INFORMÁTICA [Edição 79]
Quando cheguei ao gabinete de meu avô, ele estava muito entretido fazendo algo em seu computador.
– Sabe, Vô, a maioria de meus colegas e amigos não tem avós tão espertinhos como o senhor. Muitos deles nem chegam perto de um computador.
– Viu só, prezado descendente, que eu sou mais esperto do que pareço?
– Mas aposto que os seu conhecimentos de Etimologia não adiantam muito na área de Informática.
– Por que você acha isso, rapazinho?
– Ora. Vô, vai me dizer que os gregos e romanos e persas e o resto daquela turma antiga sua conhecida tinham computadores?
– Vejam só como ele é inteligente! Até já conhece esse fato histórico! Mas, de qualquer maneira, as palavras da tal “aquela turma antiga” são usadas ainda inteiras nessa área ou originaram outras. Quer ver?
– Por via das dúvidas, vou pegar papel e caneta, posso? Pela sua cara, não vou escapar de aprender alguma coisa.
– Comigo é sempre assim, o que falta é reconhecerem o meu gênio.
Vamos ver… por exemplo, Informática. Ela deriva de uma expressão, “ciência da informação”. Esta última palavra vem do Latim informare, “modelar, dar forma”, de in mais formare, “formar”, que veio do Grego morphé, “aspecto externo, forma, beleza”.
Dentro da Informática encontramos, como eu disse, palavras usadas praticamente sem alteração; destas, podemos citar certos prefixos usados para dar ideia de tamanho e quantidade de informação.
É o caso de mega-, que expressa “um milhão”. Esta vem do Grego megas, ou “grande”.
Depois vem giga-, que representa um bilhão, ou seja, dez elevado à nona potência, do Grego gigas, “gigante”.
E aí vem o tera-, um trilhão, de teras, “monstro”. Com o avanço da área, as duas primeiras qualquer dia vão acabar sendo abandonadas.
– Monstro mesmo. Tem mais?
– Sim, o peta, mil vezes maior que o anterior. Mas não se conhece a origem dela, por incrível que pareça. Deve ter vindo da cabeça de um cientista meio distraído que se esqueceu por que escolheu essas letras.
Mas tem mais; multiplicando esse número por outros mil, vem o exo– do Grego exo-, “fora”. Depois se segue o zetta-, derivado da letra grega zeta, “Z”, e ainda o yotta-, de iota, o “Y” do seu alfabeto. Parece que eles concluíram que estava difícil de inventar prefixos mais criativos para núm eros tão descomunais.
– Elas se aplicam a bits e bytes. E estas, de onde vêm?
– O bit é uma contração de binary digit, que teve seu uso inicial em 1947. Isto quer dizer “dígito binário”. Um computador, por maior e sofisticado que seja, só lê informações em termos de atributos de dois valores. A partir de estados de zero ou um ele faz todas essas maravilhas que conhecemos.
– E o byte?
– Este designa um conjunto de oito bits, e permite registrar qualquer algarismo ou letra usando o sistema binário. Foi criado em 1956 e se escreve assim para evitar confusão com a palavra bit.
E há outras palavras com uma origem inesperada. Por exemplo, o spam. Esta vem do nome de um produto de carne enlatada de grande uso nos EUA, que é uma contração de spiced ham, “presunto temperado”.
Ela foi fabricada em quantidades enormes durante a Segunda Guerra Mundial, pois era uma maneira de levar proteína de boa qualidade – se bem que talvez de sabor discutível – aos soldados americanos. Aliás, ela ainda é um alimento usadíssimo nas ilhas do Pacífico, cujos habitantes conheceram as latinhas prismáticas através desses soldados. E parece que, não por coincidência, se encontram entre os povos com maior incidência de obesidade no planeta.
– E por que usaram esse nome? Os primeiros informautas ficavam comendo essa coisa enquanto esperavam que seus computadores movidos a manivela fizessem alguma coisa?
– Acontece que, em 1970, a rádio inglesa BBC passava uma série cômica na qual havia uma lanchonete onde todos os pratos continham spam, numa crítica à abundância desse alimento. Um coro cantava elogios ao spam, de onde veio o significado de “conversa não solicitada que é forçada sobre a gente”.
– Isso me lembra que tenho ouvido gente pronunciar “blutú” em vez de Bluetooth. Talvez algum dia esse termo entre desse jeito para o nosso idioma, coitado.
Aqui está outra história muito interessante: bluetooth quer dizer “dente azul” em Inglês. É uma tradução do Escandinavo blatann, que era o apelido do rei Harald Gormssen (cujo dentista não devia ser grande coisa) da Dinamarca e partes da Noruega, que forçou tribos discordantes a fazerem parte do mesmo reino.
A ideia da Ericsson, a empresa que criou essa tecnologia sem cabo, é que ela reúne num padrão único diferentes protocolos de comunicações, com o o bom rei Haroldo fez com as tribos.
– E o rei tinha dente azul mesmo?
– Consta que eles chamavam a atenção, mas uns dizem que era porque ele vivia comendo frutinhas do mato, outros dizem que ele tinha cabelo muito escuro, o que era raro na região… enfim, não se sabe. O certo é que esse rei escandinavo falecido pouco antes do ano novecentos é lembrado com frequência.
– Mesmo sem se saber bem por que.
– Correto. Mas agora você sabe.
– E vou me exibir com meus conhecidos. Pensando bem, retiro o que disse no começo, Vô, você até que é bem espertinho para uma pessoa da sua idade.
E me raspei antes que ele me atirasse algo na cabeça.