Palavra humildade

origem da palavra humildade

Palavras: humildade

poderiam me dizer a origem e significado da palavra humildade?

Resposta:

A origem é o Latim humus, “terra”, derivado por sua vez do Indo-Europeu ghyom-, “terra”.

Já o significado fica com os dicionários.

E a Humildade

Como fazia todas as noites, X-8, o grande detetive das origens das palavras, destrancou a porta do seu escritório, pronto para receber as palavras clientes que iriam consultar para saber sobre suas origens e pagar bem caro por isso.

Relanceou o olhar pelo corredor do terceiro andar do Ed. Éden, avistando o quadro contristador de sempre: lixo de todo tipo, em diversos estratos arqueológicos espalhados pelo chão, muito mal iluminado por uma lâmpada fraquinha pendente no alto do teto.

Desta vez, porém, havia algo novo: uma caixa de papelão grande, bem próxima ao seu escritório. Irritado, ele se preparou para levá-la aos pontapés até à escada e derrubá-la de lá, quando ela falou:

– O senhor é que é o seu X-8? O defensor das palavras?

Elogios eram com ele. Parou, o pé no ar:

– Isso e muitas coisas mais. Quem está aí dentro?

– Sou eu, Humildade. O senhor me deixa sair?

“Mais uma palavra que assume seu significado” – pensou o detetive. “Não precisa acontecer, mas não é nada raro”. Respondeu:

– Naturalmente, saia e entre no meu escritório.

Saiu de dentro da caixa uma palavra com vestimentas muito simples, olhando para o chão, toda encabulada, e entrou na sala em preto-e-branco estilo Anos Cinqüenta Desmazelados.

O detetive se sentou à escrivaninha e teve que insistir para Humildade se acomodar na cadeira à frente, pois ela primeiro foi para um canto e depois queria ficar de pé, mãos atrás das costas, cabeça baixa.

– Fale, minha senhora; em que posso ajudá-la? É uma questão de origem, espero?

– É, seu moço, eu tenho alguns problemas de autoestima e o meu psiquiatra, que está desesperado com minha fraca resposta ao tratamento me mandou para cá como último recurso.

X-8 se alertou: quando isso acontecia, não dava para retardar a ajuda. Palavras podem sumir de um idioma se não se sentem bem, e a segunda grande missão do detetive era salvar as palavras.

A primeira, naturalmente, era ganhar dinheiro.

Ele colocou disfarçadamente a mão no bolso da gabardine e apertou o botão do celular  que tinha comprado numa loja de brinquedos baratos.

O aparelhinho começou a tocar alto e X-8 o levou ao ouvido:

– Ele. Sim. Não. O Ministro? Hum. – Olhou para a palavra e pediu licença por gestos, passando para o quarto ao lado e trancando a porta.

Ali ele folheou depressa alguns livros, tomando nota mentalmente do material básico necessário para atender à sua cliente. Dali a cinco minutos, voltou para a sala, fingindo que estava encerrando a conversa:

– A que horas chega o avião da Força Aérea mesmo? Ah, está bem, dá tempo de sobra. Não, não venham me buscar para não chamar a atenção com esse negócio de escolta, sirenes, etc. Não sou disso. Deixem que eu vou por minha conta. Ah, não se esqueçam de reservar a suite Hiper e os computadores de maior capacidade. Até.

Virou-se para a palavra:

– Coisas do ofício. Mas dá tempo de lhe fazer este seu atendimento, minha senhora, não se preocupe.

Devo-lhe dizer que a senhora, dona Humildade, vem do Latim humus, “terra”, derivado por sua vez do Indo-Europeu ghyom-, “terra”.

Daí se fez a palavra humilis, “humilde”, literalmente “que fica no chão, que não se ergue”, passando muito bem a mensagem deste significado.

Daí vieram outras palavras, como inumar, “enterrar”, formada por in-, “em”, mais humus. Ou seja, trata-se de colocar algo na terra.

Muito próxima a esta está seu oposto, exumar, de ex-, “fora”, mais humus. Aqui o verbo expressa a idéia contrária, de “desenterrar”, tirar fora da terra.

Mas o que eu lhe queria dizer, dona Humildade, é que a senhora descende de uma palavra que gerou também homo, “homem” em Latim. A idéia é “criatura nascida da terra”, como o Homem é apresentado na maioria das religiões, por oposição às divindades, sempre celestes.

Portanto, a senhora é parente, entre outras, de homicídio, coisa feia de se fazer, que junta homo ao sufixo –cídio, que vem do Latim caedere, “matar, imolar, derrubar”.

Outra palavra parente sua, esta refletindo coisa mais agradável, é homenagem, que se formou no Francês arcaico a partir de homenaticum, um derivado de homo no sentido de “vassalo”.

Também está neste rol hombridade, “honradez, retidão de caráter, coragem”, do Espanhol hombre, “homem”, derivado de homo.

Bonomia, o modo de agir de uma pessoa desprovida de más intenções, bondosa, é também sua prima; vem do Francês bonhomie, formado por bom, “bom”, mais “homme” que por sua vez vem de homo.

Está demais dizer, creio eu, que humano, humanidade, humanitário, etc., têm a mesma origem que a senhora.

Posso contar-lhe que a senhora tem uma parente que provavelmente nem a senhora conhece: é transumante, “aquele que realiza mudança de pastos com seu gado, que migra”. Essa palavra se forma por trans-, “através”, mais humus, ou seja, descreve um movimento “através da terra”.

A cada informação nova, Humildade abria os olhos e se mostrava maravilhada. Quando o detetive parou de falar, ela disse:

– Mas então eu faço parte de uma família que tem grande importância em termos de uso na linguagem moderna!

– Na antiga também, Dona Humildade, e isso continuará enquanto o idioma for usado para as pessoas se comunicarem entre si – respondeu X-8.

– Acho que já estou curada. Vou mandar meu psiquiatra se catar! – e a palavra se virou para sair.

O detetive, que não admitia trabalhar sem cobrar, se interpôs no seu caminho:

– Um momentinho; a senhora se esqueceu de que não tenho secretária e que o pagamento é feito para mim mesmo.

A palavra o olhou firme e ia responder algo muito pouco humilde. Mas viu que, do bolso superior da gabardine amarrotada do detetive, se projetava uma borracha.

Não há arma que as palavras temam mais do que as borrachas, que podem acabar com elas num rápido movimento.

Assim, ela colocou a mão no bolso e retirou um maço de dinheiro, contou o valor que o detetive lhe disse e saiu, batendo com a porta.

– A gente salva uma vida e é retribuído desse jeito! – resmungou X-8, contando o dinheiro – bem, enquanto pagarem, dá para agüentar a ingratidão…

Resposta:

Culpa e Culpados

Há ocasiões em que uma pessoa ou um grupo delas se vê às voltas com acusações. Isso traz conseqüências duras, mesmo que não se prove nenhuma culpa. A contrapartida é que, por vezes, não há interesse em que seja feita a justiça, com o que os culpados de verdade saem ilesos.

Seja como fôr, os resultados abalam os relacionamentos dessas pessoas e, às vezes, atingem até um país inteiro. Hoje aproveitaremos para olhar as origens de algumas palavras relacionadas com esse assunto.

ACUSAR – do Latim accusare, “chamar uma pessoa para dar conta de suas ações”. O verbo se formava por ad-, “contra”, e causari, “apresentar como motivo”.

Passou pelo Francês acuser.

ARREPENDIMENTO –  do Latim re-, intensificativo, mais poenitere,“sentir contrição ou mágoa por uma má ação”.

Em Italiano existe uma palavra, pentimento, que passou a fazer parte de outros idiomas. Significa “anotações e alterações feitas por um autor do decurso do processo de criação de um texto”. Um manuscrito com pentimentos de um autor famoso tem extraordinário valor.

O surgimento dos editores de texto acabou com o mercado de pentimentos. A menos que o escritor seja tão vaidoso que salve as suas alterações.

PENITENTE – é uma parente da palavra anterior. Vem do Francês peine, do Latim poena, do Grego poiné, “punição, penalidade”. Penitente é “a pessoa que está pagando por uma infração”.

Penitenciária é o lugar onde as pessoas cumprem a punição por seus crimes. Nem todos os que merecem estão lá dentro.

Em diversas religiões existem penitentes que se flagelam em público para a expiação dos pecados.

Flagelar vem do Latim flagellus, diminutivo de flagrum, “chicote, látego”.

COMPUNÇÃO – cometer um mau ato e não sentir compunção é, literalmente, fazer isso sem que a consciência cutuque, sem que ela espete um dedo na pessoa para chamar a atenção sobre o que se está fazendo.

Há quem tenha consciências indulgentes assim; essas pessoas são um perigo para as outras.

Em Latim era compunctio, de com-, intensificativo, mais punctio, de pungere, “espetar, fincar”.

Como derivados deste verbo temos: pungente, “aquele que finca”; punção, “instrumento que faz furos”; puncionar, “fazer um furo para escoamento de um conteúdo”.

CONTRIÇÃO – do Latim Medieval contritus, particípio passado de conterere, “moer, esfregar”, formado de com-, intensificativo, mais terere, “atritar, esfregar”. Indica alguém que está arrepndido e se penitencia por maus atos.

A noção é a de que uma pessoa arrependida se sentiria como que moída, arrastada sobre pedras. Se isso acontecesse com todos, o mundo seria bem melhor.

REMORSO – é a mordida da consciência. Vem do Latim Medieval remorsus, “tormento”, do Latim remordere, “morder de volta”. Forma-se de re-, “outra vez”, mais mordere, “aplicar os dentes, morder”.

Existia a expressão remorsus conscientiae, “o tormento da consciência”.

A consciência indulgente de que falamos acima desconhece o remorso, não sofre com o sofrimento alheio e é por isso que os maus atos são praticados.

CONFISSÃO – do Latim confiteri, “conhecimento”, de com-, intensificativo, mais fateri, “admitir”. O particípio passado é confessus, “aquele que admite a culpa, confesso”.

Esse verbo confiteri não deu origem ao que hoje chamamos de confeito, não. Esta palavra, significando “um doce”, veio do Latim confectum, particípio passado de conficere, “preparar, fazer”. Esta palavra se forma de com-, “junto”, mais facere, “fazer”. Passou pelo Italiano confetto para designar um produto de pastelaria.

Nossos conhecidos confetes descendem também de confetto. Provavelmente por semelhança de forma e colorido, este nome foi aplicado às rodelinhas de papel usadas no Carnaval.

CONDENAR – passou pelo Francês Antigo damner, do Latim damnare, de damnum, “perda, estrago”. No Latim Eclesiástico, este dano era a perda da alma, a danação.

É por isso que, para os povos de língua inglesa, a palavra damn foi uma palavra a ser evitada por muito tempo. Eles até desenvolveram eufemismos para não pronunciarem a palavra em si, tais como dang e darn.

Estes seguiram a trilha de todos os eufemismos: acabaram virando em si palavras pouco recomendáveis em meios mais exigentes.

Curiosamente, no Português do Brasil, danado é uma palavra usada muitas vezes em termos elogiosos: “este site é danado de bom”!, por exemplo.

HUMILDADE – muitas vezes uma pessoa, para escapar a uma punição, adota uma conduta humilde. Com isso ela quer dizer que é simples e sem orgulho como a terra de que fomos feitos, já que a palavra vem do Latim humus, “terra”.

Convém lembrar que a palavra umidade não é escrita com “H”, erro bastante comum; nada tem a ver com humus. Ela vem do Latim umere, “molhar, encharcar”.

CONSCIÊNCIA – vem do Latim conscire, “estar mutuamente a par de”. Este verbo se forma por com-, “com”, e scire, “saber”, origem da palavra “ciência”.

“Saber algo consigo mesmo” implica em consciência, inclui uma prontidão mental, uma capacidade de distinguir entre o certo e o errado.

Uma consciência limpa ajuda a dormir bem. Dizem que dormir sobre pilhas de dinheiro mal havido é difícil. Mas há tanta gente fazendo isto que é difícil acreditar.

CULPA – do Latim “negligência, descuido, dano, crime”. A expressão mea culpa, “minha culpa”, foi agregada ao Latim Eclesiástico em 1374.

Desculpa é a tentativa de se livrar de uma culpa, seja comprovando que ela não existiu, seja reconhecendo que ela é verdadeira e retratando-se por isso.

VERGONHA – do Latim verecundia, “respeito, pudor, timidez”.

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