– Vô, hoje meu pai disse que o político tal é um celerado, mas acho que ele errou e queria dizer acelerado.
O velho sentado em sua fofa poltrona de couro, no meio das estantes de livros, sorriu com os cantos dos olhos:
– Ah, eu também tive doze anos e achei que sabia mais que os mais velhos. Saiba, seu espertinho, que ele está certo. Essa palavra vem do Latim sceleratus, “criminoso” e certamente se aplica ao fulano que ele citou.
Temos muitas outras palavras para designar pessoas que desobedecem às leis para lucro próprio. Um exemplo é bandido, que vem do Italiano bandito, “banido, afastado do convívio dos outros”, de bandire, “proscrever, banir”, do Latim bannire, “proclamar”.
Podemos aplicar-lhes também o adjetivo delinquente, do Latim delinquere, formado por de-, aqui com o sentido de “de todo, completamente”, mais linquere, “deixar, abandonar”. A noção é a de uma pessoa que deixou de lado as leis e o respeito pelos outros para atender os seus interesses.
– E o marginal, Vô?
– Vem do Latim margo, “margem, beira”. A palavra descreve aqueles que transitam pelos arredores do que se aceita legalmente.
– E o ladrão, e o assaltante?
– O primeiro vem do Latim latro, originalmente “soldado mercenário grego”, mudando depois seu sentido para “bandido, aquele que rouba ou furta”. Nas épocas antigas, não era mesmo de se esperar que um soldado se comportasse muito bem. Nem sempre se previa alimentação para eles em campanha, daí muitas vezes terem que roubar para sobreviver.
E o outro vem do Latim adsalire, “pular sobre, pular em”, de ad, “a”, mais salire, “saltar, pular”, um gesto muitas vezes feito quando as pessoas andavam pelos bosques. Salteador é outra palavra com a mesma origem.
Há também os que preferem a habilidade à violência, como os punguistas, aqueles que roubam a carteira do bolso alheio. A origem desta palavra é tão incerta que há quem diga que veio do antigo Alemão pung, “bolsa de dinheiro” e outros há que pensem que veio do Swahili punga, “agitar-se, mexer-se”. Seja como for, parece-me que a classe está em extinção, substituída por ações armadas.
– E os piratas?
– Ah, claro que tínhamos que entrar em histórias mais sensacionais, não? Pois pirata vem do Latim pirata, “marinheiro, ladrão”, do Grego peiratés, literalmente “aquele que ataca”, de peiran, “atacar, hostilizar”.
E antes que você pergunte, corsário veio do Italiano corsaro, do Latim cursarius, de cursus, “corrida, curso”, de currere, “correr”. Esses eram navios que obtinham permissão de um determinado país, a chamada “carta de corso”, para atacar os navios de um país inimigo, com custeio próprio e ficando com os lucros da empreitada.
Uma terceirização da Marinha de Guerra, digamos.
– E como é que eles faziam para correr sobre o mar, Vô?
– Mais exatamente eles apressavam seus barcos para tomarem conta das vítimas, seu engraçadinho. E fique quieto, senão não lhe conto que bucaneiro vem do Francês boucanier, simplesmente “gente que prepara carne na grelha”, pois esta se chamava boucan, do nativo mukem, “grelha de madeira para preparo de alimentos”.
– E o que é que tem essa grelha com esses assaltantes do mar?
– Tem que, no início, se tratava de gente que vivia nas ilhas do Caribe e vendia a carne assim preparada aos navios que passavam. Mais tarde, perceberam que podiam assaltar os barcos com maiores lucros, em vez de comerciar com eles. As pessoas aprendem cada uma!
E acrescento que flibusteiro, uma palavra em pouco uso agora mas que serve para designar piratas em geral, vem do Inglês freebooter, “pirata, assaltante”, que veio do Holandês vrijbuit, “saquear”, literalmente “saque (buit) livre (vrij)”.
E agora, meu neto, volte para casa e ajude seu pai a falar mal de alguns políticos.