Palavra cachorro

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Palavras: cachorro

Origem do nome cachorro

Resposta:

A palavra cachorro vem do Latim catulus, depois de passar pelo Basco, que lhe mudou o final para orro. Lá em Roma, significava “filhote” – filhote de qualquer animal.

Nomes De Alimentos

Todos somos obrigados a comer alguma coisa diariamente. Seja em que quantidade e de que qualidade forem os alimentos, precisamos manter acesas as fornalhas, ou o organismo pára. Vamos nos debruçar um pouco sobre as origens de alguns nomes daquilo que ingerimos comumente.

SANDUÍCHE – quando você vai fazer um sanduichinho com presunto defumado, queijo Dambo, tomate, alface, mostarda, pequenas tiras de pimentão, pedaços de azeitona – coisa simples! – você talvez não imagine que está repetindo gestos que a humanidade faz há muito tempo.

As legiões romanas já comiam sanduíches; eles também fazem parte da Páscoa judaica, o que significa que eles são usados há milhares de anos.

Na verdade, colocar um recheio entre dois pedaços de pão não parece requerer uma criatividade muito desenfreada. Mas, quando é bem feito, vale a pena.

Muito já se falou na origem de tal petisco; quase todos sabem mais ou menos de onde veio o seu nome. Vamos apenas acrescentar alguns pormenores.

Na Inglaterra viveu, entre 1718 e 1792, o quarto Conde de Sandwich, cujo nome era John Montagu. Parece que o nome original da família era, na verdade, Sandwith, que queria dizer “vau arenoso”.

Pois este nobre personagem era extremamente apegado ao jogo de cartas. Gostava a ponto de não querer interrompê-lo. Se o castelo estivesse pegando fogo, o Sr. Conde só sairia quando as cartas começassem a arder.

Ele era capaz de passar horas a fio jogando, sem parar para fazer as refeições complicadas e cheias de pratos que, na época, condiziam com a sua posição.

Para resolver o problema, ele teve uma brilhante idéia: mandava a criadagem trazer à mesa de jogo bifes entre fatias de torrada e assim matava a fome com um alimento mais fácil de manusear do que um que exigisse prato e talheres.

De qualquer modo, dá para imaginar o estado em que deviam ficar as cartas. Será que ele nunca enfiou uma carta adversa entre duas fatias de pão para se livrar dela? Pensamentos maldosos…

Há quem diga que o primeiro sanduíche ordenado por ele viu a luz por primeira vez às cinco da manhã de 6 de agosto de 1762. Esta informação poderia servir para as lancherias comemorarem o Dia do Sanduíche.

Não foi o Conde que inventou esta forma de preparar um alimento; mas, por alguma razão, ele foi o nome certo no momento certo.

Nossa homenagem e agradecimento ao Earl of Sandwich!

MAIONESE – quando pedimos maionese no restaurante, nem desconfiamos que estamos homenageando uma pessoa falecida ainda antes da Era Cristã.

Trata-se do irmão de Aníbal, o Cartaginês, que viveu ao redor do ano 200 A.C.

O nome dele era Magon; ele fundou uma cidade que recebeu o seu nome na ilha mediterrânea de Minorca, atualmente em posse da Espanha. Muito tempo depois, a cidade de Magon acabou se chamando Mahon, depois Port Mahon e virando a capital da ilha.

Durante uma guerra, a cidade foi capturada pelo Duque de Richelieu, em 1756. Para comemorar essa vitória, o prato feito com gemas batidas e azeite recebeu o nome de mahonnaise em Francês e maionese em Português. Os americanos, para encurtar, agora a andam chamando de mayo.

É interessante saber que, até 1912, não era possível comer maionese sem que ela fosse preparada em casa.

Nesse ano, um proprietário de mercearia em Manhattan, chamado Richard Hellmann, começou a vender maionese pronta em potes de madeira. As pessoas gostaram muito de se livrar da trabalheira de bater os ovos e a idéia fez sucesso logo.

Por motivos higiênicos, passou-se para potes de vidro em 1913. Hoje comprar maionese pronta é coisa de todos os dias, a ponto de haver muitas pessoas que não conhecem o sabor da feita em casa.

CACHORRO-QUENTE – quem diria, esta comida tão americana não foi inventada por um americano.

Na primavera de 1906, o emigrante inglês Henry M. Stevens, que detinha a licença para vender sorvete e refrigerantes num estádio de “baseball” de Nova Iorque, estava se vendo mal: a temperatura estava anormalmente baixa e poucos fãs do esporte se interessavam em comprar seus artigos.

Obviamente, ele teria que vender algo que fosse quente. Ocorreu-lhe oferecer aos espectadores salsichas quentes, que na época eram conhecidas por salsichas dachsund.

Este era o nome alemão do nosso conhecido “cachorro salsicha”, canino que foi desenvolvido para desentocar pequenos mamíferos de suas covas. Para isso era muito útil o seu formato alongado e estreito.

Stevens teve a idéia de enrolar salsichas em pão, tanto para poderem ser seguradas como para mantê-las quentes.

Como houve boa aceitação do artigo logo de saída, ele colocou todos os seus vendedores a comprar as salsichas das redondezas. Deu a ordem de anunciá-las como red hot dachsund sausages, ou seja, “salsichas tipo dachsund em brasa”.

A idéia fez sucesso, ajudada por uma baforada de sorte: precisamente nessa noite, o cartunista de um jornal de muita circulação foi ao jogo e resolveu fazer um desenho sobre a novidade. Como ele não sabia escrever dachsund, chamou a salsicha num pão de hot dog, e desenhou duas delas latindo uma para a outra. O desenho foi logo veiculado no jornal e assim começou um sucesso de longa duração.

Antes se tinha tentado vender salsichas quentes, mas sempre se esbarrava com o problema de as segurar.Tentou-se entregar garfinhos de madeira e até luvas (!) para lidar com a situação, mas sem resultado comercial.

Como curiosidade, devemos acrescentar que o Sr. Stevens teve algum trabalho para eliminar os rumores de que as salsichas eram feitas com carne canina.

PÃO – em Latim, panis não era muito diferente do que é agora. Claro que já era feito com farinha como nos tempos atuais, e isso nos traz uma informação interessante. Nesse idioma, far era a palavra usada primeiramente para designar um tipo de trigo, cujo nome acabou gerando, depois, a nossa farinha.

Com essa farinha era feito o panis farreus, um ancestral do nosso bolo de casamento.

Já naquela época, quando ocorria um casamento, a festa muitas vezes ficava desenfreada. Podia virar uma verdadeira pândega, em parte por alegria, em parte por álcool mesmo. O nome do bolo, o tal panis farreus, acabou sendo associado à festa em si. A expressão acabou perdendo a sua primeira palavra e farreus virou a nossa muito conhecida farra.

Existe em Português uma palavra não muito usada, farrancho, que designa um grupo de gente se divertindo. Esta palavra é um desenvolvimento de farra.

Como muitas vezes a diversão se associa à comida, derivou daí o rancho, significando comida, refeição. Esta palavra encontrou abrigo no jargão militar e é muito usada nesse meio.

MANTEIGA – vem do Latim mantica, que era o nome dado à bexiga de animal usada para o transporte.

Nos países ibéricos, o nome passou do continente para o conteúdo. Daí temos manteca em Espanhol e, é claro, a nossa manteiga.

Na maioria dos outros países europeus, predominou a origem grega, butyros, que deu butyrum em Latim. Daqui temos beurre em Francês, butter em Inglês, boter em Neerlandês.

Agora que você está aprendendo Etimologia, não bata mais no garçon quando ele lhe sugerir uma massa al burro. O bom homem está apenas lhe propondo um prato feito ao molho de manteiga, cuja origem você já domina.

Já que falamos na manteiga, logo surge à mente a…

MARGARINA – ela foi inventada em 1869 por um francês, e era inicialmente feita a partir da gordura da carne bovina.

Esta continha um ácido graxo chamado margárico. Este nome se deve à cor perolada da substância quando cristalizada,
e o seu inventor resolveu aplicar esse nome ao produto.

Margarita em Latim significa “pérola”. As nossa amigas que porventura se chamem Margarida, Margarete ou Margô podem, outrossim, ser chamadas de “pérolas”. Provavelmente vão gostar.

O nome “pérola”, por sua vez, veio do Latim pirula, diminutivo de pirum, “pera”, já que o formato de pera é o de maior ocorrência entre elas.

GELÉIA – vem do Francês gelée, que deriva do Latim gelare, “gelar”. Note-se que glaceado, aquela fina camada de doce que se coloca sobre algumas delícias, vem de uma palavra (glacé) que significa “coberto de gelo” em Francês. Marron glacé significa “castanha coberta com gelo”. A semelhança é visual, não pela temperatura.

Resposta:

Cachorro

Aproximei-me devagar do gabinete do meu avô. A porta estava aberta, sinal de que o velho estava acessível.

Quando estava fechada, sabíamos que não era para entrar, nem mesmo bater. Meus primos e eu nos perguntávamos se, nessas ocasiões, ele estaria fazendo uma invenção estranha que o deixaria rico, se estava lendo ou simplesmente dormindo.

A possibilidade de ele estar lidando com múmias ou dissecando alguma criança das vizinhanças, embora aventada por um deles, me parecia muito remota, mesmo nos meus crédulos dez anos.

– Oi, Vô! Sabia que um cachorro quase me pegou hoje? Escapei por pouco!

– Cachorro de quê?

Com essa embatuquei. Comecei a balbuciar. Um sorriso brincou nos seus olhos profundos. Logo percebi que ele estava querendo ensinar, como era seu hábito. Ele se sentou na cadeira de balanço; eu puxei a banqueta junto a seus pés e me acomodei.

– A palavra cachorro vem do Latim catulus, depois de passar pelo Basco, que lhe mudou o final para orro. Lá em Roma, significava “filhote” – filhote de qualquer animal. A rigor, pode ser usado para todos os filhotes de mamíferos. Logo, você pode falar de cachorro de leão, de tamanduá, etc.

– Cachorro de vaca, cachorro de ovelha… – entusiasmei-me.

– Há uns animais que receberam nomes próprios para os seus jovens. Hum. Já que você trouxe os seus cachorros e suas ovelhas para dentro da minha paz, lembrei-me do Sânscrito.

Ele percebeu o meu ar confuso. O velho parecia sempre saber o que ia por dentro da gente, com aqueles seus olhos azuis que iam até o fundo da alma alheia.

– Sânscrito é o idioma literário usado na antiga Índia, que se demonstrou ser ligado ao Grego, ao Latim e a muitos outros. Outro dia eu falo mais sobre isso. Por ora, o que quero dizer é que uma raiz do Sânscrito, pac-, deu, em Latim, pecus. – fez um gesto com a mão, como se fosse um animal andando.

– Aí está um dos seus bichos: pecus quer dizer “ovelha”. Dessa palavra se originou “pecúnia”, que quer dizer, atualmente, “posses, dinheiro”, pois a posse de rebanhos significava riqueza.

– Ah, então quando o meu pai resmunga que os seus clientes estão com “problemas pecuniários”…

– Isso mesmo. É uma forma enrolada de dizerem que estão sem dinheiro ou, mais exatamente, que não querem pagar. Certamente seu pai fica nervoso quando isso acontece, não é?

– É verdade – falei, lembrando-me do clima tenso que surgia lá em casa nessas ocasiões.

– Pois é, veja só a sabedoria contida na formação das palavras: esta raiz também gerou a palavra pax, “paz” em Latim. É o sentimento que resulta – ou deveria resultar, se havida com honestidade – da posse das riquezas. O lar de vocês teria mais paz se o dinheiro não escasseasse às vezes.

Percebi que uma sombra passou pelo seu interior.

– Mas isso é uma fase que há de passar. Faz parte da vida de todos. Agora veja: as pessoas e o lugar ao redor daquele que possuía as riquezas e que dali também retiravam a sua subsistência, como a família, empregados, servos, aldeões próximos, constituíam o pagus, outra palavra que veio do tal pac. Você se lembra do que o seu pai disse quando voltou da última viagem?

– Sim: “Que bom voltar para os pagos!” Fiquei contente, achando que os clientes iam pagar…

– Não era bem o caso. Por pagos ele quis dizer o seu lugar, a sua terra. As pessoas que moravam no pagus, por estarem mais afastadas da urbs, a cidade, foram as que custaram mais a se converter ao cristianismo, daí a palavra pagão.

– É por isso que a Vó me chama de “pagãozinho”? Porque não fui batizado?

– Exatamente. Ela gosta de arranjar motivos para se preocupar. Para ela, você é um pagão, apesar de ser um garoto da cidade, um urbano. Acho que ela imagina que qualquer dia você vai fazer sacrifícios a Baal e comer criancinhas fritas.

– Baal? Parece interessante!

– Está aí material para outra conversa. Outro dia fale-me em Belzebu que daí já sai mais assunto. Mas deixe-me completar meu pensamento: não é fascinante ouvir o gaúcho cantar as saudades do seu pago e saber que essa palavra fez todas essas voltas geográficas e históricas? E antes que eu me esqueça, o nome do animal que queria morder você é cão.

Mas isso ninguém diz!

– É verdade. Na linguagem coloquial, cachorro tomou conta desse significado. Cão quase só se usa na escrita: “Cão maldito! Você me paga!”, ou “Filho de um cão”, etc. Fez um ar dramático de filme ruim em preto e branco quando disse isso e eu ri. Ele continuou:

– As únicas pessoas que eu vi usarem a palavra cachorro corretamente foram veterinários. Agora não sei se ainda o fazem, mas uma vez vi uma veterinária dizer “cachorro de gato”, e ela estava certíssima.

– Uma vez, quando eu era menor, ouvi o vizinho dizer que o senhor era um veterano, e achei que o senhor era um doutor de bichos!

– E há uma relação bem próxima entre essas palavras. Em Latim, vetus quer dizer “velho”. Daí veio “vetusto”…

– Quando o Pai disse que o seu carro, Vô, era vetusto, achei que era a marca! – Um relâmpago fuzilou em seus olhos:

– Pois o meu Vetusto anda melhor que muito Novusco por aí! – Mas logo deu uma risada e continou:

– Pare de me distrair. Deixe-me contar que os cavalos que serviam aos exércitos de Roma, quando ficavam idosos demais para o serviço, ficavam num lugar onde podiam desfrutar da folga que mereciam depois de tantas lutas. Os encarregados de cuidar deles eram os veterinarii, ou seja, “os que cuidam dos velhos”. Como estes acabavam também tratando da saúde dos animais, acabou surgindo a palavra veterinário com o sentido de médico de animais em geral. E desse vetus veio a palavra veterano, que é o que eu sou mesmo. Agora toca a brincar no pátio, que você já teve cultura suficiente por hoje.

– Tá bom, Vô. – Eu já estava no corredor quando ouvi que ele me dizia:

– Cachorro!

Por um instantinho eu me sobressaltei. Mas logo recordei o início da nossa conversa e me senti como um filhote aninhado nos braços do dono. Meu avô nem sempre colocava a gente no colo, mas sabia dar colo com as palavras.

Resposta:

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