Redução e evolução
Existe, doutor, alguma explicação histórico-linguística (sei lá… rsrs) para a forte tendência de apócope nos discursos informais entre os falantes de língua portuguesa? Especialmente entre nós, mineiros (em qualquer nível socioeconômico, tenho observado esse fenômeno… parece que mineiro tem muita pressa para falar… rsrs).
Minha outra dúvida é (também ligada a esse tema): a já consagrada forma “cê” poderá um dia, pela evolução do português, substituir o pronome “você” na linguagem, digamos, “oficial” do idioma?
Obrigado pela atenção!
Resposta:
A explicação não é para os falantes da nossa língua; essa tendência é mundial. Pode-se atribuir a ela a queda da organização das palavras em declinações.
No Latim, por exemplo, que é uma língua declinada, o final das palavras é que indicava o seu papel na frase, e como se dava a ação. PAULI queria dizer “de Paulo”; PAULE era “Ó Paulo”; PAULUM se referia a Paulo especificamente como objeto direto.
Com a degradação cultural, as pessoas deixaram de pronunciar claramente os sons finais das palavras e o sistema dos idiomas romances teve que mudar, apelando para preposições e conjunções para tornar claro o fluxo do pensamento.
É absolutamente possível que um dia tenhamos “cê” como pronome pessoal aceito na linguagem correta.
Mas não aposte suas fichas atuais nisso. Os idiomas, com a difusão da palavra escrita e a fixação de regras gramaticais estão fixando as mudanças muito mais lentamente do que antanho.
“Fixando”, eu disse; as alterações entram todo santo dia no idioma, mas elas agora têm que enfrentar um sistema organizado que lhes dificulta a entrada.