Cheguei à porta do escritório de meu avô e vi o velho de barba branca curta e olhos claros atrás de sua escrivaninha. Para variar, estava lidando com papéis e livros.
Depois de trocarmos um abraço afetuoso, passei-lhe a dúvida do dia:
– Vô, o Pai recebeu uma carta em cujo envelope ele era tratado de “Excelentíssimo Senhor”. Eu acho que ele até que é bem razoável para um pai, mas excelentíssimo?
O velhote riu muito:
– E olha que a sua opinião sobre ele é bem melhor do que a da maioria dos filhos, inclusive a que ele tinha sobre mim quando era adolescente que nem você…
Essa carta usou uma forma de tratamento que vem do Latim excellens, de excellere, “subir, ultrapassar, ser eminente”, verbo formado por ex-, “fora”, mais cellere, “subir alto”, relacionado a celsus, “alto, grande”, do Indo-Europeu kel-, “elevar-se, subir”.
– Quer dizer que o meu colega Celso Roque é alto e grande?
– Pode até não ser, mas quem fez esse nome pensava assim.
Há um outro elogio que também virou nome: augusto, que veio de augere, “aumentar, elevar”.
Há diversas outras palavras que são usadas para elogiar pessoas em discursos e correspondências, mesmo sem serem sinceras.
Por exemplo, insigne, que vem do Latim insignis, “aquele que porta uma marca distintiva, o que se destaca”, formado por in-, “em”, mais signum, “marca, indicação, símbolo”.
Ao dizer que um sujeito sabe muito, pode-se usar douto, do Latim doctus, “instruído, o que aprendeu”, de docere, “mostrar, ensinar”.
– Isso tem a ver com doutor?
– Certo, meu neto que hoje até que está esperto e parece um douto. Essa palavra vem de doctor, “aquele que ensina”.
Posso ensinar outro elogio desses: probo, derivado do Latim probus, “de valor, testado, provado”. A origem mais remota é o Indo-Europeu pro-bhwo-, “estar à frente, de pro-, “à frente”, e bhu-, “estar”.
Falando nisso, ocorre-me a palavra grado, que tem uma origem interessante. Vem do Latim. granatus, “cheio de grãos”, portanto “importante, significativo”.
– Uma espiga de milho é cheia de grãos. Os antigos romanos a achavam importante assim?
– Aqueles romanos não conheceram o milho, rapaz! Ele veio das Américas. Mas conheciam muito bem o trigo e outras plantas que produziam grãos. As plantas em si não eram ditas lá tão grandes, mas os proprietários delas, sim.
– Hum… e ilustre, Vô? Lá em casa há vários ilustres pendurados no teto para iluminar…
Ele lançou um olhar assassino em minha direção:
– Essa palavra, engraçadinho, vem do Latim illustris, “brilhante, distinto, famoso”, de illustrare, “embelezar, distinguir”, formado por in, “em”, mais lustrare, “iluminar, clarear”.
Um elogio muito distinto é chamar alguém de paradigma. Já esta palavra vem do Grego paradeigma, “padrão, exemplo, modelo”, de paradeiknynai, “mostrar, representar”, literalmente “mostrar lado a lado”, formado por para-, “ao lado”, mais deiknynai, “mostrar, apresentar”.
– E o exemplo que o senhor recém citou, vem de onde?
– Do Latim exemplum, “uma amostra”, literalmente “o que é retirado”, do verbo eximere, “tirar, remover”, de ex-, “fora”, mais emere, originalmente “tirar”.
– E o tal modelo?
– Do Latim modulus, “medida, padrão”, de modus, “modo, jeito, medida”.
Ao se puxar o saco de alguém, principalmente em Política, pode-se usar prócer, que vem do Latim procer e quer dizer “extremidade saliente de uma viga” e, por extensão, “pessoa que se destaca”.
E ao citar a Política já perdi a vontade de continuar falando. Vamos para o pátio ver o que é que o gato está aprontando.