VIAGEM [Edição 61]
Eu estava comentando com meu avô a viagem que meus pais fariam a outro país. Eu estava meio incomodado por não me levarem junto, mas entusiasmado por ficar sozinho em casa, de dono do pedaço.
– Eles tiveram muito trabalho e gastos com você, meu caro, agora é a vez de eles aproveitarem. Seja paciente e ganhe o dinheiro para a sua viagem, quando chegar a sua vez.
Lembro-me de quanto eles estudaram e trabalharam sem se queixar enquanto você crescia.
Falando nisso, já lhe contei a origem da palavra viajar?
– Vai contar já, imagino. Deixe eu me acomodar.
– Ela veio do Latim viaticum, “jornada”, originalmente “provisões para uma jornada”, derivado de via, “caminho, estrada”.
Note que, na Igreja Católica, existe um sacramento dado aos doentes ou moribundos chamado de “viático”, que se considera uma preparação para outro tipo de jornada.
– Brr. E ajuda nela?
– Até agora ninguém se queixou. Mas é verdade que tampouco teve ocasião. Mudando para coisas mais viventes, vou contar-lhe que isso que seus pais vão fazer, turismo, tem seu nome derivado do Francês tour, “volta, circuito, volta ao redor”, de tourner, “fazer a volta”, do Latim tornare, “fazer dar a volta, polir, girar um torno”.
– Está certo, pois numa viagem de turismo a gente acaba saindo, dando uma volta e regressando para casa.
– Muito bem, você é menos burro do que parece, eu sempre digo. E para tentar melhorar mais ainda essa situação, informo que passeio vem do Latim passare, “passar, caminhar”, de passus, “passo”.
– E uma excursão, como aquela que fiz com o colégio, Vô?
– Vem do Latim excursio, “saída militar, expedição, corrida para a frente”, de ex-, “fora”, mais currere, “correr”.
– Mas nós não corremos, fomos caminhando…
– Mais uma gracinha dessas e você vai ter que sair daqui correndo. Aproveite para aprender, sujeitinho!
Por exemplo, aprenda que expedição vem do Latim expeditio, relacionado a expedire, “liberar, tornar adequado, aprontar”, literalmente “livrar os pés das cadeias”, de ex- mais pedis, “corrente, peso para os pés”, de pes, “pé”.
– O pai de um colega meu trabalha na expedição de uma firma.
– Nesse lugar as empresas despacham as suas mercadorias, fazem-nas sair para percorrer o mundo. Daí o nome.
E o nome que se dá a uma peregrinação, você sabe de onde vem? Claro que não, a pergunta foi apenas retórica. Vem do Latim peragrare, “andar sem destino”, feito por per-, “através”, mais ager, “campo”, originalmente “terra selvagem”.
Mas seus pais não estão fazendo nenhuma viagem religiosa, que eles não são disso, nem andando soltos pelo campo; o que eles disseram que queriam ver era “cidades com mais de dois mil anos e menos de cinco mil habitantes”. Escolheram cuidadosamente o itinerário para tentar o seu objetivo.
Claro que essa palavra vem do Latim itinerarius, “relato de uma viagem”, de iter, “jornada”, derivado de ire, “ir”.
– E safári, Vô?
– Ah, essa vem do Swahili safári, “jornada, expedição”, do Árabe safar, “jornada”.
– E essa jornada de que o senhor tanto fala?
– Vem do Francês journée, “o trabalho ou o trajeto feito num dia”, do Latim diurnum, “feito durante o dia”, de dies, “dia”.
Existe o verbo “jornadear” em nosso idioma, como sinônimo de “viajar”.
E a palavra “jornal” como “publicação diária com notícias” vem do Francês papier journal, “folha, documento diário”.
– Legal… Eles não vão pegar uma caravana, né? De onde vem esta?
– Do Francês antigo carouan, trazido durante as Cruzadas do Persa karwan, “grupo de viajantes do deserto”. É pouco provável que eles andem numa caravana, mas muito bem podem fazer uma parte do trecho numa van, que é um encurtamento inglês para essa palavra.
– Depois de tanto tempo foram pegar uma palavra antiga dessas para designar uma camionetona?
– Ela não é de uso tão moderno como você pensa. Está em atividade para “veículo coberto” pelo menos desde os anos 1600.
– O senhor devia ser bem pequeno então, Vô…
– Nada disso, eu já tinha matado muitos dinossauros naquela época, quando a gente saía em explorações e… taí, esta palavra vem do Latim explorare, “investigar, procurar, examinar”, de ex-, “fora”, mais plorare, “gritar”.
– E essa agora? O que uma gritaria tem a ver com isso?
– Tem a ver que se tratava de uma linguagem usada em caça, quando se lançava um grito ao localizar o objeto do próximo churrasco.
E falando em churrasco, agora pretendo fazer um para a gente, no qual vou tentar repor as proteínas gastas tentando iluminar a sua pobre mente.
Chega de perguntas e de sabedoria, vamos relaxar um pouco.