Palavra gianduia

NAPOLEÃO E AS COMIDAS

Um dia levei para meu avô um chocolate de gianduia.

– Olha aqui, Vô, para você.

O velho o recebeu com mostras de satisfação:

– Muito obrigado, meu neto. É um gesto muito delicado, o seu. Tome aqui um pedaço. Colho a ocasião para apostar que você não imagina que personagem histórico famoso foi responsável por este doce.

Olhei-o sem dizer nada; há tempos que eu percebia quando uma pergunta dele era apenas retórica.

– Nada menos que Napoleão Bonaparte!

Ele, Vô?  Essa não!

– Escute: Napoleão estava em guerra com a Grã-Bretanha nos começos dos anos 1800.  Como parte dessa confusão, ele determinou um bloqueio econômico aos materiais que os ingleses e suas colônias comerciavam com o resto da Europa.

Em conseqüência, o pessoal do reino da Sardenha, que mais tarde viria a fazer parte do que hoje é a Itália, viu o preço do cacau subir às alturas. E eles gostavam muito de chocolate.

Vai daí que, no Piemonte, a região da sua capital, em 1806, eles resolveram fazer um chocolate diferente. Substituíram uns trinta por cento da manteiga de cacau por uma pasta feita com amêndoa, que era abundante e barata no entorno. E o resultado fez sucesso imediato.

Então alguém teve a ideia de dar ao novo material o nome de Gianduja, (o “J” soa como “I”), um personagem de marionetes e de carnaval que representaria o típico habitante da região.

– Muito bem, mas e o nome do personagem vem de onde?

– Tratava-se de uma figura descrita como portadora de maus costumes; este nome no dialeto regional era Gioann dla doja, “João do Caneco”.

– Quem diria, Vô! Napoleão como responsável por esta barrinha… Tem mais um pedaço aí?

– O Imperador dos Franceses teve mais ainda a ver com comida. E isso apesar de ele não gostar de passar muito tempo à mesa.

Por exemplo: em nosso idioma não se usa, mas na França se aplica o nome Napoléon para o que chamamos de mil-folhas.

– Ele tinha proibido o seu comércio também?

– Nada disso. Na verdade, ele entrou nessa de gaiato, ou de famoso. Originalmente parece que o doce, muito anterior ao nascimento de Sua Majestade,  era chamado de gâteau napolitain, “bolo napolitano”. E recebeu o real nome apenas pela semelhança.

Resolvi fazer gracinha:

– Não vá me dizer que ele tem mesmo mil folhas, Vô…

– Conforme o modo de fazer, ele não tem mil. Pode chegar até a absurdas duas mil e quarenta e oito folhas, já que as camadas de massa são dobradas várias vezes. Mas pode ter certeza de que na cantina de sua escola elas não têm tantas, não.

– Ainda bem, senão eu ia achar muito trabalhoso comer isso.

– Há mais ainda. Em  1800, Napoleão lutou na Batalha de Marengo. Seu exército enfrentou o dos austríacos e saiu vencedor.

Mas lutar dá fome; definida a situação, o Primeiro-Cônsul (seu cargo na época) tinha que jantar. E a cozinha do exército estava completamente desabastecida, pois os carros com mantimentos estavam ainda distantes. Seu chef, Dunant, enviou soldados para convencer, por amabilidade ou por outro método mais direto, as pessoas que viviam nas redondezas a colaborarem com a janta do General.

Desta maneira, conseguiu arrecadar um frango, uns camarões de água doce, tomates e mais algumas coisinhas e preparou um prato que agradou muito a Napoleão. Tanto que ele insistiria em comer a mesma coisa sempre depois de uma batalha. E que até hoje faz parte da culinária, com o nome Frango à Marengo.

– Que bela história, Vô!

– Também acho, mas já foi contestada. Um pesquisador diz que não poderia haver tomates disponíveis naquela época e que, na verdade, o prato foi inventado em algum restaurante francês para homenagear o general.

– Assim perde a graça…

– Às vezes a verdade tem menos graça do que a ficção.

– Já que estamos falando nele, de onde veio o seu nome?

Napoleão aparentemente é uma mistura do Germânico Nibelung, uma espécie de anões lendários, com Nápoles, o nome da cidade. Seja como for, trata-se de um nome muito antigo.

E Bonaparte, mais exatamente Buonaparte, é um sobrenome também antigo da pequena nobreza italiana. Forma-se por Buona, “boa”, mais Parte, “lado, parte”.

– E eu que achava que era muita coincidência uma criança ter nascido com um nome que viria a ser tão famoso!

– Tolice sua, mas muitas pessoas acham que certos nomes de gente famosa eram únicos e que pegaram fama a partir de seus donos.

Mas escute aqui uma fofoca: Napoleão tinha o péssimo hábito de derramar bebida ou comida, fingindo um acidente, sobre a roupa das damas quando não gostava delas. Das roupas, bem entendido.

– Coisa de criança, hein, Vô?

– Realmente. Mas, enfim, quando alguém assume uma coroa imperial aos trinta e cinco anos, algo da infância acaba se manifestando. Contudo, há quem diga que isso fazia parte de sua campanha para encorajar a produção interna do país, como resposta aos bloqueios ingleses. Sua primeira esposa, Josefina,  comprava uns novecentos vestidos por ano e até mil pares de luvas. No que toca a isso, o General fez a sua parte de ajuda à Economia.

– Enfim, certamente foi um grande guerreiro.

– Na verdade, conta-se que ele era um mau cavaleiro e atirador. O que realmente o distinguiu foram suas qualidades de estrategista, tático e capacidade de comando.

Mas vamos deixar o Imperador descansar em paz e viver as nossas vidinhas insignificantes mas tranquilas.

 

Resposta:

Não fui eu!

Palavras: gianduia

Eu quis dizer o-no-ma-to-pai-ca!!!!! Como é que escrevi errado, não sei. Será dislexia? Por que não apelei para o Control C + Control V? GIANDUIA está escrito certo?

Resposta:

Quis dizer uma coisa mas escreveu outra. Tia Odete não perdoa, diz que os aluninhos precisam prestar mais atenção. Tentamos dizer que foi uma crise disléxica mas ela não se convenceu.  

Gianduia se escreve assim, mas note que se trata de uma palavra estrangeira, por muito que se use por aqui.

É o nome dado a um chocolate com uns 30% de pasta de amêndoa, inventado em Turim durante a regência de Napoleão; foi tirado de GIANDUJA, um personagem de marionetes e de carnaval que representaria o típico habitante da região.

E este nome no dialeto regional era GIOANN DLA DOJA, “João do Caneco”.

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