Coisas Boas [Edição 17]
A gente vê tanta coisa ruim no mundo… maldades, safadezas, roubo, mentiras, traições, corrupção – enfim, uma lista enorme. E as coisas boas? Elas existem, sim, e cada uma delas tem um nome. E justamente a origem destes nomes é que vamos perscrutar agora.
BOM – vem do Latim bonus. Daí derivaram bondade, “a qualidade do é bom, do que traz benefícios”. Também bonificação e bônus, “prêmio por bom desempenho ou por sorteio”. Outra descendente é bonomia, “atitude de quem é bondoso”.
MELHOR – é o comparativo de bom. Para cotejar duas coisas boas, dizemos que “esta é boa, aquela é melhor“.
Esta palavra tem uma raiz que não é a mesma de bom, daí a diferença na forma.
Melhor deriva de uma palavra latina melior, que queria dizer “mais forte”, com a mesma origem do Grego mala, “muito mais”.
ÓTIMO – vem do Latim optimus, “o melhor”, provavelmente de ob-, “à frente”, mais o sufixo superlativo -tumos. O que estava “muito à frente” dos outros tinha que ser de longe o melhor.
Sendo o superlativo de bom, indica que não há o que o supere. Portanto, não se pode dizer “aquele é mais ótimo”, “que ótimo”, “muito ótimo”, “otimíssimo”. Ótimo é o melhor de todos e pronto.
BEM – do Latim bene, “bem, de modo adequado, de modo feliz”. Tem a mesma origem que bom.
Entre seus derivados se encontram benfazejo, “aquele que faz o bem”, de bene mais facere, “fazer”; beneplácito, “aprovação, consentimento”, de bene mais placet, “agrada”, benefício, “auxílio, vantagem concedida”, de bene mais facere, “fazer”.
Mas note-se que o comparativo melhor serve só para bom, não para bem. Deve-se dizer “Isto está bem feito, aquilo está mais bem feito ainda”. Seria um erro dizer “aquilo está melhor feito”.
Em resumo, bem não tem comparativo sintético (ou seja, em uma palavra só).
EXCELENTE – do Latim excellens, “o que está no alto, o que se destaca”, por extensão “o que é muito bom”. Tal palavra vem do verbo excellere, “subir, ser colocado no alto”, formado por ex-, “fora, sobre” e cellere, “subir”. A base Indo-Européia é kel-, “elevar”.
A frase Gloria in Excelsis Deo quer dizer “Glória a Deus nas Alturas“.
Excelsior é “o mais alto”.
Daí o tratamento “Vossa Excelência”.
SUPERIOR- vem do Latim super, “acima”, que deu o comparativo superus, “mais acima”. E superior era “o mais alto de todos”.
Nosso conhecido Superman recebeu este nome porque tinha qualidades que o colocavam acima dos seres humanos comuns.
SUPERLATIVO – em Latim, superlatus queria dizer “exagerado” e era formado pelo super que vimos acima e tlat-, derivado de tollere, “tirar, levar embora” como se alguém retirasse o bom senso do processo de uma avaliação.
SOBERBO – vem do Latim superbus, “sensacional, suntuoso, orgulhoso”. Entram em sua formação a palavra super e um segundo elemento que deve derivar do Indo-Europeu bhe-, “ser”.
Observe-se que, em Português, temos essa palavra tanto com a conotação positiva de “grandioso, de alto valor, muito bem feito”, quanto com a negativa de “arrogante, indevidamente orgulhoso”.
A soberba é um dos maiores defeitos que se pode encontrar.
AUGUSTO – mas isto não é nome próprio? Quando começou a sua história, não era. Tratava-se de um adjetivo que queria dizer “respeitável, sagrado”, provavelmente originado da expressão “consagrado pelos áugures”.
Áugures eram sacerdotes romanos que definiam as melhores ocasiões para diversas atividades, como as guerras, colheitas, etc. Seu título vem de augere, “subir, elevar, fazer crescer”.
Em Português usamos a palavra auge para dizer “o ponto mais alto, o clímax”.
O título Augusto foi dado ao imperador romano Octavianus em 26 AC e passou a ser título dos demais imperadores.
Em sua homenagem o nome foi dado ao que então era o sexto mês do calendário romano, o sextilis, que para nós é o oitavo mês e que denominamos de agosto.
MARAVILHOSO – em Latim, mirabilius era “extraordinário, espantoso, maravilhoso”. Tal palavra vem de mirus, “assombroso, supreendente”.
Existe, na constelação da Baleia, uma estrela chamada Mira Ceti, “a maravilha da Baleia”, por ser uma variável cuja intensidade luminosa muda de forma distinguível a olho nu num período de poucos dias.
MIRÍFICO – é um sinônimo da anterior, com plena validade mas hoje de raro uso. Por isso, se um rapaz quiser dizer à namorada que os olhos dela são “miríficos”, talvez convenha explicar antes de que se trata.
ADMIRÁVEL – tem a mesma origem das duas anteriores: ad-, “junto, para” e mirus. Portanto, na origem, esta palavra não obrigatoriamente se referia a coisas positivas. O uso atual, no entanto, a impôs para fatos bons. Fica estranho dizer que houve um incêndio admirável, um roubo admirável.
MAGNÍFICO – em Roma, magnificus era “aquele que faz grandes obras”, de magnus, “grande”, e facere, “levar a efeito, fazer”.
Daí que alguns soberanos receberam o apodo de O Magnífico. Podiam ter sido umas pestes, mas se tivessem realizado obras de valor, estariam aptos a receber esta honra.
ESPLÊNDIDO – deriva do Latim splendere, “brilhar”. Dessa mesma palavra nos veio esplendor. Corretos sinônimos são as palavras resplendor e resplandor.
ESTIMADO – em Roma, aestimare era “determinar o valor de algo, julgar, calcular”. Uma das conotações do verbo estimar hoje é a de “apreciar, ter em alta conta”.
SENSACIONAL – do verbo sentire, “sentir” se fez sensatus, “aquele que é capaz de sentir”. Lá pelo século 18, a palavra sensação passou a ser usada também com a conotação de “trazer espanto ou choque ao grupo ou à comunidade”. Tal espanto pode ser causado também pela extensão das boas qualidades, e o passar do tempo levou essa palavra a ter apenas o atual sentido positivo, elogioso.
XPTO – até há umas décadas, estas letras misteriosas queriam dizer que alguma coisa era da melhor qualidade. Dá-se como certo que esta sigla se originou na época em que o Cristianismo era perseguido, o que tornava perigoso escrever Cristo por extenso.
Os cristãos então passaram a usar quatro letras da palavra em grego: “chi”, representado por um “X” maiúsculo; “rô”, cuja maiúscula é igual a um “P”; “tau”, um “T” mesmo e “ômicron”, um “O”.
Assim, a interpretação das letras em alfabeto latino resultou em algo bem diferente do original.
Conta-se que, pelos fins do século XVIII, um fabricante de vinhos de Portugal estava à procura de uma boa marca para seu produto. Um padre seu conhecido sugeriu essas letras, chamadas tetragrammaton, “quatro letras”. Como o vinho era de excelente qualidade, as letras passaram a nomear tudo o que fosse bom.
Agora isso já passou, mas que teve voga, teve.