Palavras
Obrigado
Resposta:
Palavra veio do Latim parabola. E esta veio do Grego parabolé, “comparação”, literalmente “ato de atirar ao lado”, formada por para, “ao lado”, mais ballein, “atirar”.
Obrigado
Palavra veio do Latim parabola. E esta veio do Grego parabolé, “comparação”, literalmente “ato de atirar ao lado”, formada por para, “ao lado”, mais ballein, “atirar”.
Mais uma noite comum de trabalho no escritório empoeirado do detetive etimológico X-8. Ele olha cuidadosamente para ver se tudo está no lugar: as teias de aranha, os cinzeiros com bitucas falsas de cigarro (ele não fuma, mas onde já se viu escritório de detetive particular sem elas?), o tapete cuidadosamente esburacado em pontos estratégicos, a imitação de buraco de rato no rodapé… o ambiente é importante para atender palavras ansiosas por saberem de suas origens.
Elas são incuravelmente românticas. A-do-ram uma atmosfera de romance de detetive da década de 1950, sentem-se participantes de algum filme em preto e branco com bandidos, policiais e um desprezado detetive particular que no fim da história resolve tudo, fica com a mocinha e uma gorda recompensa.
Hoje quem aparece é um grupo particularmente barulhento de clientes: são as palavras relacionadas à conversação.
Elas se ajeitam nas cadeiras incômodas em frente à gigantesca escrivaninha do investigador e não param de falar entre si. É uma babel que desafia as tentativas dele de começar a falar.
Mas ele sabe lidar com as circunstâncias, ah, se sabe! Põe-se em pé e tira de seu bolso uma enorme borracha azul e branca, daquelas que apagam qualquer palavra de um texto e ainda abrem um buraco no papel.
As clientes vêem aquilo e se calam, assustadas.
Ele começa, com voz fria:
– Boa-noite às distintas consulentes, todas relacionadas à troca de ideias. Sem delongas, vamos começar nossa sessão de etimologia pela palavra conversa aqui à minha frente.
Sua origem é o Latim conversatio, que inicialmente se usava para “viver com, encontrar-se com frequência”, formada por com-, “junto”, mais vertere, “virar, voltar-se para”. Mais tarde mudou para o significado atual.
Naturalmente que conversação, aí do seu lado, tem a mesma origem.
Ali atrás vemos tertúlia, do Espanhol tertulia, “reunião de pessoas”, de origem anterior desconhecida.
Podemos dizer de papo, com seu sinônimo bate-papo sempre a seu lado, que elas vêm do Latim papare, “comer”. Isso pela associação com a parte dilatada do início do trato digestivo das aves na base do pescoço, região que se associa à fala nos seres humanos.
Temos ali cavaco, de origem meio incerta. É possível que venha do Italiano cavata, de cavare, “cavar”, na acepção de “tirar, extrair o som de um instrumento ou da voz humana”. Inclusive existe a palavra cavatina, que veio do Italiano e designa uma pequena ária para solista e que se encaixa nesse parentesco.
Com uso mais elevado um pouco, apresenta-se colóquio. Ela vem do Latim colloquium, “conversa”, de com-, “junto”, mais loqui, “falar”. Junto a ela está solilóquio, “ato de falar sozinho”, de solus, “só, desacompanhado”, mais loqui.
Uma parenta delas está sentada bem aqui à minha frente: é vanilóquio, de pouco uso mas muito significado. Ela quer dizer “discurso inútil, conversa em vão” e vem do Latim vanus, “vazio”. Políticos são mestres em produzir isso.
E que dizer de diálogo? Vem do Latim dialogus, do Grego dialogos, “conversação”, relacionado a dialogesthai, “falar, conversar”, formado por dia-, “através”, mais legein, “falar”. Atenção: muitos pensam que se trata da conversa entre duas pessoas, achando que o “di-” inicial quer dizer “dois”. Mas não é o caso, não caiam nessa armadilha.
Outra que nos acompanha hoje é interlocução. Ela veio do Latim inter, “entre”, mais locutio, “fala, modo de falar” do loqui já citado.
Quietinha no canto vemos outra cliente que leva uma vida folgada pelo pouco uso: é palra, que vem de palrar, que é uma forma de parlar. E esta veio de parolar, “conversar com pouco conteúdo, palavrear no vazio”.
E parolar veio de palavra, que veio do Latim parabola. E esta veio do Grego parabolé, “comparação”, literalmente “ato de atirar ao lado”, formada por para, “ao lado”, mais ballein, “atirar”.
Isso porque, se um objeto tiver sido jogado ao lado de outro, podemos ver o que eles têm em comum ou não. E as palavras servem para isso, para nomear objetos, sentimentos, etc. de modo a distingui-los entre si.
Uma longa linhagem a sua, prezada cliente.
Há umas parentas suas espalhadas por aqui: palavrório, palanfrório e palavreado.
Ah, sim, esqueci-me de citar parlenda,com o mesmo significado.
De outra origem mas com o mesmo conteúdo se apresenta falatório, de falar, do Latim fabulare, que vem de fabula, que quer dizer “rumor, diz-que-diz, conversa familiar, lenda, mito, conto”. E que vem de fari, “falar, contar”. Para dar um toque meior de antiguidade, informo que esta, por sua vez, vem do Indo-Europeu bha-, “falar”.
Ente nós temos uma raridade, bem-vinda seja. Trata-se de galiciparla, às vezes apresentada como galiparla. Ela nomeia uma pessoa que se vale de galicismos para falar, ou seja, usa muitas expressões francesas. Vem de gálico, que vem do Latim gallus, “nativo da Gália”.
Ela foi criada em Portugal nos inícios do século XIX, quando o Francês dominava o ambiente intelectual e era macaqueado por muitas pessoas.
Aqui está também charlar, “conversar para passar o tempo”, do Italiano ciarlare, que teria vindo do Espanhol chirlar, “gritar, gaguejar”, com origem onomatopaica.
Com o significado de “conversa mole, em vão”, vemos ali lero-lero, que teria vindo do Quicongo lelu, “boca”.
Cá está uma palavra que veio do treinamento de cães para a caça: trela. Vem do Latim tragella, diminutivo de tragula, “correia ou corda para prender os cães”, derivada do verbo trahere, “trazer, puxar, arrastar”.
“Dar trela” era alongar a corda e permitir que o animal agisse mais à vontade, para poder adestrá-lo melhor. Depois, em termos figurados, passou a designar o ato de permitir a alguém que fale livremente para obter alguma informação do incauto.
Muito bem, queridas clientes, podem agora retomar a sua comunicação, que nossa sessão está encerrada.
Mas não falem muito alto na saída, que alguns de meus vizinhos são mal-humorados e podem atirar-lhes algum sapato velho ao passarem pelos corredores do edifício.
Etimologia de ‘palavra’, que parece vir de ‘parábola’ (latim).
Mas o que seria o sentido original do grego, que deu origem ao latino ‘parábola’?
Ela vem do Latim PARABOLA, do Grego PARABOLE, “comparação”, formada por PARA-, “ao lado”, mais BALLEIN, “jogar, atirar”, pela noção de que uma coisa pode ser comparada a outra se for colocada ao lado desta. Passou pelo L. vulgar PARAULA, com o sentido de “fala, discurso”, de onde veio o nosso uso atual.
Agradeço desde já!!!!
Significados são com os dicionários.
A origem, sim, é conosco: esta vem do Latim PARABOLA, do Grego PARABOLE, “comparação”, formada por PARA-, “ao lado”, mais BALLEIN, “jogar, atirar”, pela noção de que uma coisa pode ser comparada a outra se for colocada ao lado desta.
Mestre ? Uááála!! rsrsr!! Gostaria que de saber a origem da palavra palavra!
Ps: Por aqui esta um calor de de 40º aceita uma limonada virtual? açúcar ou adoçante?
Cassiano, crie coragem e vá visitar o escritório de X-8 na edição 48.
Açúcar, por favor. E tudo bem gelado. Obrigadinhos.
Um bairro cinzento tanto de dia quanto de noite, sujeira pelas ruas, descaso municipal, descuido dos habitantes, perigo rondando – o local onde se situa o Ed. Éden, com três andares contendo apartamentos onde as pessoas se dedicam a estranhas atividades.
Um deles é o do impoluto X-8, o Detetive Etimológico, que ganha a vida atendendo palavras e descobrindo-lhes a origem. Cobra preços absurdos por isso, mas palavras são seres ingênuos. Tanto que são a arma preferida dos políticos, que as usam para fins que fariam corar um poste de concreto.
Hoje ele está esperando um grupo que marcou hora para saber de onde veio. Ele faz desconto para grupos, uma espécie de charter etimológico.
Batem à porta e ele manda abrir. Entra um grupo de palavras meio assanhadas por estarem na presença de tão famoso profissional, meio nervosas por terem ido a um bairro tão assustador, muito curiosas por conhecerem seus antepassados.
O detetive, sumido em sua enorme gabardine cor-de-palha e chapéu marrom, as recebe fazendo a voz fria que se espera de um personagem tão Anos Cinqüenta.
– Sentem-se aí no banco. Querem saber suas origens, hein? O preço é o que tínhamos combinado pelo telefone. Vou aceitar agora.
Uma das palavras lhe alcança um maço de dinheiro – o famoso detetive só aceitava pagamento em cash, como se diz em bom Português.
Ele confere o valor cuidadosamente, guarda as notas na gaveta da escrivaninha. Olha para uma das consulentes e começa a demonstrar a sabedoria cuidadosamente decorada pouco antes, o que sempre causava grande impressão:
– Muito bem, podemos começar com você aí no meio, Palavra. Você veio para nosso idioma do Latim parabola, que por sua vez veio do Grego parabola , “comparação”, literalmente “ato de atirar ao lado”, formada por para, “ao lado”, mais ballein, “atirar”.
A palavra Palavra fez uma tímida pergunta:
– E o que tem a ver isso com “comparar”?
– É que, se um objeto estiver ao lado de outro, podemos ver o que eles têm em comum ou não. Mas houve um fator sorte para você ser o que hoje; o predomínio de parábola sobre o que os romanos usavam para dizer palavra, que era verbum, veio da linguagem eclesiástica.
Mas está ali nossa outra cliente, Frase. A senhora, que pode ser definida como “um conjunto de palavras expressando um significado”, veio do Latim phrasis, “dicção”, do Grego phrasis, “modo de falar, locução”, de phrazein, “expressar, contar”.
Frase e Palavra ficaram se cutucando e dando risadinhas.
O detetive se voltou para outra cliente:
– Parece que você, Sílaba, não está mais se agüentando de tanta curiosidade. Acalme-se que já vou lhe contar que você vem do Latim syllaba e do Grego syllabe, “um conjunto de letras ou sons”. Literalmente, isso queria dizer “o ato de pegar em conjunto”, de syn-, “junto”, mais lambanein, “tomar, pegar, agarrar”.
A palavrinha pareceu ficar encabulada por ter gregos e romanos em seu passado.
O intrépido profissional prosseguiu, provocando outra consulente:
– E você, Letra? As frases, palavra, sílabas, são formadas por letras, não é? Quer saber de onde você veio?
A palavra assentiu com a cabeça, envergonhada mas com os olhos brilhando de ansiedade.
– Sabemos que você deriva do Latim littera, “letra”, possivelmente do Grego diphtera, “tablete de escrita”, mas isto não é certo.
O plural latino litterae queria dizer também “carta, documento, literatura”, de onde literato, literatura, etc.
Agora temos ali Parágrafo, do Latim paragraphus e do Grego paragraphos, “marca à margem de um texto para marcar uma mudança de sentido”, de para-, “ao lado”, mais graphein, “escrever”. Essas marcas eram importantes numa época em que o modo de falar era importante para destacar o grau de cultura de uma pessoa. Hoje sabemos que uma pessoa, mesmo em elevados cargos públicos, não se importa com isso.
Mas em vez de continuar a me queixar do nível atual da cultura, vou apenas dizer que essa marca acabou sendo transformada num simples recuo de linha.
E Fonema ali, tão em silêncio? Sua origem é o Grego phonema, “som”, de phonein, “soar, falar”, de phone, “som, voz”. Sua origem foi traçada até mesmo o Indo-Europeu bha-, “falar”.
E finalmente temos ali meu muito conhecido Étimo, que vem do Grego etymon, “sentido verdadeiro”, de eteos, “verdade”.
Bem, era isso por hoje. Sempre que desejarem conversar, combinem por telefone que estarei à disposição mediante módica taxa.
E as palavras saíram, apressadas para colocar uma boa distância entre elas e aquele bairro tão assustador.