HORÓSCOPO III [Edição 78]
III
Olá, Vô! Cadê o resto das histórias sobre o Zodíaco que você ia me contar? Está me devendo!
– Muito bem, meu rapaz, ninguém pode dizer que eu não pago minhas dívidas. Sente-se aí e vamos retomar a conversa sobre este assunto. Vejamos, eu tinha anotado por aqui quais os signos que tínhamos visto. Hum… não, isto são contas para pagar… Ah, aqui está.
Hoje vamos começar pelo Escorpião, que vem do Grego skorpio, o nome do…
– Inseto!
– Quieto, seu espertinho. Dá para ver que você ainda não aprendeu a classificação zoológica. Eles não são insetos, não têm seis patas; são aracnídeos. E agora deixe-me falar.
Como eu dizia antes de ser interrompido pela sua manifestação de ignorância, esse era o nome que os gregos davam ao aracnídeo. Há quem ache que se liga a papillion, “borboleta” ou a stellio, “espécie de lagarto”. Mas não há certeza.
– E a história do signo?
– Bem, essas histórias são a melhor parte. Vou contar, mas lembre-se de que as histórias têm muitas variantes, de modo que a qualquer momento você pode encontrar versões diferentes.
A que mais me agrada é a que diz que Ártemis, a deusa grega da caça e associada com a Lua, um dia se irritou porque um grande caçador chamado Órion se atreveu a caçar nos campos celestes, que eram exclusividade dela. Para se vingar daquilo, ela enviou atrás dele um venenosíssimo escorpião. Aí…
– Conte logo, Vô!
– Seu impaciente, eu queria ver se o suspense estava funcionando. Bem; aí, para variar, Zeus interveio. Impressionado com a ousadia de Órion, ele colocou o caçador intrometido no céu.
– Criou mais uma constelação?
– Sim, e uma bem visível e característica dos céus de verão no hemisfério Sul. Mas não parou por aí, não. Talvez em deferência a Ártemis, a deusa ofendida, ele também criou a constelação do Escorpião, que é a que nos interessa no momento.
Só que colocou ambas em lados opostos do céu. De tal forma, Órion percorre o seu caminho nos céus sempre perseguido pelo ameaçador bicho, que nunca o consegue alcançar.
– Que bonito, Vô!
– E bonita também é a constelação. É uma das pouquíssimas que refletem a forma que a nomeou.
Existe o signo de Virgem, que representa em geral a pureza e a prosperidade, com conotações da abundância que era sempre desejada pelos nossos antepassados agricultores.
Mas a variação de pessoas que o signo representa é enorme; uma das mais conhecidas em nossa cultura é Cassiopeia,do Grego Kassiópe, “aquela cujas palavras se destacam”. Ela era a mãe de Andrômeda, que foi salva do monstro Cetus, enviado pelo deus dos mares, Poseidon, e salva na última hora pelo herói Perseu…
– Oba!
– Não vou entrar nessa história, senão nunca mais saio. Por ora vamos ficar com os signos. Aliás, vou falar agora sobre Sagitário, que vem do Latim sagittarius, “arqueiro”, mais exatamente “relativo a flechas”, de sagitta, “flecha”.
Ele é representado muitas vezes como um centauro apontando com seu arco.
– E o signo de uma amiga minha, que é Libra?
– Amiga, é? Hum, traga-a para ouvir minhas histórias também. Claro, se ela também gostar de Etimologia.
Para disfarçar esse vermelho no seu rosto, vou dizer que essa palavra quer dizer “balança, peso de balança” em Latim. Uns dizem que representa o carro de Hades, o deus do mundo subterrâneo. Outros, que é porque a constelação está no zênite no dia do equinócio da primavera no hemisfério norte, quando dia e noite são iguais, como numa balança bem equilibrada.
Seja como for, essa balança é tida também como a Balança da Justiça.
Acho que agora só nos falta Capricórnio, do Latim Capra, “cabra”, mais cornus, “chifre”. Ele costuma ser representado como um ser com a parte posterior de peixe e a anterior de cabra. Também não há concordância quanto à sua origem.
Querem uns que tenha relação com a cabra Amaltéia, que nutriu tanto Zeus quanto o seu famoso filho Hércules. Enfim, a confusão habitual e compreensível para mitos que têm para lá de dois mil anos.
Seja como for, lembre-se sempre de que isso tudo não passa de mitos. Nunca desperdice seu tempo e dinheiro com horóscopos, ou vai ter que se ver comigo!