POMPA E CIRCUNSTÂNCIA [Edição 102]
Há momentos em que países ou instituições se promovem aparatos magnificentes, faustosos, de esplendor, para celebrar determinada data ou ocasião.
Para isso, eles providenciam desfiles, tocam música, seguem normas de cerimônia.
É sobre as origens de palavras correlatas que nos debruçaremos agora.
POMPA – deriva do Latim pompa, “procissão, pompa”, do Grego pompé, “procissão solene, demonstração”, literalmente “algo enviado”, de pompein, “enviar, acompanhar”.
CIRCUNSTÂNCIA – descreve “condições que cercam um fato e que são inerentes à sua natureza”. Vem do Latim circum-, “ao redor”, mais stantia, de stare, “estar de pé”.
Usa-se também no sentido de “cerimônia, formalidade”.
CERIMÔNIA – é do Latim caerimonia, “caráter sagrado, rito reverencial”, possivelmente de origem etrusca.
MAGNIFICÊNCIA – vem de magnífico, do Latim magnificus, “aquele que faz grandes obras”, de magnus, “grande”, e facere, “levar a efeito, fazer”.
GRANDIOSIDADE – de grande, do Latim grandis, ligado a gravis, que alguns teorizam derivar do Sânscrito guru, “pesado, sério”.
DESFILE – muitas ocasiões de pompa são acompanhadas de um desfile militar ou cívico. Esta palavra vem do Latim des-, um prefixo negativo, mais filum, “fio, fiapo de tecido”.
Normalmente um desfile é organizado com pessoas umas atrás das outras, lembrando um fio retirado, “desfiado” de uma peça de pano.
SOLENIDADE – do Latim solemnitas, “observância de uma cerimônia, de uma ocasião ritual”, de solemnis, “formal, tradicional, cerimonial”, possivelmente relacionado a sollus, “inteiro”.
POSSE – normalmente o fato de se assumir um cargo público de destaque é marcado por uma cerimônia de posse. Esse é o ato de possuir, de ter, e se origina do Latim potere, “poder”. Veio do Sânscrito patyati, “proteger, dominar”.
COMEMORAÇÃO – do Latim commemoratio, de commemorare, “lembrar-se, trazer à mente”, de com-, intensificativo, mais memorare, “lembrar-se”, de memor, “aquele que se lembra”. E esta parece ter vindo do Sânscrito smarami, “lembro-me, desejo”.
JUBILEU – muitas vezes é o nome dado a solenidades que comemoram o aniversário de uma data importante.
Veio do Latim jubilaeus, do Grego iabelaios, do Hebraico iobhel, “festividade feita a cada 50 anos”, originalmente “chifre de carneiro”, do qual era feito o instrumento que conclamava o povo para a comemoração.
A ligação dessa palavra com “época de regozijo, de festas” se deu por associação com o verbo latino jubilare, “gritar de alegria”, casualmente bem parecido com iobhel.
ESPLENDOR – aparece com frequência nessas ocasiões. Vem do Latim splendere, “brilhar, refulgir”, do Indo-Europeu splend-, “brilhante”.
OSTENTAÇÃO – às vezes o que é esplêndido passa dos limites e vira exibicionismo. Ostentar vem do Latim ostendere, formado por ob-, “à frente”, mais tendere, “alongar, esticar”. É como se uma pessoa alongasse ou exagerasse suas posses ou qualidades para impressionar os outros.
GALA – do Francês galer, “alegrar-se, regozijar”, possivelmente do Frâncico wala-, “bom, bem”.
DIGNIDADE – é o que todas as pessoas que se apresentam em ocasiões assim devem demonstrar. Mas nem sempre dá certo, seja pela figura delas, seja por algum traje ridículo que ostentam.
Veio do Latim dignitas, “o que tem valor”, de dignus, “digno, valioso, adequado, compatível com os propósitos”, do Indo-Europeu dek-no-, de uma base dek-, “tomar, aceitar”.
PROTOCOLO – é um conjunto de regras a serem seguidas em determinada ocasião. Um protocolo era a página inicial de um daqueles rolos que eles usavam em vez de livros, porque era a primeira página a ser colada (do Grego protos, “o que vem antes”, mais kolla, “grude, cola”). Ali iam o nome do autor, o nome do livro, a errata, os capítulos, etc.
De “primeira página de uma publicação”, esse sentido mudou para “informação oficial” no Latim Medieval e depois para “registro de uma transação”, para “documento diplomático” e “fórmula de etiqueta diplomática”. Atualmente também se chama assim o local de uma repartição pública onde são recebidos documentos.
SENSACIONAL – é como que os donos da comemoração desejam que ela seja vista pelo público.
Deriva do verbo latino sentire, “sentir”; daí se fez sensatus, “aquele que é capaz de sentir”. Lá pelo século 18, a palavra sensação passou a ser usada também com a conotação de “trazer espanto ou choque ao grupo ou à comunidade”. Tal espanto pode ser causado também pela extensão das boas qualidades, e o passar do tempo levou essa palavra a ter apenas o atual sentido positivo, elogioso.