Palavra panacéia

Mais Divindades Antigas Ainda Em Nosso Idioma

Já vimos, nas edições 3, 9 e 48 desta seção, como os nomes relacionados à mitologia greco-romana estão presentes em nosso cotidiano.

Pois a lista não se esgota aí; agora apresentamos mais palavras formadas a partir de divindades.

ÉDIPO – um sujeito de trágico destino, que inadvertidamente mataria o pai e casaria com a própria mãe, muito adequadamente usado por Freud para descrever determinada situação em Psiquiatria.

Seu nome viria, segundo Sófocles, do verbo grego oidein, “inchar”, mais pous, “pé”. Assim, ele seria “o de pés inchados”, pois eles tinham sido atados juntos fortemente quando foi abandonado num monte para morrer.

Quem começa a vida desse jeito só pode ter um futuro complicado.

PENÉLOPE – era a esposa de Ulisses, que esperou longamente por ele em sua volta da Guerra de Tróia. Ele era dado por morto em ação, e numerosos interessados disputavam a mão dela, que disse que só resolveria algo depois que terminasse de tecer a mortalha de Laerte, seu pai. Mas o que ela tecia de dia, desfazia pela noite, assim conseguindo retardar a questão.

Sua estratégia funcionou, pois Ulisses voltou a tempo de fazer picadinho dos pretendentes e reassumir o trono de Ítaca.

Daí se chamar de “teia de Penélope” uma conduta protelatória, que impede a resolução de um assunto. O nome da fiel esposa vem de pénelops, “pato ou ganso selvagem”, consoante um antigo costume grego de dar nomes de aves às mulheres. Esse final –ops não parece se ligar ao significado de “olho”; usava-se com freqüência em nomes de aves.

MENTOR – falando em Ulisses… Este era  amigo fiel do herói, que o deixou administrando seus bens em Ítaca, seu reino.

O nome deriva de ménos,  “decisão, mente, vontade, espírito”, e quer dizer “o que pensa, que reflete, que é prudente”.

VULCANO – usa-se para designar o tratamento da borracha pelo calor, a partir de 1846. Até então, o verbo to vulcanize, “vulcanizar”, era usado em Inglês com o significado de “inflamar, colocar em chamas”.

Deriva do deus romano do fogo, Vulcanus, de provável origem etrusca e significado ainda desconhecido. Claro que a palavra “vulcão” também vem do nome deste deus.

Ele era muito feio e manco, mas foi casado com Vênus, a deusa da beleza. Paradoxos da vida!

SEREIA – vem do Grego seirén, cujo significado se desconhece. As do mito eram formosas jovens da cintura para cima, mas aves daí para baixo. Possuíam o mau hábito de usar suas vozes maravilhosas para atrair os marinheiros para os rochedos, onde as naus se rompiam.

O uso da palavra “sereia” ou “sirene” para os artefatos que fazem ruído em veículos específicos para emergências parece um desaforo às suas maviosas vozes, mas deriva delas mesmo.

PANDORA – sim, é aquela moça que abriu a caixa da qual escaparam todas as calamidades e infortúnios que até hoje nos atormentam.

Seu nome de forma por pan, “todo”, e doron, “dom, presente”. Ela é a “detentora de todos os dons”, porque foi feita pelos deuses com atributos de vários deles para ser irresistível ao homem.

FLORA – é uma deusa romana, cujo nome vem de flos, “flor”, derivado do Indo-Europeu bhlo-, “brilhar, florir”. Era a deusa da vegetação, uma das mais antigas divindades romanas, fato perfeitamente de acordo com a importância da agricultura nessa civilização.

FAUNA – teria sido a esposa do deus Fauno, que protegia a fertilidade da terra e dos rebanhos.

Seu nome, de etimologia incerta, agora é usado para citar o conjunto dos animais de uma certa área ou época.

FAMA – vem do verbo phánai, “dizer, espalhar pela palavra”. Era uma deusa romana que vivia num palácio de bronze com inúmeros orifícios, que tudo captavam, por mais baixo que se falasse.

Talvez caiba lembrar que nem a Internet nem o celular existiam nessa época, de forma que se devia recorrer a tecnologias alternativas.

Ela tinha asas e se deslocava rapidamente para propagar tudo o que sabia.

Hoje em dia, geralmente a “fama” é tida por coisa boa e desejada por quase todos, mas originalmente ela podia ser tanto má como boa.

Enfim, ela parece ter sido a Fofoca divinizada.

HIGIENE – vem do nome da filha de Asclépios, o deus da Medicina, Higéia, que queria dizer “sã, em bom estado de saúde”.

PANACÉIA – é irmã da anterior e deriva de pan-, “todo”, mais  ákos, “remédio”. Ou seja, ela era “a que cura todas as doenças”.

Resposta:

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