Origem das palavras
Qual a origem das palavras:
Rede
CONEXAO
Resposta:
Rede: do Latim RETE, “rede pra caça ou pesca”.
Conexão: do Latim CONNECTARE, “atar junto”, “atar um ao outro”, formado por CON, “junto”, mais NECTERE, “ligar, atar”
Qual a origem das palavras:
Rede
CONEXAO
Rede: do Latim RETE, “rede pra caça ou pesca”.
Conexão: do Latim CONNECTARE, “atar junto”, “atar um ao outro”, formado por CON, “junto”, mais NECTERE, “ligar, atar”
Qual a origem etimológica da palavra rede?
Ela vem do Latim rete, “rede” mesmo.
Muita atenção, crianças! Hoje a Tia Odete não está para gracinhas. Acordei com dor de cabeça no estômago, cólicas nos joelhos e azia universal. Estas condições me colocam num estado de mau humor que é perigoso à saúde e à vida dos que me rodeiam; portanto, cuidado.
Ou seja, hoje vocês não estarão lidando com aquele anjo de ternura, aquela professora cheia de paciência e amor, que nunca ralha com ninguém nem se queixa de ter alunos incontroláveis.
O que me estragou foi que esta noite andei pensando que eu bem que poderia ter-me negado a cair na armadilha de trabalhar com o ensino; fui seguir minha vocação e…
Ei, armadilha! É um assunto interessante para lidar com Etimologia. Esta palavra vem de armado, do Latim armatus, “com força armada, com poder militar”, de arma, “armas”, originalmente “ferramentas”.
O que nos traz à mente a arapuca, que veio do Tupi ara’puka, de ara, “pássaro, ave”, mais puka, “esburacado”. Isso porque esses artefatos sempre deixavam espaços entre suas partes.
Há engenhos maiores também, como o alçapão. Estes são feitos como entrada para um sótão ou como parte de um palco teatral, para que a auxiliar do mágico indecentemente vestida saia de dentro de alguma caixa e apareça depois em algum lugar imprevisto. Vem de alça, “erguer, levantar”, mais pôr. Designa também uma armadilha para pássaros, daquelas em que uma porta fica tentadoramente aberta para que o bípede plumoso incauto entre à procura de uma comidinha, fechando-se depois às suas costas.
E isso que certamente a mamãe-pássara o avisou para não acreditar em comidas tentadoramente largadas em seu caminho.
Essa origem faz lembrar a alçaprema, outro tipo de armadilha. Calma, eu sei que nunca ouviram falar nisso, mas pouca gente ouviu. Ela designa também uma armadilha para pássaros, mas seu nome se forma mesmo é de outro significado que ela tem: o de “alavanca para erguer pesos” ou de “ferramenta para retirar partes de alguma coisa”, como um alicate ou torquês.
A origem é alçar e premir, que correspondem às ferramentas que descrevemos.
Sim, Valzinha? Esses dias seu pai disse para a sua mãe, num momento de irritação, que tinha caído numa esparrela ao casar com ela? Não, por favor, não nos conte o que saiu depois entre o casal, que não gosto dessas histórias de terror.
Seja como for, a origem dessa palavra, usada para designar também uma armadilha, não é conhecida. E quando Tia Odete diz que não sabe uma origem, ninguém mais sabe.
Como notaram, há muitos nomes para aparatos que servem para caçar aves. Um deles é a rede, do Latim rete, “rede” mesmo.
Para outros animais existem também armadilhas. E há muitíssimo tempo, mesmo antes de eu nascer.
Parem de fazer cara de surpresa!
Como eu dizia antes de ser interrompida pelo ruído de suas expressões, o homem antigo usava o que mais o distinguia dos animais, que era o seu cérebro. Aí ele preparava modos de fazer os touros e mamutes caírem num lugar de onde não podiam sair e depois fazia alegres churrascadas.
Uma dessas coisas é a trapa, do Francês trappe, do Frâncico trappa, “armadilha” mesmo.
Existe igualmente a trampa, do Espanhol trampa, “madeira que se abre no chão ao ser pisada”. Por lá há um ditado que diz “Hecha la ley, hecha la trampa“, ou seja, “Feita a lei, feito o engano”.
Não podemos nos esquecer da ratoeira, que naturalmente vem de rato, do Latim rattus, de origem anterior incerta.
De certa feita tentaram me vender o que, à falta de nome, eu chamaria da baratoeira. Era um objeto de plástico transparente com compartimentos onde se colocava um alimento qualquer e que tinha uma portinhola muito delicada, que uma barata podia abrir facilmente, e que se fechava atrás dela, aprisionando-a depois que entrasse.
Quando eu perguntei ao vendedor o que era que se fazia depois com um depósito cheio dos insetos vivos e ele hesitou, corri com ele de casa.
Chii, eu não devia falar nessas coisas na frente da Leonorzinha. Lary, Aninha, juntem-na que ela desmaiou. Não, os meninos fiquem quietos.
Ainda no propósito de pegar bichos maiores, temos o brete, do Espanhol brete, do Gótico brid, “tábua, pedaço de madeira”, pois ele consta de uma armação forte de pedaços de madeira para conter o gado.
Passando para outros animais, temos um modo de pegar peixes que é o covo, do Latim cophinus, do Grego kóphinos, “cesta”, pois é uma cesta especializada que pode ser feita de materiais que se encontram junto aos rios e lagos, como galhos e palhas.
Prestem atenção: covo é com o “O” fechado: côvo é a pronúncia
O que me lembra o mundéu, que pode servir para caçar em terra ou na água. Deriva do Tupi munde, “tipo de armadilha”. Essa palavra designa também alguma coisa em mau estado e prestes a ruir.
Ora, vejam só, não que a sua querida Tia Odete já se sente melhor?
Etimologia faz bem à saúde também!
Saiam bem comportadinhos como sempre.
Eu tinha quatorze anos e estava assanhadíssimo. Queria dar logo a notícia ao meu avô.
Cheguei ao seu gabinete, entrei e o vi sentado à sua poltrona de couro, fazendo consertos com agulha e linha forte num guardachuva.
– Vô, posso entrar?
– Se não for para incomodar… sua expressão desmentia a resposta mal-encarada – Você parece agitado, seus olhos estão que nem um par de faróis. Que é que há?
– É que vou acampar com uns colegas agora nas férias do meio do ano! Estou louco para ir!
– Ora, ora. Então o meu pequeno citadino vai ficar telúrico e andar pelos matos, hein?
– É. Quase todo o mundo que eu conheço já foi e eu nunca tive ocasião. O senhor sabe que os meus pais não são chegados, daí que nunca fui antes.
– Muito bem. Há quem goste e quem não goste; as pessoas nunca vão chegar a um acordo quanto a isso. Eu, particularmente, sou da mesma opinião de um escritor que eu admiro muito e que disse que não ia acampar porque era injusto a humanidade ter levado milênios para deixar de fazer as necessidades no mato e agora voltar a fazer isso.
Mas há quem não se incomode, e na sua idade é uma experiência que a gente precisa ter mesmo.
Sente-se aqui e vamos ver se você aprende alguma coisa para contar aos outros enquanto estão reunidos ao redor da fogueira, à noite, sendo comidos pelos mosquitos.
Acomodei-me na banqueta.
– Naturalmente vocês vão dormir numa barraca. Espero que tenham uma e que saibam montá-la.
– Sim, o pai de um dos meus amigos vai junto e é um grande acampador.
– Agora fico mais tranqüiilo. Deixe-me dizer que o nome do abrigo temporário que vocês vão usar vem de barro, pois as primeiras construções deste tipo eram feitas com barro e galhos. A palavra barro, por sua vez, vem de uma palavra Ibérica barr-, “lodo, lama”. Outra derivada daí que nós temos é a palavra barranco.
– Como foi aquela vez que o senhor escorregou e caiu sentado no barro com um prato de comida emborcado em cima, Vô?
– Isso tudo são intrigas da sua avó e do seu pai quando era pequeno. Uma pessoa com o meu absoluto controle físico não pode, por definição, passar por uma situação ridícula dessas. É pura inveja da parte deles – fez sua melhor cara de dignidade ofendida.
Mas não me atrapalhe com essas besteiras. Deixe-me lembrar que você tem que levar algo que lhe sirva de colchão. Esta palavra é um aumentativo de colcha – outra coisa que você não pode esquecer de levar. E colcha vem de do Francês Antigo colche, do verbo colchier, que por sua vez veio do Latim collocare, “colocar”.
– O que é que se colocava? A pessoa na colcha ou a colcha na pessoa?
– Escolha você, gracioso. Sei é que agora a pessoa se coloca no colchão e coloca a colcha por cima.
Você pode usar também um cobertor para evitar o frio. Essa palavra também vem de Roma, do verbo cooperire, que queria dizer “tapar, cobrir”.
E, para folgar durante o dia, se puder, leve uma rede. Esta é mais uma palavra que vem do Latim, onde era rete.
– O pessoal em Roma colocava suas redes entre as colunas dos templos para descansar, Vô?
– Você está impossível hoje. Tamanho assanhamento está perturbando essa sua cabeça ventosa.
Naquela época ainda não se tinha inventado a rede de dormir, mas havia vários outros tipos. Uma delas era um enfeite para conter os cabelos das damas. Outra era a que os pescadores usavam para retirar os peixes da água. Ainda outra era a que os reciários usavam nas suas lutas contra os gladiadores.
– Oba, luta!
– Claro, “oba, luta!”, mas na hora de fazer algo criativo ou trabalhoso, não querem saber.
– Os mais velhos da sua geração também resmungavam contra os jovens, Vô?
– Também. Mas, no caso, eles não tinham razão e vamos mudar de assunto. Os reciários (em Latim, retiarii) eram aqueles sujeitos que usavam uma rede, um tridente, um capacete e uma proteção no braço esquerdo.
– E qual dos dois o senhor queria ser, Vô?
– Nenhum. Preferiria estar longe dos circos, procurando as ninfas pelos campos. Onde, aliás, qualquer pessoa tem que se precaver contra moscas e mosquitos. Ambas essas palavras derivam do Latim musca, “mosca”. Mosquito é um diminutivo de mosca formado no Espanhol. A notícia mais remota dessa palavra é que talvez tenha vindo do Indo-Europeu mu-, um som imitativo do zumbir dos insetos.
– Uma vez o Pai estava faceiro, dizendo que “tinha acertado na mosca”. Fiquei achando que ele tinha muito boa pontaria, ainda mais que elas não costumam ficar paradas. Ou será que ele usou uma lata de inseticida?
– “Acertar na mosca” é uma expressão que significa “atingir o alvo bem no centro”. Como o centro exato dele é um círculo pequeno, ele foi comparado a uma mosca. Claro que há um certo exagero nisso. Os ingleses o chamam de bull’s eye, “o olho do touro”, pela forma e tamanho, o que descreve melhor a verdade.
– Eu me lembro direitinho daquela constelação da Mosca, Vô.
– Isso, a que eu lhe mostrei daquela vez na praia. É um conjunto de quatro estrelas pequenas bem aos pés do Cruzeiro do Sul. Talvez você possa mostrá-la aos seus amigos no acampamento. Não se esqueça de que, nesta época do meio do ano, o Cruzeiro está quase deitado com o pé para a esquerda, no começo da noite.
E falando em insetos, cuidem-se para não montar a barraca sobre um formigueiro, que as donas não aceitam desculpas depois. Formiga vem do Latim formica, que se relaciona com o Grego myrmex.
– E as formigas fabricam Fórmica?
– Mais uma dessas e eu vou pedir ao pai dos seus amigos que não o traga de volta. Essa marca de material de revestimento vem da empresa que começou a fabricá-lo, uma tal Formica Insulation. E parece que o nome foi escolhido porque o formol ou o ácido fórmico entravam na composição do material.
Uma vez eu ganhei um concurso que desafiava alguém a dizer qual a palavra que se usaria para “genocídio de formigas”, isto é, uma matança generalizada da espécie. Eu falei em mirmicídio, que está certíssimo, e até hoje o malandro não me pagou o prêmio.
– E qual era ele?
– Bem, é verdade que era uma viagem para um lugar aonde eu não iria nem pintado de ouro, só que ele nem fez menção de pagar… Mas vamos ver outra coisa que pode incomodar se os senhores acampadores não estiverem bem preparados: fome. Esta palavra tão curta vem do Latim famis. Deve ser evitado o seu surgimento através de um bom planejamento do que se vai levar para comer.
– Daí foi que a Mãe falou uma vez numa famigerada ex-namorada do Pai? Ela sentia muita fome?
– Chiii… Esses são terrenos perigosos, mesmo que o seu pai nunca mais tenha visto aquela moça. Não, famigerada vem de fama, “reputação, fama” e de gerere, aqui com o sentido de “levar”. A rigor, a palavra designa quem tem uma reputação, mas o sentido em nossa língua se fixou na má reputação.
Lembrem-se de ter também à mão um bom suprimento de água limpa e fresca, para evitarem a sede, palavra que vem de sitim. Esta deu duas palavras com o mesmo significado: sedento e sequioso. Esta última é de uso mais culto.
E não se esqueça de levar os seus talheres, para não ter que matar a fome de maneira muito selvagem. A palavra talheres parece vir do Italiano tagliare, “cortar”, pois são os instrumentos que se usa para cortar
a comida em pedaços que caibam na boca do vivente.
Entre eles encontramos a faca, cuja etimologia não está bem definida. Uma das várias hipóteses é que venha do Latim falx, “foice”.
Colher vem do Latim cochlearis, que vem de cochlea, “caramujo”, pela semelhança de um fragmento de casca deste bicho com a colher. E garfo vem do Árabe garf, “punhado, mancheia”.
A comida vocês vão preparar nas panelas, cujo nome vem do Latim panella, diminutivo de panna, “frigideira”. Vai ser servida nos pratos, do Latim platus, do Grego platys, “amplo, chato”. Acabo de me lembrar que o nome científico do ornitorrinco é Platypous, “pé chato”, de platys mais pous, “pé”.
E não deixem de cuidar do fogo, cujo nome vem de focus, que antigamente designava, nos lares romanos, a lareira ou lugar onde ele era feito. Esta palavra acabou desbancando a que era usada especificamente para fogo, ignis, que acabou ficando com uso restriro a palavras cultas ou técnicas, como ignífugo e outras.
Mas acho que basta por hoje; sua cabecinha quer é se assentar em outros acampamentos que não este. Espere um pouco.
Levantou-se e abriu uma das portas de um armário alto e escuro. Subiu um banquinho e tirou de lá um pacote grande. Deu uma olhada rápida dentro dele e o passou para mim:
– Tome. Acho que isto vai ser útil.
Puxei o conteúdo: uma mochila grande, de lona, com todo o jeito de material militar! Clássica, charmosíssima, desbotada (melhor ainda) mas em excelente estado! Quase caí sentado.
– O-o senhor vai me emprestar sua mochila, Vô?
– Não, seu tolo. Vou dar. Acampar é uma das coisas que eu não vou fazer mais mesmo, e eu estava guardando esta para quando você entrasse nessa fase.
– Mas, Vô! Puxa! O senhor usou esta aqui na Primeira Grande Guerra, com máscara de gás no rosto, capote e um fuzil Lee-Enfield daqueles, com baioneta e tudo?
– Não cheguei a isso, mas se eu tivesse uma baioneta aqui eu sei qual língua eu iria cortar com ela, seu desaforado!
Coloquei-a nas costas. O velho me ensinou a prendê-la. Olhei para ele e tive vontade de fazer uma coisa.
Fiz, e não me arrependi nunca: pulei e lhe dei um abraço longo e forte, que ele retribuiu com um calor que eu sentiria ainda no acampamento.
Saí pulando pelo corredor e o peso da mochila parecia me deixar ainda mais leve.