JOIAS
Vejam só. Todos os meninos da aula estão no campeonato de futebol e as meninas se recusaram a ir torcer por eles, de tanto que eles as incomodam. Acho que fizeram muito bem, garotas. Eles não merecem seus aplausos. Deixem-nos para lá e vamos aproveitar para aprender algum assunto não agradaria a eles. Por exemplo, joias.
Essa palavra que faz brilhar os olhos das moças veio do Francês jouel, “ornamento, adorno, joia”, possivelmente do Latim gaudium, “alegria”, já que uma joia costuma causar isso numa moça. E ás vezes é dada por um marido que aprontou alguma coisa indevida como maneira de ser desculpado. Os bobos ficam pensando que a gente esqueceu, ah, ah.
Existem muitos tipos de joias. Por exemplo, a corrente que se usa ao pescoço e que deriva do Latim currere, “correr”, pois um conjunto de elos tende a deslizar, a correr, quando puxado.
O que me lembra do colar, do Latim collum, “pescoço”. E não venham me dizer que é porque antigamente as donas colavam esse enfeite no pescoço para que não fosse roubado!
Isso é baixaria etimológica de quem não sabe que o material usado para uma coisa aderir a outra tem outra origem; vem do Grego kolla, “cola, goma, material grudento”.
Falando em pescoço, temos também a gargantilha, do Espanhol gargantilla, diminutivo de garganta.
Não preciso explicar o que é isto, apenas direi que se origina do Latim gurguis, “goela, garganta”, de origem imitativa. Quando a gente gargareja algum remedinho que o doutor receitou para a dor de garganta, faz o som que originou essa palavrinha.
De construção parecida com a corrente temos a pulseira, que deriva do Latim pulsus, “batida, abalo, sacudida”.
Não, Ledinha, a palavra não foi inventada porque a gente sacode o pulso para mostrar a pulseira nova que ganhou, não. Ela vem do fato que a região do antebraço logo acima da mão é um local adequado para se sentir o pulso, as batidas do coração.
Se subirmos corpo acima para colocar mais joias, poderemos nos deparar com uma tiara. Sua origem é o Latim tiara, do Grego tiara, “adorno de cabeça dos nobres persas”.
Depois eles se queixam de que nós mulheres nos interessamos por joias. Mas foram eles que começaram usando esta!
Muito bem, parem de me aplaudir. Senão eu vou me esquecer de que queria falar agora sobre diadema, outro enfeite que se coloca sobre a cabeça e que vem do Latim diadema e do Grego diádema, “banda, faixa”, do verbo diadein, “atar ao redor”.
Nas orelhas estão os brincos, do Latim vinculum, “aquilo que liga, que ata”, já que eles são unidos às orelhas por suas armações.
E nos dedos? Pode-se usar uma aliança, do Latim alligare, “unir a”, de ad, “a”, mais ligare, “unir”. Ela representa o vínculo, a aliança que se forma entre duas pessoas através da cerimônia do matrimônio e que…
Sim, Valesquinha? Um casal lá do seu condomínio vive se atirando pratos e amaldiçoando o dia em que trocaram alianças? Ah, bem, isso não é assunto para ser discutido aqui na aulinha e você devia se dedicar mais aos temas de casa do que a meter seu nariz nas broncas dos vizinhos.
Se não usamos uma aliança no dedo, podemos usar um anel, do Latim anellus, “pequeno objeto de forma circular”.
Preso à roupa podemos colocar um broche. Esta palavra francesa vem do Latim brocchus, “pontudo, aguçado”, e faz referência ao alfinete que se usa para manter o objeto no lugar.
Daí vêm também os nomes da broca do dentista, que serve para furar, da broca do marceneiro que é colocada na furadeira e que faz um furinho bem redondinho, bem como o de certos vermes aquáticos ou insetos que fazem buracos para procurar alimentos ou para fazerem suas casinhas.
Eles são perseguidos pelos homens porque fazem buracos nos cascos dos navios ou porque comem as plantações, mas tudo o que desejam é fazer uma casinha para poderem colocar as caminhas quentinhas dos seus filhotes.
Esqueci-me de citar que nas correntinhas a gente pode colocar um pingente, que deriva do Latim pendere, “estar pendurado”, de onde veio pêndulo, “aquilo que pende”. É muito chique chamá-los pelo nome francês, pendentif.
Também se pode colocar na pulseira, no chaveiro, etc., um berloque. Esta vem do Francês breloque, “pequeno enfeite pendurado, muitas vezes de pequeno valor”. E passou por fases e parentes estranhas, como emberlificoter, emberlicoquier e byrelicoquille, descrevendo “objeto de pouco valor”. Mas vamos deixar essas palavras complicadas para depois, para quando vocês todas forem estudar francês para suas viagens à França.
Espero que então vocês se lembrem de comprar alguma joia como lembrança para quem as guiou no primeiros meandros da Etimologia.
Agora vão para casa mostrar às suas mamães quanta coisa aprenderam hoje.