Palavra asséptico

PARECENÇAS

 

Em outros artigos deste site já houve estudo sobre palavras que são muito semelhantes em sua forma, mas que se diferenciam pela origem e pelo sentido. Elas se chamam parônimas, do Grego para-, “ao lado”, mais onymos, “nome”.

Sua ocorrência é comum e pode dar origem a enganos.

Vamos olhar algumas dessas duplas.

 

BÁRIO – é o elemento de número atômico 56, um metal alcalino usado em ligas e para preparação de pigmentos. Deve-se ter cuidado com ele, pois pode inflamar simplesmente pelo contato com o ar. Além do mais, alguns produtos dele podem trazer riscos toxicológicos.

Seu nome foi escolhido a partir do Grego barys, “pesado”.

VÁRIO – quer dizer “múltiplo, com muita diversidade, sortido”.

Vem do Latim varius, “diferente, variado, com diversas cores”.

 

ABSOLVER  –  do Latim absolvere, “liberar, libertar, afrouxar, dispensar”, de ab, “de”, mais solvere, “afrouxar, soltar”. Significa perdoar, dar por inocente uma pessoa acusada, isentar de penalidade.

ABSORVER  –  de absorbere, “engolir”, de ab já citado, mais sorbere, “chupar, engolir”.

ADSORVER  –  sim, tem mais… Este processo se caracteriza pela distribuição de uma substância por uma superfície sólida formando uma camada muito fina; vem de ad-, “a, para”, mais sorbere.

 

INFECCIONADO  –  do Latim infectio, de inficere,  ”sujar, contaminar, conspurcar”, literalmente “mergulhar, molhar em”, formada por in, “em”, mais ficere, uma forma de facere, aqui mais com o sentido de “realizar”.

Inicialmente a palavra infecção era usada para denotar “contaminação” em geral, inclusive no campo das idéias.

Com as descobertas de Pasteur, ela passou a ser usada também para designar a invasão de uma parte do corpo por micro-organismos.

AFICIONADO  –  do Espanhol aficionado, “devotado, fã, entusiasta”, de afección, “ato de ter gosto ou paixão por alguma coisa”.

E esta, por sua vez, vem do Latim affectio, “inclinação, influência, estado permanente de sentir”, de efficere, “fazer algo a alguém, agir sobre”.

 

ABDUÇÃO  –  este é o ato de afastar uma parte do corpo da linha média, para o que são usados os músculos abdutores. Descreve também o ato de arrebatar alguém com violência. A julgar por certos documentários da TV, isto ocorre todos os dias por parte de seres extraterrestres.

Vem do Latim ab-, “para fora”, mais ducere, “conduzir, levar, guiar”.

ADUÇÃO  –  agora se trata do movimento de trazer uma parte do corpo para a linha média. Ou da ação de trazer água para uma rede distribuidora.

Veio do Latim ad, “a, para”, mais ducere.

 

APÁTICO  –  vem do Grego apátheia, “insensibilidade ao sofrimento ou ao sentir de modo geral”, de a-, “sem”, mais pathos, “capacidade de sentir”.

Usa-se para descrever uma pessoa desprovida de emoção, paixão, sentimentos.

HEPÁTICO  –  quer dizer “referente ao fígado”.

Só que era o nome do órgão em Grego era hepar. Por que os romanos o chamaram de “fígado”?

Isso vem da época em que os gansos começaram a ser alimentados com figos (ficus), com o que seu fígado sofria uma degeneração gordurosa e servia como base para o que os franceses chamaram de pâté de foie, “patê de fígado”. 

O órgão da pobre ave passou a ser chamado então de hepar ficatus, algo como “fígado figado”, ou seja, “tratado com figos”. Depois que a palavra hepar caiu fora da expressão,  o nome da glândula acabou virando “fígado”. Para compensar, ela é muito usada na linguagem culta, em palavras como ”hepatite”, “hepatomegalia” e outras.

 

APRENDER  –  de ad, “junto” mais prehendere, com o sentido de “levar para junto de si”, metaforicamente “levar para junto da memória”.

E este verbo se origina em prae-, “à frente”, mais hendere, relacionado a hedera, “hera”, já que essa planta trepadeira se agarra, se prende às paredes para poder crescer.

APREENDER  –  da mesma origem. Mas ela manteve o duplo “E”, do meio do qual desapareceu o “H”. Usa-se para indicar o ato de “confiscar, tomar posse por direito”.

 

ARCO  –  do Latim arcus, “curva, arco”, de uma raiz Indo-Europeia ar–, “dobrar”.

ARCA  –  este objeto feito para guardar coisas vem do Latim arca, “cofre, arca”, derivado de arcere, “guardar, manter sob vigilância”.

Portanto, a arca não é a mulher do arco.

 

ATALHO  –  usa-se para designar o que representa um caminho mais curto, para um trajeto que abrevia uma distância. Vem de talhar, “cortar”, que veio do Latim taliare, “cortar”.

A palavra talharim tem a mesma origem, pelo fato de a massa ser enrolada e cortada para produzir os fios desse prato.

ATILHO  –  trata-se de uma tira de pano estreita, de barbante, de borracha, que sirva para manter unido um conjunto de coisas.

Vem de atar, do Latim aptare, “acomodar, adequar, unir”, derivado de apere, “apertar”.

 

ASCÉTICO  –  usa-se para descrever uma pessoa austera, sisuda, de hábitos simples como os de um monge. Vem do Grego asketes, “aquele que se exercita, atleta”, de askein, “fazer, exercitar-se”, pois essa dedicação torna a pessoa menos acessível às tentações do lazer.

ASSÉPTICO  –  do Grego a-, negativo, mais septikos, “podre”, de sepein, “fazer apodrecer”. Daí a aplicação a materiais que combatem micro-organismos e ajudam a manter uma sala cirúrgica em boas condições .

Resposta:

HORÓSCOPO I

Uma tarde, quando eu estava lá com meus dez anos, entrei no gabinete do meu avô e disparei:

– Por que o senhor é asséptico, Vô?

Ele me olhou espantado:

– Como assim, meu rapaz? Já fui acusado de várias coisas em minha vida, mas disso
é a primeira vez!

– É que o outro dia a Tia Beth estava contando como o horóscopo é importante para se conhecer as pessoas e pediu para não contar para o senhor, por que o senhor é muito asséptico.

O gentil velho riu até as lágrimas correrem pela face e falou:

– Não é asséptico que ela quis dizer, seu cabeça oca, é cético. A primeira dessas palavras quer dizer “aquilo que evita micróbios”, do Grego a-, negativo, mais septikos,
“podre”, de sepein, “fazer apodrecer”.

cético vem do Latim scepticus, do Grego skeptikos, literalmente “aquele que reflete, que indaga”, de skeptesthai, “refletir, olhar, vistoriar”, do Indo-Europeu skep-, “observar”.

Sua tia é uma pessoa muito querida, mas acredita em cada coisa estranha…

Mas ela disse certo, eu me orgulho de ser cético; ou seja, de refletir, de observar, de
indagar e não acreditar em coisas importantes simplesmente porque a maioria acredita, sem provas.

– E de onde vem esse tal de horóscopo?

– Essa palavra vem do Grego  horoskopos, “nascimento, previsões para o futuro da pessoa”, formada por hora, “momento, dia, hora”, mais skopeo, “eu vejo”. A ideia é de que a Astrologia, estudando a configuração dos astros no céu quando a pessoa nasce, possa predizer suas características e acontecimentos importantes no futuro.

– E Astrologia, de onde vem?

– Ela vem do Grego astron, “estrela”, mais logos, “estudo, tratado”.

– Mas parece que o senhor não acredita muito nisso, né?

– Você é muito jovem mas já percebe quando algo não me entusiasma. Quem tem uma formação científica passa dificuldades para engolir as afirmações do pessoal da área.

– Por que, Vô?

– Porque eles se baseiam na Astrologia antiga. E ela não contemplava três dos planetas  que foram descobertos há menos de dois séculos e que são Plutão, Netuno e Urano.

Se eles exercem alguma influência à distância, como afirmam os horoscopistas, como é
que se viam sem eles para fazer previsões?

– Só por isso, Vô?

– Já não é pouco. Mas os horóscopos atuais se baseiam em constelações que estavam em certos pontos do céu há dois mil anos, e por causa de uma tal Precessão dos Equinócios, que não vou explicar ainda porque você é muito pequeno e porque estou com preguiça, não se encontram mais ali. O resultado é que quem acha que nasceu sob um signo há muito tempo pertence a outro. E isso muda todas as características esperadas para a pessoa.

– Tem mais?

– Sim. Eles não levam em conta a presença de massas como os asteróides, cometas e até a do obstetra que faz o parto, que tem um efeito gravitacional muito maior do que
o dos planetas, por estar mais perto do recém-nascido.

– Mas então por que acreditam nisso?

– Pode ter certeza de que eles dizem que esses argumentos todos não passam de tentativas para afastar as pessoas de Verdade e que modernamente não é mais assim e que isso é sabedoria dos Antigos e etc., etc. Enfim, há muita coisa envolvida, inclusive uma indústria que recebe dinheiro de quem acredita no assunto.

Mas antes que eu fique bravo com isso, vamos falar de coisas mais inofensivas, como as origens de palavras relacionadas com o assunto.

– Oba! Historinhas!

– É isso mesmo, e eu sei que você gosta de ouvir. Vamos ver: zodíaco, por exemplo, vem da expressão grega zodiakos kyklos, literalmente “círculo de pequenos animais, de
figurinhas”, formado por zoon, “animal”, mais kyklos, “círculo, roda”. Designa o conjunto de constelações que se encontra na trajetória do Sol ao longo dos céus.

– E constelação?

– Do Latim constellatio, “conjunto de estrelas”, de com-, “junto”, mais o particípio passado de stellare, “brilhar”, de stella, “estrela”.

– Tia Beth diz que o senhor é Touro, que por isso é teimoso…

– Ah, essas coisas são divertidas… O nome dessa constelação vem do Latim taurus, “touro”, que parece vir do Indo-Europeu steu-ro-, “ser forte, ser grande”, como convém a qualquer touro que se respeite.

Temos em Química a palavra taurina, que designa uma substância que foi encontrada pela primeira vez na bile de touro e portanto nada tem a ver com estrelas.

Diziam os gregos que Zeus, o Pai dos Deuses, uma vez se apaixonou por uma ninfa muito bonita chamada Europa, e que se transformou num belo touro branco muito mansinho que se aproximou dela.

– E ela?…

– Disse “Que bonitinho!”, subiu no seu pescoço e começou a enfeitá-lo com flores.

– E então?

– De repente ele se atirou no mar e nadou até a ilha de Creta,onde eles casaram e
tiveram filhos.

– E foram felizes para sempre?

– Não, porque com os deuses a coisa era muito complicada.

– Puxa, que história. Mas diga, eu sou de Áries, de onde vem isso?

– Ah, meu carneirinho, você tem muito tempo para dar suas cabeçadas neste mundo. Esse era o nome latino para “carneiro”, de uma raiz ligada ao significado de “saltar, pular”, coisa que os carneiros gostam de fazer. Em Latim, arietare significava “bater,
golpear com a cabeça”, mais uma atividade em que se destacam esses animais.

Na antiguidade se usavam os aríetes, troncos que muitas vezes ostentavam uma cabeça de carneiro de bronze na extremidade, para bater nas portas de muralhas e pô-las abaixo.

– E tem alguma lenda sobre ele?

– Claro que sim. Antigamente o pessoal, em vez de olhar TV, ficava nas cavernas gastando tempo livre em inventar histórias. Era bem mais produtivo que agora.

O carneiro dessa história seria um animal de pelo de ouro enviado pelo deus Hermes para proteger duas crianças que estavam sendo maltratadas na casa de seu pai, o rei da Tessália.

Mas por agora chega, que eu nunca fui tão velho na minha vida e agora canso de falar.
Se quiser, volte outro dia para a gente falar mais sobre o assunto.

– Sem falta, Vô!

E saí pensando em quantas histórias ainda ouviria de meu avô.

 

 

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