OSSOS II [Edição 76]

 

Olá, crianças. Lembram-se que na última aula a gente falou sobre um osso de dinossauro que o Soneca achou no pátio e que não passava de um osso de galinha roído? E que através disso aprendemos a origem dos nomes de vários ossos humanos?

Pois hoje vamos continuar aprendendo sobre o assunto.

Vamos ver… Podemos começar falando na bacia… eu sabia o que viria a seguir. “Balde”! “Vassoura!” “Mangueira!” Aquietem-se, que aqui ninguém está por lavar o piso. Essa palavra vem do Latim baccinum, diminutivo de bacca, “recipiente para água”.

Esse nome é dado a um conjunto de ossos soldados entre si que se situam no assoalho da pelve, que é a parte mais baixa do tronco.

Ora, Valzinha, por que! Porque lembra uma bacia mesmo. Tá bom, com certa boa vontade, vá lá.

O importante é que ela se forma por três ossos; um deles é o ísquio, que vem do Latim ischium, do Grego iskhion, “quadril”.

Ele tem um encaixe redondo para o encaixe do fêmur que se chama acetábulo, que vem do Latim acetabulus, “recipiente raso para vinagre”, de acetum, “vinagre”.

Junto a ele fica o ílio, de ile, “flanco”.

E mais no centro temos o púbis, de pubes, “pelos que começam a nascer por influência hormonal na adolescência, na puberdade”.

Bem atrás da bacia fica um osso sobre o qual muitas vezes a gente cai durante o recreio. É o cóccix, que na verdade  é um conjunto de vértebras soldadas. Vem do Grego kókkiks, “cuco”, porque alguém algum dia desembestou que lembrava o bico de um cuco.

Acima desse se encontra o sacro ou sacral, de sacrum, “sagrado”.

Não, não era porque fosse proibido tocar no sacro alheio, embora isso continue de mau gosto até hoje. Era porque esse era o osso que era encontrado menos afetado quando alguém era queimado, já que ficava bem protegido pelas estruturas adjacentes.

Credo.

Antes que o Joãozinho ali venha com alguma piada, vamos passar para o famoso fêmur, o maior osso de nosso corpo. Seu nome vem de femur, “coxa”.

Ele termina na articulação do joelho onde faz saliência um osso chamado…

Lamento, os que disseram “rótula” estão errados, pelo menos de acordo com as normas
anatômicas. Antes era esse o nome oficial dele, derivando de rotula, “rodinha”, diminutivo de rota,  “roda”. E é parecido mesmo.

Mas agora ele se chama patela, de patella, “pequeno prato usado em sacrifícios”.

Não, não vou falar de sacrifícios sanguinolentos nem descrever cenas bárbaras para satisfazer os gostos atuais    das crianças.

De sacrifício já basta o que eu faço todos os dias em agüentar certas pessoinhas que fazem de tudo para afetar meu equilíbrio emocional. E depois ficam com caras inocentes, me olhando com olhos muito grandes.

O fêmur se articula com a tíbia, cujo nomezinho vem de tibia, que inicialmente queria dizer “flauta”. Sim, era usado para fazer flautas, mas creio que os de gente eram grandes demais para isso. Provavelmente os faunos, para saírem correndo atrás das ninfas, usavam tíbias de animais menores mesmo.

E parem de tentar arrancar as pernas uns dos outros! É proibido fazer flautas de ossos humanos. Pelo menos na minha aulinha.

Sim, Lary? Por que os piratas usavam tíbias cruzadas na sua bandeira? Não foi sempre assim. Eles usavam de tudo, desde esqueletos a caveiras e desaforos. O que importava era que o fundo fosse preto, o que significava “luta sem quartel”.

Ai, que crianças curiosas. “Sem quartel” queria dizer que a coisa era à morte, não havia abrigo nem pedido de desculpas nem afirmação de que “mamãe está me chamando ali adiante” que valesse.

Outro participante dessa articulação é… de novo, quem disse “perônio” errou. Esse nome vinha do Grego perone, “alfinete para prender roupa, broche” e foi substituído por fíbula, que quer dizer o mesmo mas pertence ao Latim.

E antes que me perguntem a razão dessas mudanças, aviso que não sei. Decerto os responsáveis pela nomenclatura anatômica estavam com tempo sobrando.

No pé encontramos uns ossos complicados junto à articulação do tornozelo. Não vou falar sobre eles porque é demais para as suas cabecinhas. Só vou dizer que eles são os ossos do tarso, do Grego tarsos, “tornozelo”.

Aí vêm, no dorso do pé, uns ossinhos compridinhos que são os metatarsianos, de metá, “além”, já que ficam para lá do tarso.

Querem mais ainda? Tia Odete já falou em praticamente todos os ossos, exceto os sesamoides. Eles são ossinhos que surgem em locais de articulações, para ajudar a mudar o ângulo das forças exercidas pelos tendões. Como são pequenos e arredondados, chamaram-se assim devido às sementes de gergelim, sesamon  em Grego.

Uffa! Agora vão em paz para casa. E, por favor, não tragam mais ossos roídos aqui para a nossa aula.

 

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