Boa tarde, crianças. Favor não aprontarem nada hoje, que nosso assunto é muito sério. Sendo dia de começar a pagar as minhas contas, resolvi ensinar alguma coisa sobre a etimologia de Matemática e correlatos.
Sim, Valzinha, sei que você não quer aprender essa matéria com uma fama tão assustadora, pois pretende trabalhar apenas como fofoqueira quando for grande. Mas desde já aviso que esse cargo não existe, portanto não sustenta ninguém. Logo, prepare-se para lidar com ela mais cedo ou mais tarde.
Essa palavra veio da expressão grega mathematike tekhne, “ciência matemática”, de mathematikos, “científico, relativo à Matemática”, de mathema, “ciência, conhecimento em geral, conhecimento matemático”, relativo a manthanein, “aprender”.
Ela tem subdivisões para facilitar a compreensão geral. Uma delas é a trigonometria. Ela trata das relações entre os lados e os ângulos dos triângulos. Seu nome vem do Grego trigonon, “triângulo”, de tri, “três”, mais gonon, “ângulo”, mais metron, “medida”, derivado do Indo-Europeu me-, “medir”.
Outra subdivisão é a geometria, que veio do Grego geometria, “medida da terra”, de geo, “terra”, mais metron. Ela surgiu da necessidade prática de definir o tamanho dos terrenos de plantação, quando o ser humano começou a se ocupar da agricultura como meio de subsistência.
Há outra parte que não lida com figuras e não exige régua e compasso para se trabalhar: é a aritmética, do Grego arithmetike tekhne, “a arte ou técnica de lidar com os números”, de arithmos, “contagem, quantidade, número, suposição”.
Iih, lá vem mais uma história da Val. Como é? Uma das suas vizinhas recebe muitos amigos em casa, a ponto de as outras fazerem a contagem deles… Bem, este não é o momento de lidar com isso, guarde as fofocas para o seu condomínio.
Buscando apressadamente outra palavra para fugir das inconveniências dessa menina, ocorre-me a álgebra. Ela vem do Árabe al-jabr, “redução, reunião de partes quebradas”, usado no século XVI por um matemático chamado Al-Qwarizmi no título de seu tratado sobre as equações.
Não, Zorzinho, que ideia! Não se tratava de um tipo especial de cola; esse matemático genial passou a usar esse método como uma maneira de reunir as partes de um problema matemático.
O interessante é que, por muito tempo, esse termo foi usado em Inglês para dizer também “redução de fraturas ósseas”.
Aqueles daqui que forem se dedicar à Engenharia vão passar um bom tempo resmungando contra a matéria de Cálculo. O nomezinho dela vem do Latim calculus, “estimativa, contagem”, originalmente “pedrinha usada para fazer contas”. Deriva de calx, “pedra calcárea”, do Grego khalix, “seixo, pedra pequena”.
Para lidar com essas subdivisões da Matemática usamos diversas operações. Estas vêm do Latim operare, “trabalhar, realizar um esforço”, de opera, “trabalhos, atividades, esforços”, relacionado a opus, “trabalho”.
Uma delas é a soma, do Latim summa, “numero total, inteiro, essência”, relacionado a summus, “o mais alto”, superlativo de super, “acima de”.
Ela também pode se chamar adição, do Latim addere, “acrescentar a, juntar-se, colocar sobre”, de ad-, “a”, mais uma forma combinante de dare, “dar”.
Outra operação é a subtração, do Latim subtractio, “retirada”, de sub, “de baixo”, mais trahere, “puxar, arrastar”. Isso porque subtrair é retirar um número de outro.
Esta pode ser chamada também de diminuição, do Latim deminuere, “tornar menor, retirar”, formado por de-, “fora”, mais minuere, “tornar pequena alguma coisa, reduzir o tamanho de”, relacionado com minus, “menos”.
Agora vem a multiplicação, do Latim multiplicatio, “ato de aumentar, tornar várias vezes maior em número”, de multus, “muitos, muito”, mais plex, “dobra”.
Junto com ela muitas vezes vem uma divisão, do Latim dis-, “fora”, mais videre, “separar”. Essa operação separa um número e apresenta como resultado um quociente, que vem do Latim quotiens, “quantas vezes? Quão seguido?”, de quot, “quanto?”.
Essa operação se usa muitas vezes para descobrir o resultado de uma fração, do Latim fractio, “aquilo que é partido em pedaços”, de frangere, “quebrar”.
Antes que eu me esqueça, lembro que aquele número que se apresenta sobre o traço de fração é o numerador, do Latim numerator, “aquele que conta”, de numerus, “número”.
E que o que vai abaixo desse traço é o denominador, do Latim denominator, “aquele que nomeia, que atribui um nome”, formado por de, “de” mesmo, mais nomen, “nome”.
Nosso horário está terminando, mas ainda posso falar em uma operação que me esqueci de citar no começo. É a radiciação, de raiz, do Latim radix, “base, fundamento”. Uma raiz é o fundamento por onde a árvore se fixa ao solo, a raiz de uma palavra é a base de onde ela evoluiu, a raiz quadrada ou cúbica de um número é a base de onde ele surgiu, depois de determinadas operações.
Não sei se o assunto os deixou fascinados ou completamente no ar, só sei que a aula transcorreu com muita calma. E, para mim, é isso que importa.
Podem pegar suas coisinhas e ir para o pátio.