do Latim mens, que no começo designava o mês lunar. Sua fonte Indo-Europeia tinha o significado tanto de mês como de lua.
E ano vem do Latim annus, “volta completa da terra ao redor do sol” e se você não parar quieto, Joãozinho, eu vou prendê-lo no armário. Como? Não. Sozinho, sem nenhuma das meninas.
Existe uma medida de tempo pouco usada agora: é o lustro, “cinco anos”. Em Roma, a cada cinco anos, se fazia a cerimônia das “águas lustrais“, na qual se fazia a purificação através do contato com a água. Elas eram chamadas assim a partir do verbo lustrare, “espalhar luz, iluminar”. E esse verbo vinha da palavra lux, “luz”.
O dobro de um lustro é um decênio. Esse nome vem de decem, “dez”, mais… Está certo, Joãozinho, annus, “ano”, mas não precisava gritar assim.
Pode-se usar também década com esse sentido, mas essa palavra designa mesmo é um período de dez dias, de decem dies. Também pode ser usada para um conjunto qualquer de dez elementos. Dá para dizer “Na minha aula há duas décadas de mal-educados”, por exemplo.
A marcação das datas é feita pelos calendários. Esse nomezinho vem do Latim calendarium, “livro de contas”, que veio de kalendae, o nome dado em Roma ao primeiro dia de cada mês, época em que os empréstimos venciam e deviam ser acertados os negócios. E esse nome veio do verbo calare, “anunciar publicamente”, que deriva do Indo-Europeu gal-, “gritar, chamar”.
Hoje, nós chamamos um conjunto de cem anos um século, mas para os romanos saeculum podia significar também um espaço de trinta anos, de mil anos ou qualquer intervalo grande de tempo.
E o nosso milênio vem de mille, “mil”, mais… Aí está. Hoje o Joãozinho resolveu me ajudar com o Latim. Algumas coisas você aprende rápido, não?
Há nomes que designam também fragmentos curtos mas indeterminados de tempo, como momento. Esta palavra vem do Latim movimentum, de movere, “mover, deslocar”, já que fazemos a imagem de que o tempo passa, se desloca.
Isso fora daqui; dentro desta sala os astrofísicos deveriam fazer estudos para ver por que o tempo se arrasta, como eu já disse.
Também podemos dizer instante, que vem do Latim instans, “presente, urgente, aquele que apressa”, e que vem do verbo instare, de in-, “em”, mais stare, “estar, ficar de pé”.
E, ora vejam! Não é que o tempo se decidiu a passar e já terminou a nossa aulinha? Peguem as suas coisas e saiam como se fossem comportados. Sem perda de tempo, por favor.