Palavra retiro

ALOJAMENTOS

O que vocês tanto falam hoje aí no fundo, meninada? Hum, a Valzinha está contando as coisas que aconteceram no hotel onde ela e sua família estavam hospedados nas últimas férias, quando o gerente e uma das hóspedes… Chega, Valzinha, o resto não nos interessa.

Como você falou em hotel, vamos aprender um pouco mais de Etimologia, antes que o grupo aprenda sobre indecências.

Essa palavra, por estranho que pareça, começou a vida como hospital. Veio do Francês hostel, “estabelecimento que providencia acomodações”, uma alteração de hospital.

E esta vem do Latim hospes,  que tanto significava “hóspede” como “hospedeiro“. No Latim medieval, hospitale queria dizer “relativo a um hóspede”. Inicialmente, este era apenas um local onde os hóspedes eram recebidos.

Mais tarde esse sentido se especializou para representar um lugar onde são atendidas pessoas doentes.

Hotel, no começo, se usava com o sentido de “residência grande” e depois com o de “lugar que aluga dependências”, tal como agora.

Fale, Zorzinho. Quer saber a origem da pensão ao lado de sua casa? Esse é o nome que se dá a um hotel pequeno e de categoria mais baixa. Vem do Latim pensio, “ato de pesar”, donde “pagamento”, que muitas vezes era feito com material avaliado por uma balança, de pendere, “pesar”.

Não, Patty, albergue não vem de abrigo, embora sejam parecidas. A primeira vem do Baixo Latim heribergium, do antigo Alemão haribërga, “alojamento de tropas”, de hari, “exército”, mais berg, “asilo, abrigo”.

E a outra vem do Latim apricare, “proteger-se do frio aquecendo-se ao sol”, de apricus, “exposto ao sol”.

Sim, Faustinho, desta vez você está certo: alojamento tem a ver com loja. Ambas as palavras vêm do Francês loge, do Frâncico laubjan, “abrigo feito de ramos e folhagens”. O sentido se aplica a “local para abrigo” e passou a designar as pequenas barracas improvisadas feitas em feiras antigas para o comércio.

Seguindo adiante, ocorre-me falar em pousada, que nos veio do Latim pausare, “fazer uma parada, descansar”. Quem me dera poder fazer isso quando certos aluninhos começam a incomodar!

Nessas horas bem que eu gostaria de ir para um retiro, derivado do Latim retirare, “puxar, tirar”, formado por re-, “para trás”, mais tirare, “puxar”. Se alguém tentar me tirar desta atividade insalubre não vai ter que puxar com muita força, não.

Para os muito chiques existe um tipo de hotel voltado para os ditos tratamentos de saúde, como estâncias hidrominerais, e que se chamam  spa. Sua origem é a cidade belga de Spa, que se chamava, quando da dominação romana, de Aquae Spadanae.

Calma, Lary, se você parar de perguntar de onde veio esse nome eu conto que ele veio do idioma da Valônia, no qual espa queria dizer “fonte”.

Essa palavra entrou erradamente para o Inglês como Spaw, no século XVI, e depois se ajeitou para ficar como está.

É interessante saber que muita gente se curava realmente lá, pois essa fonte tinha água ferruginosa e em épocas antigas os problemas de anemia por falta de ferro na alimentação eram muito comuns.

Olha ali o Arturzinho querendo saber de onde veio acampamento. Pois ela veio do Latim campus, “área cercada”, mesmo que fosse por obstáculos naturais, como bosques ou colinas. Seu início se calcula ser o Indo-Europeu kamp-, “dobrar”. Nesse idioma não-atestado, kampos quereria dizer “canto de terreno ou pequena baía arredondada”.

Podemos falar também em asilo, que vem do Grego asylon, “refúgio”, de asylos, “inviolável” – não, Robertinho, não tem nada que ver com violetas – que se forma de a-, “não”, mais syle, “o direito de prender uma pessoa”. Atualmente, um de seus significados é “instituição onde são recolhidas pessoas incapacitadas”.

E quartel, onde o pai ali da Leonorzinha muito trabalhou, veio do Latim quartarius, “a quarta parte”, usado para designar uma parte ou distrito de uma cidade; mais tarde, esse termo passou a designar “alojamento militar”. A famosa frase “luta sem quartel” quer dizer que não se dará acolhimento a um inimigo derrotado. Essa conduta agora é expressamente proibida pela Convenção de Genebra.

Lá está a Valzinha querendo saber de onde veio motel. Esta palavra foi feita há menos de um século nos Estados Unidos. Ela se formou pela junção de motor e hotel, pois as pessoas podiam estacionar seus carros logo junto aos quartos. Em termos de significado, a ideia lá não era a mesma que se usa aqui agora. E não, Val, não queremos saber por que você perguntou isso.

Passando para coisas mais santas, Patty, podemos falar em claustro, usado muitas vezes como sinônimo de “convento, mosteiro”. Esta vem do Latim claustrum, “local fechado, cercado, barreira, tranca”, de claudere, “fechar”.

Já que citamos convento, ela vem do Latim conventum, originalmente “reunião”, de convenire, “vir junto”, de com, “junto”, mais venire, “vir”. É um lugar onde passoas dedicadas à reunião vivem juntas.

Agora então devemos falar sobre mosteiro, o local onde vivem monges; esta vem do Latim monasterium, do Grego monastérion, “local ou casa de monges”, originalmente “cela de um eremita”. Vem de monázein, “estar só”.

E agora voltem para casa e deixem-me só como uma eremita, para ver se consigo recuperar meu sistema nervoso depois de uma jornada de trabalho com certas pessoinhas.

 

Resposta:

Tia Odete Pede Socorro

– Pelas barbas de todos os profetas e mais alguns! A destruição da espécie humana tinha que começar pela minha cidade e, mais especificamente na minha aulinha, na minha presença!

Cri-an-ças!! Aquietem-se! Parem de destruir a sala, a minha paciência e uns aos outros! Ai, ai, vou ter que apelar para os meus santos de novo.

São Januário que me dê santuário! São Rodrigo que me arranje abrigo! São Duarte que me faça um baluarte, São Sebastião me erga um bastião, Santa Amália que levante uma muralha, perdoando a má rima! Santa Graziela, levai-me para vossa cidadela! São Cirilo, dai-me asilo! Santo Antão, fornecei-me proteção!

Aninha e Tiago, desçam da mesa; Valzinha, pare de falar; Patty, pare de sacudir tudo ao seu redor; Vera, pare de procurar confusão; Claudia, você é nova aqui, não aprenda nada com os seus coleguinhas; Lúcia, pare de ser tão comportada senão você vai ser beatificada ainda em vida.

Larguem tudo e reúnam-se aqui, que quando vocês estão assim só hipnotizando-os com Etimologia.

Estas palavras que bradei em meu desespero ao ver cenas de selvageria explícita que ferem meus delicados sentidos se referem a lugares de defesa contra coisas desagradáveis.

Para começar, falei em santuário, que vem do Latim sanctuarium, “local sagrado, altar”, de sanctus, “santo, sagrado, abençoado”. Na Idade Média, na Europa, um fugitivo ou devedor que entrasse numa igreja não podia ser preso.

Não sei se tiveram a idéia de fazer algo no estilo pelas pobres professoras. Bem que podiam começar.

Depois falei em abrigo, que vem do verbo latino apricare, que queria dizer “tomar sol, defender-se do frio estirando-se ao sol” e, por extensão, “defesa, cuidados”.

Como é, Valzinha? Ahn, uma vizinha lá do seu conjunto gosta muito de tomar sol na sacada do apartamento? Ora, e daí? Ah, sem vestir nada… Bem, decerto ela é muito friorenta e – não, não quero saber o que foi que o marido dela fez quando voltou antes da hora para casa e encontrou um vizinho passando filtro solar nela.

Vamos mudar de assunto e falar em baluarte, originado do Provençal baloart, “muralha”, que veio do Holandês bolwerc, “muro de uma fortificação”, formado por bole, “tronco de árvore”, mais werc, “trabalho, preparação”. Se eu tivesse um baluarte para me proteger de certas condutas alheias seria muito bom.

Um sinônimo pode ser muralha, que vem do Latim murus, “muro de cidade”. Elas eram erguidas para manter os bárbaros do lado de fora, ai que linda idéia!

Mas ainda não inventaram as muralhas portáteis, de modo que eu vou lhes dizer que cidadela quer dizer “fortaleza que defende uma cidade” e veio do Italiano cittadela, “pequena cidade”, de città, “cidade”, do Latim civitas, “cidade”. Naturalmente, as pessoas que habitavam uma cidade eram os cidadãos.

Uma palavra com o mesmo significado de cidadela, aplicada especialmente à cidade de Atenas, é acrópole, de akropolis, formada por akros, “mais alto”, e polis, “cidade”. Esse conjunto de templos ainda existe lá sobre um morro, em ruínas, mas ainda espantando pela sua beleza. Gostaria muito que vocês todos fossem lá passear.

Agora, neste instante, aliás.

Por sua vez, bastião vem do Italiano bastione, aumentativo de bastia, “fortaleza”, que vem de bastare, “ser suficiente, suportar, bastar”, do Grebo bastazein, “erguer um fardo”. Eu bastazo todos os dias de trabalho… E ainda tenho pesadelos em casa!

Olha aí, até Grego estou falando. E vou colher o ensejo de dizer que asilo, que eu gostaria tanto que a ONU me concedesse, vem do Grego asylon, “refúgio”, de asylos, “inviolável” – não, Robertinho, não tem nada que ver com violetas – que se forma de a-, “não”, mais syle, “direito de prender”.

E já que falei em refúgio, essa palavrinha vem do Latim refugere, “fugir” formado por re-, intensificativo, mais fugere, “fugir”. E proteção vem do Latim protegere, “defender, proteger”, formado por pro, “à frente”, mais tegere, “cobrir”, de tegula, “telha”.

Olha, está tocando o sinal para que vocês se retirem, graças aos meus bons santos. Antes de sair, quero informar que retiro, coisa que eu deveria fazer por um bom tempo, vem do Latim retirare, “puxar, tirar”, formado por re-, “para trás”, mais tirare, “puxar”.

Agora retirem-se todos para que eu possa ter meu infarto em paz.

Resposta:

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