Tempo
Qual o significado de tempo em etimologia?
Resposta:
Esta palavra veio do Latim tempus, “tempo, estação do ano, momento”, possivelmente do Indo-Europeu temp-os-, “esticado, estendido”, de uma raiz ten-, “esticar, alongar”.
Qual o significado de tempo em etimologia?
Esta palavra veio do Latim tempus, “tempo, estação do ano, momento”, possivelmente do Indo-Europeu temp-os-, “esticado, estendido”, de uma raiz ten-, “esticar, alongar”.
Boa tarde, crianças. Parem de se esganar uns aos outros e vamos nos reunir para aprender um pouco de Etimologia, que é o único recurso que tenho para obter um pouco de paz neste local de caos.
Ainda não consigo entender por que um grupo tão selvagem se interessa por um assunto mais adequado para outras idades, o que importa é que se acalmem.
É por isso que gasto um tempo para bolar assuntos para a aulinha. Ei, é isso aí. Tempo, tempos.
Esta palavra veio do Latim tempus, “tempo, estação do ano, momento”, possivelmente do Indo-Europeu temp-os-, “esticado, estendido”, de uma raiz ten-, “esticar, alongar”.
Às vezes o tempo dá mesmo a sensação de se esticar demais, principalmente quando a gente tem que dar aulas para… Deixa para lá.
Enfim, ele parece ser lento em certas ocasiões. Este adjetivo vem do Latim lentus, “brando, suave”.
Vagaroso vem de vagar, que vem do Latim vacare, “estar vazio, estar desocupado, ter tempo para fazer algo lentamente”. Algo que o Soneca, que está ali no fundo da sala roncando sabe muito bem o que é. Acorde e vá dormir, Soneca!
Pois não, Valzinha? Vai contar mais uma do seu condomínio? É que o porteiro da noite demorava muito para atender porque estava na garagem conversando com uma moradora no carro dela?
Ora, decerto eles estavam filosofando e é melhor a gente se deter na origem de demorar, do Latim demorari, “atrasar, ter retardo”, de mora, “atraso”.
E volta e meia o tempo passa rápido, como quando eu não estou em aula. Esta vem do Latim rapere, “tomar à força”. Rapidus era “aquele que é levado à força”, coisa que acontecia bastante naquelas épocas em que as pessoas eram tomadas como escravos. Com o tempo, a palavra incorporou mais a noção de velocidade do que a de violência, passando a ter a conotação que usamos hoje em dia.
Ah, se certas instituições ainda existissem e certas pessoinhas pudessem ser levadas para fora das aulinhas… Mas não adianta sonhar.
Um sinônimo de rápido é veloz. Vem do Latim velox, “rápido, veloz”, possivelmente relacionado a vehere, “transportar, levar”.
E assim podem ser os momentos, do Latim momentum, “instante, poder de mover algo, alteração, mudança”, contração de movimentum, de movere, “deslocar, mover”. Essa palavra também pode ser usada em Física para definir “a quantidade de movimento de um objeto”. Quando vocês chegarem a estudar essa matéria, se conseguirem algum dia sair do Maternal, vão lidar muito com ela.
Essa palavrinha me lembra instante, que vem do Latim instans, “presente, urgente, aquele que apressa”, e que vem do verbo instare, de in-, “em”, mais stare, “estar, ficar de pé”.
Para expressar uma quantidade muito grande de tempo, usamos falar em era. Esta vem do Latim era, “era, época”, possivelmente de aera, “marcadores para fazer cálculos”, plural de aes, “cobre, latão, dinheiro”.
Já época vem do Latim epocha, do Grego epokhé, “parada, momento fixo no tempo”, do verbo epekhein, “tomar uma posição, fazer uma pausa”, formado por epi-, “sobre”, mais ekhein, “manter, segurar”. No século XV o sentido mudou para “período de tempo”.
Acompanhar o desenvolvimento das épocas pode nos mostrar se algo é antigo – eu estou vendo as carinhas de vocês; saibam que eu não são tão antiga assim, apenas estou um pouco usada – um derivado do Latim antiquus, “velho, que existe há muito tempo, o que veio antes, idoso, venerável”, de ante, com o sentido de “à frente”.
Ou algo pode ser classificado como atual, do Latim actualis, “relativo à ação, ativo”, de actus, “um feito, impulso, ação”, de agere, “colocar em movimento, agir, fazer”.
Ou mesmo pode entrar na classificação de futuro, do Latim futurus, “o que vai ser, o que ainda não foi”, do verbo esse, “ser”.
Algumas vezes vemos coisas modernas, do Latim modernus, “atual, pertencente aos nossos dias”, de modo, “agora, de certa maneira”, de modus, “medida, maneira”.
Outras são antiquadas, outro derivado de antiquus. E parem com as risadinhas!
Estas mesmas podem ser chamadas de velhas, do Latim vetus, “velho, idoso”, literalmente “do ano anterior”, de uma fonte Indo-Europeia wetos-, “com anos, entrado em idade”. Quietos!
Em oposição a isso, temos novo, do Latim novus, “novo, recente, pouco experiente”.
Às vezes se usa hodierno, que nos veio do Latim hodiernus, “referente ao dia de hoje”, de hodie, “hoje”, de hoc diem, “neste dia”.
Uma palavra que tem uso muito errado é diuturno. A maioria pensa que isso quer dizer “diurno e noturno” ou que é uma variação de diurno e assim usa a coitada. Mas diuturnus em Latim significa “aquilo que dura muito tempo”, e é esse ainda o seu significado atual. Vem de diu, “longo período de tempo”.
Agora peguem suas coisinhas e vão para casa. Gostaria que a estada de vocês em suas casas fosse diuturna, mas nem tudo se realiza conforme a gente quer.
Meu avô limpava os livros de sua biblioteca quando me ocorreu a pergunta:
– Quem foi que inventou o tempo?
Ele apenas me olhou com ar interrogativo. Eu sabia que isso queria dizer “explique-se melhor, que isso está vago demais”.
– É, Vô, o tempo que passa nos relógios, não o tempo das nuvens e do calor e do vento. Quem foi que se deu conta que ele existia?
– Ah, agora sim. Devo dizer que sua pergunta é extremamente profunda, muito mais do que se poderia esperar, apesar de você ser um cabeça-oca.
Não dá para responder a ela, pois os físicos ainda estão discutindo o assunto e alguns até mesmo dizem que ele não existe.
Mas nós aqui podemos lidar com as palavras que o ser humano usa para lidar com uma coisa tão familiar e tão difícil de definir.
Ajeitei-me no velho banco de couro macio enquanto ele largava o pano de limpeza e se sentava na poltrona.
– Podemos começar com tempo mesmo. Ela veio do Latim tempus, “tempo, estação do ano”.
Podemos seguir com a palavra que designa uma parte do presente, hoje. Esta deriva do Latim hodie, de hoc die, “este dia”. Bem claro, não?
– Ah, que legal. E ontem, era “o dia que passou”?
– Essas tentativas em Etimologia quase sempre saem mal. Mas você não passou longe em seu chute. Essa palavra veio de ad noctem, “na noite”, significando “na noite passada”.
Antes que você pergunte, já vou dizer que amanhã vem de ad maneana, de hora maneana, “momento ou hora inicial do dia”.
– Eu me lembro da D. Alaídes dizendo “treisontonte”, que eu achava que se referia a uma data, mas nunca entendi.
– Ah, ela não tinha muita educação formal, mas lá se expressava. Isso é porque existe a palavra anteontem, de “antes” mais “ontem”. E o dia anterior a este é trasanteontem, que na linguagem popular, decerto influenciado por “três”, virou o que ela disse.
Podemos falar no presente, que vem do Latim praesens, “imediato, à disposição, presente”, de praeesse, “estar à mão, estar à frente”, de prae, “antes, à frente”, mais esse, “ser, estar”.
E no passado, que vem do Latim passare, “passar”, de passus, “passo”. É uma analogia que se fez entre o tempo e uma caminhada.
O caminho que percorremos está passado; infelizmente não pode ser percorrido de novo para acertarmos as voltas erradas que demos.
O velho suspirou. Eu respeitei suas lembranças ficando quieto e logo ele ergueu a cabeça:
– Felizmente existe o futuro, no qual colocamos as esperanças. Deriva de futurus, “o que vai ser, o que ainda não foi”, do verbo esse.
– E o ano?
– Vem do Latim annus, o tempo em que a Terra dá uma volta completa ao redor do sol.
Ele se divide em estações, que derivam de statio, “lugar de paragem, morada, posição”, de stare, “ficar, estar de pé”.
Um período de cem anos se chama século, do Latim saeculum, “idade, duração, geração”. Só foi adquirir o sentido de “cem anos” tardiamente.
Temos também o milênio, de mille, “mil”, que não preciso explicar.
– E os tempinhos pequenos, como a hora?
– Esta veio do Latim hora, “hora, tempo, estação”, do Grego hora, “qualquer tempo definido em extensão”.
– Ué!
– Sim, isso era meio complicado. Para os gregos, hora era inicialmente uma estação, mas também uma parte do dia, como manhã, tarde ou noite.
– Deixa para lá, Vô, agora quero saber do minuto.
– Esse vem da divisão de um círculo em sessenta partes, que eram chamadas em Latim pars minuta prima, “a primeira parte pequena”. Como se determinou que a hora teria sessenta subdivisões iniciais, a analogia geométrica se aplicou a ela.
– Vejam só. E…
– Já sei. O segundo vem de pars minuta secunda, “a segunda parte pequena”, cabendo também sessenta deles num minuto.
– E este instante?
– Arre, que você está perguntão hoje!
– Eu sei que o senhor gosta.
– Gosto, mas não confesso. “Instante” vem do Latim instans, “urgente, premente”, de instare, “ficar perto, apressar, exigir”, de in– “em”, mais stare.
– Que nem eu faço quando quero muito alguma coisa e me paro bem junto da Mãe ou do Pai até que resolvam me atender…
– Ou até que resolvam lhe dar a palmada que você merece, seu manipulador.
Mas agora, que veio de hac hora, “nesta hora”, chega de falar que já estou com sede.
Pegue este pano e me ajude aqui com estes livros.
Eu tinha ido visitar meu avô e cheguei à sua casa sob uma cobertura de nuvens bem escuras, num dia ventoso e frio. Percorri o pátio entre as folhas em revoada e entrei em seu gabinete.
Uma gostosura: madeira, couro, livros cuidadosamente arrumados por toda parte, um fogo aceso na pequena lareira. O velho se alegrou em me ver. O gato Ernesto Sábato, que estava em seu colo, miou e veio me fazer festa, bem no momento em que o vento uivou mais forte lá fora e a chuva começou a cair com força no telhado.
– Escapou da procela bem na hora, hein, meu neto?
– Sei que escapei da chuva, nisso aí nunca ouvi falar, Vô! – e me acomodei no banco macio onde eu costumava ficar horas perdidas ouvindo-o falar.
– Claro, na época atual os jovens que sabem mais de 500 palavras em nosso idioma são raros. Com sua idade eu já estava cansado de saber que essa palavra significa “tempestade”. Só levei algum tempo para descobrir que vinha direto do Latim procella.
– Quer dizer que há duas palavras para designar um tempo destes?
– Hum, mais que duas. Por exemplo, pode-se usar tormenta para o mesmo fim. Esta vem também do Latim, no qual tormentum designava uma máquina de guerra usada para arremessar pedras ou um instrumento de tortura.
– Ué, e o que tem a ver com tempo ruim?
– Tem que, naquelas épocas, as pessoas eram muito mais afetadas pelas variações climáticas: elas eram apanhadas no campo, suas plantações eram destruídas, seus parentes que trabalhavam em barcos muitas vezes não voltavam. Daí o sentido atual de tormento, de “sofrimento, dor moral”.
Por falar nisso, tempestade vem do Latim tempestas, relacionado com tempus, “tempo”, que inicialmente queria dizer “espaço transcorrido entre dois momentos” – e mantém esse significado – e depois passou a expressar “período de clima”.
Mas em Inglês há palavras separadas para isso: o tempo do relógio é time e o do clima é weather.
– Veja só. Mas como sopra o vento! Assim a gente se sente mais abrigado aqui dentro, não é?
– Verdade, e antes que você pergunte, vou dizer que ventania vem de ventus, “vento” mesmo, que não mudou muito com os séculos.
Um trovão soou e o gato se enfiou debaixo de uma mesa, orelhas para trás e pupilas dilatadas. O velho disse:
– Por mais que eu explique, esse gato não acredita que esse barulho não vai machucá-lo.
– Se o senhor tivesse orelhas que nem as dele aposto que não ia gostar de trovoada também.
– Tem razão, rapaz, tem razão… E sabe que trovão vem do Latim turbo, “turbilhão”?
E sabe que antigamente uma canhão podia ser chamado de trom, por derivação de trovão?
– E o furacão, Vô, é verdade que quando passa um deixa todos os cachorros com um buraco?
– Mais uma dessas e eu o jogo lá fora na borrasca, seu gracioso. Essa palavra vem, através do Espanhol huracán, do idioma Taino, do Caribe, onde essas tempestades complexas são comuns.
Existe também o tufão, que representa um caso muito curioso de origens totalmente diferentes com sons semelhantes e mesmo significado. Deriva tanto do Grego Typhon, um deus dos ventos, talvez relacionado a typhein, “fazer fumaça”, como do Cantonês tai fung, “grande vento”.
E não se esqueça que furacão acontece no Atlântico e que tufão ocorre nos mares asiáticos.
– Quando tiver meu iate transoceânico vou me lembrar disso, Vô. Mas o senhor disse que ia me jogar na borrasca. E esta, de onde vem?
– Parece vir do nome de outro deus grego dos ventos, um tal de Bóreas “o vento Norte”.
– Daí a “aurora boreal”?
– Muito bem, meu neto, eu sempre disse que você é mais inteligente do que parece. Perfeito, “boreal” é sinônimo de “setentrional”, de “relativo ao norte”.
Eu não sabia se me animava com aquele duvidoso elogio ou não, de modo que perguntei de onde vinha tornado.
– Essa vem de outra mistura; tanto do Latim tornare, “virar”, coisa que o vento faz com alta velocidade, como de tonare, “trovoar, fazer barulho”.
– E os ciclones ?
– Essa é do Grego kyklos, “o que se move em círculos”.
– Imagino os faunos e ninfas correndo de um ciclone naquelas épocas antigas…
– Pois pode parar, que essa palavra é moderna. Começou a ser usada em 1848, por obra de um funcionário inglês na Índia, ao descrever uma tempestade enorme que se formou lá.
– Enfim, e o toró?
– Essa parece ser de origem onomatopaica, ou seja, imitativa de um som.
Mas agora vamos ficar ouvindo a chuva e curtindo esse barulhinho gostoso, que muita Etimologia pode fazer mal para cabecinhas ocas.
E assim ficamos, olhando o fogo e ouvindo a chuva.
Este tempo não passa! A turma está incontrolável e a hora da saída está longe ainda! Os segundos parecem minutos, os minutos são horas!
Como, Ledinha? Não, nada, estou apenas resmungando. Coisas de uma pessoa cujo destino a faz pagar por coisas que deve ter feito em outra vida, que nesta nada justifica tamanho penar.
Muito bem, já tive a inspiração que me faltava. Meninos, deixem de acossar a Maria Tereza. Val, pare de falar. Zorzinho, pare de escrever. Soneca, acorde e continue dormindo. Mariazinha, pare de tentar uma reunião de cúpula com os meninos. Agora vamos fazer uma roda aqui no chão e vamos falar do Tempo, essa coisa que assusta tanto os seres humanos.
Não, Ledinha, não interessa se o tempo agora está chuvoso ou não; nós vamos falar nele com o sentido de “passagem dos momentos”. Realmente, o nosso idioma se presta a essa confusão porque, desde o século 16, tal palavra passou a significar também clima.
Os ingleses não sofrem disso, pois têm uma palavra para clima, weather, e outra para o tempo que nos envelhece, que é time.
No início, os romanos usavam tempus para designar “estação do ano, medida de uma sílaba para fazer poemas”.
Houve até agora diversas maneiras de medir o transcorrer do tempo. Não vamos hoje falar nos mecanismos usados, mas sim nas unidades que eles marcam.
Está certo, Robertinho, é fácil ver as horas no relógio digital, mas na época antiga não existia nem o despertador do seu avô.
Já que você falou em hora, vou contar que hora, em Latim, tinha um significado menos estrito que hoje e servia para designar “tempo em geral, hora, estação do ano”.
Em Grego, a palavra hora era usada para qualquer porção delimitada de tempo, como dia, hora, ano, estação. Que confusão, não é?
Pior vocês vão achar ainda se souberem que os gregos pegaram dos babilônios a idéia de dividir o dia em doze partes. Só que estes dividiam o dia inteiro em doze partes, com o que as suas horas duravam o dobro das nossas.
Talvez porque naquelas épocas a iluminação artificial era precária e poucas atividades se desenvolviam durante a noite – quieto, Joãozinho! – os gregos resolveram, passar essa divisão em doze para as horas em que havia luz. Os romanos também adotaram esse método.
Como resultado, as horas passaram a ter uma duração diferente conforme a época do ano, pois o tempo entre o nascer e o pôr do sol varia conforme as estações.
Por incrível que pareça, apenas no século 16 foi que se fez a distinção entre a hora sideral – vinte e quatro por dia, todas iguais em duração – e a chamada “hora temporária”, essa de que eu falei.
Uma coisa em que muitos ainda acreditam é o horóscopo. Ele tem a ver com essa hora de que estou falando, sim. Vem do Grego horoscopos, de hora mais skopos, “olhar, vigiar”, já que o fazedor de horóscopos indagava da hora de nascimento da pessoa.
Hein, Valzinha? Não, não queremos saber da briga do casal da frente da sua casa porque a sua vizinha leu no horóscopo que o marido ia encontrar uma paixão no seu trabalho. Deixe para lá.
Não, Lúcia, o mundo continuava existindo de noite, só que eles não contavam horas nesse período. Talvez, como eu disse, porque não havia muito o que fazer… Não, Joãozinho, não pedi sugestões sobre o que eles poderiam fazer. Calado!
Todos sabem que a hora se divide em 60 minutos. Este nome se originou na Geometria; foi dado por analogia com o círculo. Vocês ainda vão aprender que este se divide em 360 partezinhas bonitinhas, todas iguaizinhas, que se chamam graus. Pois um dia um matemático chamado Ptolomeu precisou de unidades mais precisas para seus estudos e dividiu cada um desses graus em 60 partezinhas bonitinhas iguaizinhas pequenininhas.
A cada uma delas ele chamou, usando o Latim, pars minuta prima, “a primeira parte pequena”, o que deu nosso minuto.
Calma, Mariazinha; você tem razão, deixe-me contar. É isso mesmo, se ele deu esse nome foi porque ele pretendia fazer ainda outra divisão: fragmentou o minuto em outras 60 partezinhas, que ele chamou de pars minuta secunda, nossos atuais segundos.
Essas subdivisões se aplicaram à hora, que passou a ter 60 minutos com 60 segundos cada.
Muito bem, Robertinho; você quer saber porque os antigos não dividiam essas partes em dez e cem. É que os babilônios escolheram o sistema duodecimal, baseado no número doze, que apresenta a vantagem de ter vários divisores. O 60, por exemplo, que é 5 vezes 12, pode ser dividido exatamente por 1, 2, 3, 4, 5, 6, 10, 12, 15, 20, 30, 60. Isso ajudava muito numa época em que as calculadoras eletrônicas não eram abundantes no mercado.
Um conjunto de 24 horas é chamado de dia. Tal palavra vem do Latim dies, de uma fonte Indo-Européia dyeu- ou diwos-, que queria dizer “brilhar” e também era associada a “céu”. Esta fonte também gerou as palavras “deus”, “divindade”, “Zeus”.
Um grupo de sete dias nós chamamos de semana, que em Latim era septimana, “relativo ao sétimo dia”. O adjetivo mais comum referente a ela é semanal. Mas podemos usar uma palavra mais culta, hebdomadário. Isto vem do Latim eclesiástico hebdomadarius, “aquele que desempenha ofício uma vez por semana”, do Grego hebdomos, “sétimo”.
Nosso ano tem doze meses, nome que vem do Latim mens, que no começo designava o mês lunar. Sua fonte Indo-Europeia tinha o significado tanto de mês como de lua.
E ano vem do Latim annus, “volta completa da terra ao redor do sol” e se você não parar quieto, Joãozinho, eu vou prendê-lo no armário. Como? Não. Sozinho, sem nenhuma das meninas.
Existe uma medida de tempo pouco usada agora: é o lustro, “cinco anos”. Em Roma, a cada cinco anos, se fazia a cerimônia das “águas lustrais“, na qual se fazia a purificação através do contato com a água. Elas eram chamadas assim a partir do verbo lustrare, “espalhar luz, iluminar”. E esse verbo vinha da palavra lux, “luz”.
O dobro de um lustro é um decênio. Esse nome vem de decem, “dez”, mais… Está certo, Joãozinho, annus, “ano”, mas não precisava gritar assim.
Pode-se usar também década com esse sentido, mas essa palavra designa mesmo é um período de dez dias, de decem dies. Também pode ser usada para um conjunto qualquer de dez elementos. Dá para dizer “Na minha aula há duas décadas de mal-educados”, por exemplo.
A marcação das datas é feita pelos calendários. Esse nomezinho vem do Latim calendarium, “livro de contas”, que veio de kalendae, o nome dado em Roma ao primeiro dia de cada mês, época em que os empréstimos venciam e deviam ser acertados os negócios. E esse nome veio do verbo calare, “anunciar publicamente”, que deriva do Indo-Europeu gal-, “gritar, chamar”.
Hoje, nós chamamos um conjunto de cem anos um século, mas para os romanos saeculum podia significar também um espaço de trinta anos, de mil anos ou qualquer intervalo grande de tempo.
E o nosso milênio vem de mille, “mil”, mais… Aí está. Hoje o Joãozinho resolveu me ajudar com o Latim. Algumas coisas você aprende rápido, não?
Há nomes que designam também fragmentos curtos mas indeterminados de tempo, como momento. Esta palavra vem do Latim movimentum, de movere, “mover, deslocar”, já que fazemos a imagem de que o tempo passa, se desloca.
Isso fora daqui; dentro desta sala os astrofísicos deveriam fazer estudos para ver por que o tempo se arrasta, como eu já disse.
Também podemos dizer instante, que vem do Latim instans, “presente, urgente, aquele que apressa”, e que vem do verbo instare, de in-, “em”, mais stare, “estar, ficar de pé”.
E, ora vejam! Não é que o tempo se decidiu a passar e já terminou a nossa aulinha? Peguem as suas coisas e saiam como se fossem comportados. Sem perda de tempo, por favor.