Cri-an-ças! Aquietem-se, pelo amor de Santa Rita. Parem de pular, gritar, berrar, assobiar, matraquear, derrubar coisas e de esganar uns aos outros.
Deixem-me contar por que é que eu uso tantas vezes essa palavra para chamar a atenção de vocês.
Olhem bem, criança vem do Latim creare, “produzir, erguer”, relacionado a crescere, “crescer, aumentar”, do Indo-Europeu ker-, “crescer”. Umas que eu conheço só o que produzem é desordem, coisa impressionante.
Portanto, criação e criatividade têm relação com essa palavrinha. E criado também, pois por muito tempo os filhos pequenos das pessoas pobres eram entregues a famílias de mais posses para que eles fossem sustentados por elas em troca de serviços caseiros.
Essa palavra chegou a dar nome a um móvel, o criado-mudo. Ele foi inventado na Inglaterra; era uma mesinha onde se colocavam os materiais para o chá, dispensando a presença da criadagem que fatalmente acabava se inteirando das situações escabrosas da família.
Lá o móvel era chamado de dumb waiter, “criado abobado”.
Também digo, nas ocasiões em que estou alterada – e que não são muitas, considerando o que eu passo aqui – me-ni-no! ou me-ni-na!
Há discussão quanto à origem desta palavra. Uns dizem que vem do Espanhol meñique, “dedinho, dedo mínimo”, que deriva do Latim minimus, “pequeno”, relacionado a minus, “menos”.
Já outros acham que vem dos sons carinhosos que os pais emitem para os seus rebentos. Seja como for, acho que é difícil discutir a possibilidade de a origem não estar em algo que significa “pequeno”.
Já que falei em rebento, esta palavra, sinônimo de “broto, parte nova de um vegetal”, parece vir do Latim repentare, “acontecer de súbito”.
Uma criança muito nova pode ser chamada carinhosamente de bebê, Aqui há uma história mais complicada; o rei da Polônia, Stanislas Leczinski, no século XVIII, tinha um anão de estimação – sei, a idéia é horrível, mas nessa época todas as cortes tinham um e se divertiam com ele como bobo da corte. Ele chamava, em Francês, o dito de bébé, a partir de uma variante da raiz bab-, que expressava o movimento dos lábios e se associava às dificuldades da fala que são de esperar em tenra idade.
Claro que o Inglês baby também vem daí.
E sabemos que há um sinônimo, nenê, também derivado desse bab-.
Quando as crianças são muito indisciplinadas, rebeldes, descontroladas, de má vontade, malfeitoras mesmo, daquelas que não se importam para nada com o sofrimento das professoras que fazem tudo por ensinar coisas que lhes serão indispensáveis pela vida afora, elas podem ser chamadas de moleques. Isto vem do Quimbundo mu’leke, “filho pequeno, garoto”, e adquiriu uma conotação de indisciplina a partir da exuberância dos filhos dos escravos em nossa terra.
Em certas regiões, pode-se usar a palavra guri, que vem do Tupi gwi’ri, “bagre novo”, por extensão, “criança”.
Em outros lugares, usa-se piá, também do Tupi, onde era pi’a, “entranhas”, por extensão, “fruto de nossas entranhas”. Poéticos, nossos índios, não acham?
A idade em que vocês se encontram se chama infância e vem do Latim infantia, formado por in- , negativo, mais fari, “falar”. Se bem que isso é apenas teórico; vejam o caso da Valzinha ali, que dizem que fala sem parar desde que saiu da sala de parto.
Depois dessa parte da vida, os pais de vocês vão ver o que é bom para tosse, pois aí vai começar a adolescência, e prefiro nem pensar no que é que vocês vão aprontar. Tal palavra vem do Latim adolescere, “crescer”, formada por ad-, “a”, mais alescere, “ser nutrido”, de alere, “alimentar, nutrir”.
Agora que se aquietaram um pouco, podem pegar suas mochilinhas e sair, crianças.