Palavra taful

Etimologia

Palavras: grão-mogol , Indostão , naira , nu , taful , Vixnu

A Mosca Azul
Machado de Assis

Era uma mosca azul, asas de ouro e granada,
Filha da China ou do INDOSTÃO.
Que entre as folhas brotou de uma rosa encarnada.
Em certa noite de verão.

E zumbia, e voava, e voava, e zumbia,
Refulgindo ao clarão do sol
E da lua — melhor do que refulgiria
Um brilhante do GRÃO-MOGOL.

Um poleá que a viu, espantado e tristonho,
Um poleá lhe perguntou:
— “Mosca, esse refulgir, que mais parece um sonho,
Dize, quem foi que te ensinou?”

Então ela, voando e revoando, disse:
— “Eu sou a vida, eu sou a flor
Das graças, o padrão da eterna meninice,
E mais a glória, e mais o amor”.

E ele deixou-se estar a contemplá-la, mudo
E tranquilo, como um faquir,
Como alguém que ficou deslembrado de tudo,
Sem comparar, nem refletir.

Entre as asas do inseto a voltear no espaço,
Uma coisa me pareceu
Que surdia, com todo o resplendor de um paço,
Eu vi um rosto que era o seu.

Era ele, era um rei, o rei de Cachemira,
Que tinha sobre o colo NU
Um imenso colar de opala, e uma safira
Tirada ao corpo de VIXNU.

Cem mulheres em flor, cem NAIRAS superfinas,
Aos pés dele, no liso chão,
Espreguiçam sorrindo as suas graças finas,
E todo o amor que têm lhe dão.

Mudos, graves, de pé, cem etíopes feios,
Com grandes leques de avestruz,
Refrescam-lhes de manso os aromados seios.
Voluptuosamente nus.

Vinha a glória depois; — quatorze reis vencidos,
E enfim as páreas triunfais
De trezentas nações, e os parabéns unidos
Das coroas ocidentais.

Mas o melhor de tudo é que no rosto aberto
Das mulheres e dos varões,
Como em água que deixa o fundo descoberto,
Via limpos os corações.

Então ele, estendendo a mão calosa e tosca.
Afeita a só carpintejar,
Com um gesto pegou na fulgurante mosca,
Curioso de a examinar.

Quis vê-la, quis saber a causa do mistério.
E, fechando-a na mão, sorriu
De contente, ao pensar que ali tinha um império,
E para casa se partiu.

Alvoroçado chega, examina, e parece
Que se houve nessa ocupação
Miudamente, como um homem que quisesse
Dissecar a sua ilusão.

Dissecou-a, a tal ponto, e com tal arte, que ela,
Rota, baça, nojenta, vil
Sucumbiu; e com isto esvaiu-se-lhe aquela
Visão fantástica e sutil.

Hoje quando ele aí vai, de áloe e cardamomo
Na cabeça, com ar TAFUL
Dizem que ensandeceu e que não sabe como
Perdeu a sua mosca azul.

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Pelo jeito o confrade poleá perdeu a mosca azul por duas vezes: fisicamente e na mente.

Muito obrigada!
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Nota: enquanto digito toca na rádio “Os sete magníficos” com a orquestra de Frank Pourcel, associei-a a vocês na hora! Por que será?
O-ri-gem-da-pa-la-vra, sete sílabas.
Se vocês forem em sete, aí fechou, hein!? Os sete que nos libertam com os zumbidos das palavras!

Resposta:

a. Do Persa “país do Hindus”, o nome de um rio, mais -STA, país, região”.

b. Designação dada na Europa a uma pessoa de grande poder, de Grão, “grande “, mais o Árabe MOGHUL, “mongol”.

c. Do Latim NUDUS, “sem roupa, desvestido”.

d. Do Sânscrito VISHNU, possivelmente “trabalhador”.

e. Mulher da casta nobre dos Naires, na Índia.

f. Do Árabe TAPHUR, “inconstante”.

 

Podemos até ser magníficos, conforme o olhar bondoso que nos vislumbra, mas sete não somos.

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