Gado I [Edição 42]
A criação de animais para corte e para transportar carga tem sido feita pelo homem há muitos milhares de anos. Naturalmente, foi necessário dar o nome aos bois, se me permitirem o péssimo trocadilho. Hoje é a vez de analisar as origens de algumas das palavras usadas nessa área.
GADO – deriva do Espanhol ganado, “bens, coisas que foram ganhas”, particípio passado de ganar, “ganhar, receber”.
Ainda agora ter gado é sinônimo de ter bens.
TOURO – vem do Latim taurus, “touro”. Em nosso idioma, é correta a forma toiro.
BOI – se o cavalheiro acima for castrado, muda de nome, além de perder certos prazeres da vida. Em compensação, ele trabalha melhor, o que francamente, do ponto de vista dele, não tem vantagem.
Esta palavra vem do Latim bos, que podia ser usada tanto para o boi como para a sua senhora, a vaca.
Em Grego, era bous. Sabem o Estreito de Bósforo, aquele que separa a Europa da Ásia, ali junto a Istambul, a antiga Constantinopla e a mais antiga ainda Bizâncio?
Pois ele se chama assim por causa do gado bovino. A palavra se forma por bous mais phoros, “o que leva”, pois era por ali que o gado era embarcado para cruzar a água a fim de ser consumido pelo povo da cidade.
VACA – do Latim vacca. É interessante saber que o adjetivo latino vaccinae, “da vaca, referente à vaca” era usado para nomear uma doença viral comum ao gado e aos humanos, a variola vacciniae.
O processo de vacinação foi genialmente descoberto no começo do século XIX, e ao material usado para a imunização se aplicou a palavra que acabou virando vacina em Português.
BEZERRO – tem origem ibérica, ibicirru, de ibex, o nome dado a uma espécie de cabra selvagem dos Alpes.
CAVALO – em Latim, caballus era o nome dado ao cavalo de carga. Os cavalarianos de Roma não montavam um caballus, montavam um equus, palavra que veio do Indo-Europeu ekwos, “cavalo”.
Daí nossos termos atuais para assuntos referentes a esse nobre animal (eqüestre, eqüino, equitação) serem tão diferentes do seu nome comum. Eles derivaram do equus, que era mais bacana que o pobre caballus.
Sabem os filmes em que aparecem bárbaros antigos montando a cavalo que nem os caubóis? Balela. Até alguns milhares de anos, as espécies eqüinas ainda não tinham a capacidade de transportar um homem montado no meio do dorso, devido à conformação da sua coluna dorsal. Os guerreiros tinham que montar mais para trás, quase sobre os membros posteriores. Um longo processo de seleção foi o que deixou os bichos tal como são hoje.
ÉGUA – essa está fácil. Vem do Latim equa, o feminino de equus.
ASNO – do Latim asinus, “asno”, de provável origem no Sumério ansu.
BURRO – esta palavra, por estranho que pareça, não passa do nome de uma cor. Em Roma, este animal era chamado de asinum burrum¸ “asno de cor avermelhada, castanha”. Burrum designava essa cor, vindo do Grego pyr, “fogo”.
Como é freqüente, uma das palavras da expressão deixou de ser usada e ficou apenas a que virou burro em nossos dias.
JUMENTO – em Latim, era jumentum, o nome dado a qualquer animal de carga ou tração. Relacionava-se a jungere, “atrelar, colocar sob jugo”, de jugum, “jugo, canga”.
Sem querer fazer qualquer piada, a palavra conjugal vem exatamente daí.
MULA – é o cruzamento estéril de burros e cavalos. Vem do Latim mulus. Este animal combina a força do cavalo e a segurança e tenacidade do burro, e para certos usos é melhor do que qualquer um dos dois.