AI, meu Santo Pai! Santo Antenor, mas que horror! São Brandão, que vasta confusão! São Delfino,segurai aquele menino! Santa Geraldina, aquietai esta menina!
Cri-an-ças! Leônidas enfrentando os Persas era fichinha perto do que vocês conseguem. Eu me afasto um instante da sala de aula e encontro ao voltar uma cena de carnificina que nem os selvagens mais bárbaros já fizeram.
E não, não quero saber a causa. Tenho certeza de que foi um dá-cá-aquela-palha, como sempre, que acabou envolvendo todo o mundo numa onda de briga retro-alimentada.
Ei, isso mesmo, sentem-se aqui que eu vou contar a origem de umas palavras muito adequadas para vocês.
Briga, por exemplo. Ela vem do Italiano briga, “luta, incômodo, problema”, do Celta briga, “força”. Estes Celtas eram mesmo um povo muito aguerrido, e deixaram entre nós algumas palavras relacionadas a este tipo de atividade.
Derivam daí brigue, um tipo de navio de guerra, brigada, um tipo de divisão de um exército, brigadeiro… certo, é um doce muito comum em aniversários, que todos vocês gostam de colocar sobre a cadeira onde alguém vai se sentar, mas esse nome veio da patente de um certo tipo de oficial das forças armadas.
Por que? Bem, dizem que é porque, na Aeronáutica, um brigadeiro é um oficial que está há muito tempo sem pilotar, tamanha é a sua responsabilidade em terra, e que ele só assume o manche quando o céu está perfeito e sem turbulências, um “céu de brigadeiro”. Foi o que me disseram; se a Aeronáutica vier reclamar, eu não falei nada.
Há outra palavra para isso, de menor uso: cizânia. Ela deriva do Grego zizanion, “joio”, uma planta que cresce com o trigo, mas que não serve para consumo e é uma atrapalhação para os cultivadores. Ah, se eu fosse separar o joio do trigo nesta aulinha e ele fosse bem cotado, eu estaria rica…
Já rixa é do Latim rixa, igualzinho, sim, que queria dizer “briga, combate, luta”.
E querela também é latina, querela, “queixa, reclamação, lamento, desavença judiciária”, do verbo queri, “queixar-se, lamentar-se, gritar”.
Temos também bronca, que é de bronco, “grosseiro, obtuso, de mau trato”, que veio do Italiano bronco, “áspero, irregular, nodoso”, de uma mistura do Latim brocchus, “pontudo, saliente”, mais truncus, “tronco”.
Pouco se usa, mas saibam que há pouco vocês estavam em desforço físico. Essa palavra veio do Latim fortis, “forte”, e não há muito o que imaginar sobre ela.
Temos também a discórdia, do Latim discordia, formado por dis-, “fora”, mais cor, “coração”. É bem assim, o que está fora do nosso coração pode acabar trazendo desavenças.
Hoje em dia quase não se conhece mais a palavra quiproquó, que expressa não tanto uma briga mas uma confusão – que naturalmente pode acabar em pauleira. Ela deriva da expressão latina quid pro quo, “quem a favor de quem”, o que dá bem a idéia de uma situação mal-definida.
Agora que o sinal definiu que nossa aulinha aqui acabou, vamos todos para casa quietinhos. Se precisarem muito, briguem com seus pais, para que não sobre nenhuma dessa energia para nosso dia de amanhã.