Palavra esplendor

POMPA E CIRCUNSTÂNCIA

 

Há momentos em que países ou instituições se promovem aparatos magnificentes, faustosos, de esplendor, para celebrar determinada data ou ocasião.

Para isso, eles providenciam desfiles, tocam música, seguem normas de cerimônia.

É sobre as origens de palavras correlatas que nos debruçaremos agora.

 

 

POMPA –  deriva do Latim pompa, “procissão, pompa”, do Grego pompé, “procissão solene, demonstração”, literalmente “algo enviado”, de pompein, “enviar, acompanhar”.

 

CIRCUNSTÂNCIA –  descreve “condições que cercam um fato e que são inerentes à sua natureza”. Vem do Latim circum-, “ao redor”, mais stantia, de stare, “estar de pé”.

Usa-se também no sentido de “cerimônia, formalidade”.

 

CERIMÔNIA – é do Latim caerimonia,  “caráter sagrado, rito reverencial”, possivelmente de origem etrusca.

 

MAGNIFICÊNCIA –  vem de magnífico, do Latim magnificus, “aquele que faz grandes obras”, de magnus, “grande”, e facere, “levar a efeito, fazer”.

 

GRANDIOSIDADE –  de grande, do Latim grandis, ligado a gravis, que alguns teorizam derivar do Sânscrito guru, “pesado, sério”.

 

DESFILE –  muitas ocasiões de pompa são acompanhadas de um desfile militar ou cívico. Esta palavra vem do Latim des-, um prefixo negativo, mais filum, “fio, fiapo de tecido”.

Normalmente um desfile é organizado com pessoas umas atrás das outras, lembrando um fio retirado, “desfiado” de uma peça de pano.

 

SOLENIDADE –  do Latim solemnitas, “observância de uma cerimônia, de uma ocasião ritual”, de solemnis, “formal, tradicional, cerimonial”, possivelmente relacionado a sollus, “inteiro”.

 

POSSE –  normalmente o fato de se assumir um cargo público de destaque é marcado por uma cerimônia de posse. Esse é o ato de possuir, de ter, e se origina do Latim potere, “poder”. Veio do Sânscrito patyati, “proteger, dominar”.

 

 

COMEMORAÇÃO –  do Latim commemoratio, de commemorare, “lembrar-se, trazer à mente”, de com-, intensificativo, mais memorare, “lembrar-se”, de memor, “aquele que se lembra”. E esta parece ter vindo do Sânscrito smarami, “lembro-me, desejo”.

 

JUBILEU –  muitas vezes é o nome dado a solenidades que comemoram o aniversário de uma data importante.

Veio do Latim jubilaeus, do Grego iabelaios, do Hebraico iobhel, “festividade feita a cada 50 anos”, originalmente “chifre de carneiro”, do qual era feito o instrumento que conclamava o povo para a comemoração.

A ligação dessa palavra com “época de regozijo, de festas” se deu por associação com o verbo latino jubilare, “gritar de alegria”, casualmente bem parecido com iobhel.

 

ESPLENDOR –  aparece com frequência nessas ocasiões. Vem do Latim splendere, “brilhar, refulgir”, do Indo-Europeu splend-, “brilhante”.

 

OSTENTAÇÃO –  às vezes o que é esplêndido passa dos limites e vira exibicionismo. Ostentar vem do Latim ostendere, formado por ob-, “à frente”, mais tendere, “alongar, esticar”. É como se uma pessoa alongasse ou exagerasse suas posses ou qualidades para impressionar os outros.

 

GALA –  do Francês galer, “alegrar-se, regozijar”, possivelmente do Frâncico wala-, “bom, bem”.

 

DIGNIDADE –  é o que todas as pessoas que se apresentam em ocasiões assim devem demonstrar. Mas nem sempre dá certo, seja pela figura delas, seja por algum traje ridículo que ostentam.

Veio do Latim dignitas, “o que tem valor”, de dignus, “digno, valioso, adequado, compatível com os propósitos”, do Indo-Europeu dek-no-, de uma base dek-, “tomar, aceitar”.

 

PROTOCOLO –  é um conjunto de regras a serem seguidas em determinada ocasião.  Um protocolo era a página inicial de um daqueles rolos que eles usavam em vez de livros, porque era a primeira  página a ser colada (do Grego protos, “o que vem antes”, mais kolla, “grude, cola”). Ali iam o nome do autor, o nome do livro, a errata, os capítulos, etc.

De “primeira página de uma publicação”, esse sentido mudou para “informação oficial” no Latim Medieval e depois para “registro de uma transação”, para “documento diplomático” e “fórmula de etiqueta diplomática”. Atualmente também se chama assim o local de uma repartição pública onde são recebidos documentos.

 

SENSACIONAL –  é como que os donos da comemoração desejam que ela seja vista pelo público.

Deriva do verbo latino sentire, “sentir”; daí se fez sensatus, “aquele que é capaz de sentir”. Lá pelo século 18, a palavra sensação passou a ser usada também com a conotação de “trazer espanto ou choque ao grupo ou à comunidade”. Tal espanto pode ser causado também pela extensão das boas qualidades, e o passar do tempo levou essa palavra a ter apenas o atual sentido positivo, elogioso.

 

Resposta:

Coisas Boas

A gente vê tanta coisa ruim no mundo… maldades, safadezas, roubo, mentiras, traições, corrupção – enfim, uma lista enorme. E as coisas boas? Elas existem, sim, e cada uma delas tem um nome. E justamente a origem destes nomes é que vamos perscrutar agora.

BOM – vem do Latim bonus. Daí derivaram bondade, “a qualidade do é bom, do que traz benefícios”. Também bonificação e bônus, “prêmio por bom desempenho ou por sorteio”. Outra descendente é bonomia, “atitude de quem é bondoso”.

MELHOR – é o comparativo de bom. Para cotejar duas coisas boas, dizemos que “esta é boa, aquela é melhor“.

Esta palavra tem uma raiz que não é a mesma de bom, daí a diferença na forma.

Melhor deriva de uma palavra latina melior, que queria dizer “mais forte”, com a mesma origem do Grego mala, “muito mais”.

ÓTIMO – vem do Latim optimus, “o melhor”, provavelmente de ob-, “à frente”, mais o sufixo superlativo -tumos. O que estava “muito à frente” dos outros tinha que ser de longe o melhor.

Sendo o superlativo de bom, indica que não há o que o supere. Portanto, não se pode dizer “aquele é mais ótimo”, “que ótimo”, “muito ótimo”, “otimíssimo”. Ótimo é o melhor de todos e pronto.

BEM – do Latim bene, “bem, de modo adequado, de modo feliz”. Tem a mesma origem que bom.

Entre seus derivados se encontram benfazejo, “aquele que faz o bem”, de bene mais facere, “fazer”; beneplácito, “aprovação, consentimento”, de bene mais placet, “agrada”, benefício, “auxílio, vantagem concedida”, de bene mais facere, “fazer”.

Mas note-se que o comparativo melhor serve só para bom, não para bem. Deve-se dizer “Isto está bem feito, aquilo está mais bem feito ainda”. Seria um erro dizer “aquilo está melhor feito”.

Em resumo, bem não tem comparativo sintético (ou seja, em uma palavra só).

EXCELENTE – do Latim excellens, “o que está no alto, o que se destaca”, por extensão “o que é muito bom”. Tal palavra vem do verbo excellere, “subir, ser colocado no alto”, formado por ex-, “fora, sobre” e cellere, “subir”. A base Indo-Européia é kel-, “elevar”.

A frase Gloria in Excelsis Deo quer dizer “Glória a Deus nas Alturas“.

Excelsior é “o mais alto”.

Daí o tratamento “Vossa Excelência”.

SUPERIOR- vem do Latim super, “acima”, que deu o comparativo superus, “mais acima”. E superior era “o mais alto de todos”.

Nosso conhecido Superman recebeu este nome porque tinha qualidades que o colocavam acima dos seres humanos comuns.

SUPERLATIVO – em Latim, superlatus queria dizer “exagerado” e era formado pelo super que vimos acima e tlat-, derivado de tollere, “tirar, levar embora” como se alguém retirasse o bom senso do processo de uma avaliação.

SOBERBO – vem do Latim superbus, “sensacional, suntuoso, orgulhoso”. Entram em sua formação a palavra super e um segundo elemento que deve derivar do Indo-Europeu bhe-, “ser”.

Observe-se que, em Português, temos essa palavra tanto com a conotação positiva de “grandioso, de alto valor, muito bem feito”, quanto com a negativa de “arrogante, indevidamente orgulhoso”.

A soberba é um dos maiores defeitos que se pode encontrar.

AUGUSTO – mas isto não é nome próprio? Quando começou a sua história, não era. Tratava-se de um adjetivo que queria dizer “respeitável, sagrado”, provavelmente originado da expressão “consagrado pelos áugures”.

Áugures eram sacerdotes romanos que definiam as melhores ocasiões para diversas atividades, como as guerras, colheitas, etc. Seu título vem de augere, “subir, elevar, fazer crescer”.

Em Português usamos a palavra auge para dizer “o ponto mais alto, o clímax”.

O título Augusto foi dado ao imperador romano Octavianus em 26 AC e passou a ser título dos demais imperadores.

Em sua homenagem o nome foi dado ao que então era o sexto mês do calendário romano, o sextilis, que para nós é o oitavo mês e que denominamos de agosto.

MARAVILHOSO – em Latim, mirabilius era “extraordinário, espantoso, maravilhoso”. Tal palavra vem de mirus, “assombroso, supreendente”.

Existe, na constelação da Baleia, uma estrela chamada Mira Ceti, “a maravilha da Baleia”, por ser uma variável cuja intensidade luminosa muda de forma distinguível a olho nu num período de poucos dias.

MIRÍFICO – é um sinônimo da anterior, com plena validade mas hoje de raro uso. Por isso, se um rapaz quiser dizer à namorada que os olhos dela são “miríficos”, talvez convenha explicar antes de que se trata.

ADMIRÁVEL – tem a mesma origem das duas anteriores: ad-, “junto, para” e mirus. Portanto, na origem, esta palavra não obrigatoriamente se referia a coisas positivas. O uso atual, no entanto, a impôs para fatos bons. Fica estranho dizer que houve um incêndio admirável, um roubo admirável.

MAGNÍFICO – em Roma, magnificus era “aquele que faz grandes obras”, de magnus, “grande”, e facere, “levar a efeito, fazer”.

Daí que alguns soberanos receberam o apodo de O Magnífico. Podiam ter sido umas pestes, mas se tivessem realizado obras de valor, estariam aptos a receber esta honra.

ESPLÊNDIDO – deriva do Latim splendere, “brilhar”. Dessa mesma palavra nos veio esplendor. Corretos sinônimos são as palavras resplendor e resplandor.

ESTIMADO – em Roma, aestimare era “determinar o valor de algo, julgar, calcular”. Uma das conotações do verbo estimar hoje é a de “apreciar, ter em alta conta”.

SENSACIONAL – do verbo sentire, “sentir” se fez sensatus, “aquele que é capaz de sentir”. Lá pelo século 18, a palavra sensação passou a ser usada também com a conotação de “trazer espanto ou choque ao grupo ou à comunidade”. Tal espanto pode ser causado também pela extensão das boas qualidades, e o passar do tempo levou essa palavra a ter apenas o atual sentido positivo, elogioso.

XPTO – até há umas décadas, estas letras misteriosas queriam dizer que alguma coisa era da melhor qualidade. Dá-se como certo que esta sigla se originou na época em que o Cristianismo era perseguido, o que tornava perigoso escrever Cristo por extenso.

Os cristãos então passaram a usar quatro letras da palavra em grego: “chi”, representado por um “X” maiúsculo; “rô”, cuja maiúscula é igual a um “P”; “tau”, um “T” mesmo e “ômicron”, um “O”.

Assim, a interpretação das letras em alfabeto latino resultou em algo bem diferente do original.

Conta-se que, pelos fins do século XVIII, um fabricante de vinhos de Portugal estava à procura de uma boa marca para seu produto. Um padre seu conhecido sugeriu essas letras, chamadas tetragrammaton, “quatro letras”. Como o vinho era de excelente qualidade, as letras passaram a nomear tudo o que fosse bom.

Agora isso já passou, mas que teve voga, teve.

Resposta:

Origem Da Palavra