Palavra mascote

SUPERSTIÇÃO

 

Meninas, o que é que estão olhando tão interessadas no pulso da Valzinha? Ah, uma fitinha do Senhor do Bonfim que ela ganhou de uma amiga do pai que foi a Porto Seguro, sei. Mas que sujinha ela está, menina! Por que não a lava?

Hein? Depois de colocada, ela não deve ser tirada nem limpa, espera-se ela cair de tanto usar… Ora vejam só! Que porquice!

E, pelo visto, vocês acreditam nisso.

Pelos acenos de cabeça e olhos muito abertos dá para ver que sim.

Ora vamos, sentem-se que eu vou lhes contar umas coisas.

Começaremos com a palavra superstição, que indica uma crença irreal que leva a pensar que absurdos têm existência verdadeira.

Ela vem do Latim superstitio, derivado de superstare, “manter-se sobre, sobreviver”. O sentido de uso original não está suficientemente claro, apesar de tantos estudos. O significado pode “ser exagerado no seguimento de ritos religiosos” ou “ficar em pé sobre alguma coisa para apreciar um ato religioso”.

Os romanos a usavam em contraposição a religio, “respeito devido e com medida adequada aos deuses”.

Seja como for, indica uma atitude primitiva que não traz nada de bom para quem a tem.

Muitas vezes as pessoas acham que realizar certos atos ou usar certos objetos as ajuda a ter sorte. Esta palavra vem do Latim sors, “parte, porção, o que cabe a cada um”. Ela apresentou uma evolução, em vários idiomas, no sentido positivo de “boa sorte, fortuna”, o que não era a ideia original.

Muitas pessoas tentam substituir o estudo e o trabalho duro com a tal de sorte, mas isso nunca dá certo.

Depois se queixam do azar, que vem do Árabe sahr, “flor”, já que uma das faces dos dados árabes tinha o desenho de uma florzinha.

Em Espanhol, essa palavra tem uma conotação diferente da nossa; quer dizer “acaso”, sem definir se é bom ou mau. Assim, al azar quer dizer “ao acaso, de maneira caprichosa”.

Falando em sorte, podemos citar uma derivada, que é sortilégio. Ela veio do Latim sortilegium, de sors mais legere, “escolher”.  Trata-se de um ato de magia, sedução ou encantamento no qual se escolhe a finalidade a que vai servir.

Não ouvi direito, Val, pode repetir? Uma de suas vizinhas disse que uma outra usou de sortilégios para atrair o marido dela e acabou dando briga e puxões de cabelos… Esqueça, isso não interessa à nossa aulinha, só a pessoas fofoqueiras.

Há pessoas de mente fraca que usam pequenos objetos para gerar as coisas positivas que elas não têm a capacidade de criar. Por exemplo, usam talismãs. Esta palavra veio do Francês talisman, “objeto que traz sorte”, do Árabe tilasm, que veio do Grego télesma, “rito religioso, talismã”.

Elas também podem gastar seu dinheiro em objetos como um amuleto, do Latim amuletum, “objeto usado para afastar maldições e doenças”, talvez do verbo amolliri, “evitar, remover, levar para longe”.

Um amuleto muito comum é a figura de um trevo de quatro folhas. Ao que tudo indica, este surge por uma mutação, numa proporção de um para cada dez mil trevos comuns. Unir mentalmente a raridade a poderes especiais é bastante comum nos seres humanos.

Como? Ah, sim, já vou dizer a origem da palavra trevo: é o Latim trifolium, “três folhas”.

Outra figura muito apreciada é a da ferradura, que naturalmente vem de ferro, do Latim ferrum, que em Latim era o nome do metal.

Sim, Leonorzinha? Não, meu bem, não sei se as senhoras romanas faziam chapinha a ferro quente em seus cabelos. Não é de duvidar, pois as mulheres sempre se submeteram a coisas estranhas para se sentirem belas.

Zorzinho, pare de resmungar e explique-se. Está certo, quer saber por que a ferradura tem essa fama. Aí é que está, não se chegou a uma conclusão ainda. Supõe-se que o fato de ser um objeto de ferro, um metal de muita importância na Antiguidade, implicava em se pensar que ele tivesse propriedades favoráveis à pessoa que encontrasse uma ferradura.

Em vez de um objeto trazer sorte, as pessoas de mente simples podem acreditar que um animal pode fazer isso. Assim, eles os chamam de mascotes, palavra que vem do Francês mascotte, que veio do Provençal mascoto, de masco, “feiticeira, bruxa”. Isso até se tornou tradição em clubes esportivos e unidades militares.

E às vezes há gente que faz simpatias para obter alguma coisa. Estas são ações ou rezas para se conseguir algo e seu uso talvez venha da época da Medicina em que se falava em simpatia para explicar a afinidade entre órgãos do corpo ou seus humores.

Esta vem do Latim simpathia, “comunhão de sentimentos”, do Grego sympatheia, “capacidade de sentir o mesmo que outrem, de ser afetado pelos sentimentos alheios (positivos ou negativos)”, formada por syn-, “junto”, mais pathos, “sentimento”.

Enfim, seja como for, não acreditem que algum objeto ou reza ao ação mística possa lhes trazer o que vocês têm que atingir com o próprio suor.

Nãão, Valzinha, não queremos saber da jóia em ouro e diamantes novinha em formato de ferradura que sua outra vizinha achou na rua e que passou a usar até que o marido desconfiou, foi verificar e… já imagino o resto da história, agora pegue suas coisinhas e volte para casa que nem os outros.

Uff!

 

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