Por vezes, catástrofes naturais acabam com uma cidade ou com um bairro. Outras vezes, é uma guerra ou um acidente evitável que leva embora vidas valiosas. Pode acontecer também que a política ou a economia de um país o levem a uma situação de perdas e sofrimento.
A destruição tem muitas causas, e a linguagem humana é rica em palavras para a expressar.
DESTRUIR – vem do Latim destruere, “romper, demolir”. Ao pé da letra, esse verbo queria dizer o que está tão na moda hoje, que é “desconstruir”. Formou-se de de-, “para trás, abaixo”, mais struere, “construir, empilhar”.
Os filmes americanos tanto mostram um tipo de navio de guerra chamado destroyer que nós acabamos acreditando que a nossa Marinha tem vários deles.
Não tem nenhum. Tem é “contratorpedeiros”, que é o nome técnico da belonave.
A palavra destroyer vem do nome usado na Marinha americana, que era, primitivamente, torpedo boat destroyer, com o mesmo significado do que nossa Marinha usa.
Eram navios feitos para responder aos ataques dos torpedo boats, “torpedeiros”, barcos pequenos e velozes com capacidade de lançar torpedos. Um dos primeiros navios feitos para combater os torpedeiros foi batizado Destroyer, em 1882, o que firmou o nome desta categoria.
DEPREDAR – há desavisados que acreditam que esta palavra tem relação com uma multidão enfurecida atirando pedras em algum lugar.
Nada disso; ela vem do Latim depraedare, “destruir, devastar, despojar”, verbo formado por de-, no sentido de “botar abaixo”, e praedare, “roubar, destruir”, de praeda, “botim, presa”.
Um derivado de praeda é “predador”.
EMPASTELAR – hoje é uma palavra pouco usada, mas houve época em nosso país em que desordeiros, muitas vezes sob um olho complacente das autoridades, empastelavam uma redação de jornal, isto é, a destruíam.
Tal palavra veio da própria linguagem dos profissionais gráficos, que a usavam para dizer que houve mistura dos tipos de composição.
Vem do Latim pasta, “massa”, no sentido de serem misturados e amassados diversos ingredientes, resultando algo muito diferente dos componentes iniciais.
ARREBENTAR – do Latim repens, “súbito, inesperado, repentino”. O que arrebenta (ou o que rebenta; é a mesma coisa) sempre o faz de modo rápido. Daí também os nossos “repentistas”, cantores que têm uma capacidade espantosa de criar versos em poucos segundos a partir de um dado tema.
ESTRAGO – vem do Latim strages, “amontoado, destruição, escombros, ruína”.
Quando comentamos que uma fruta está estragada, não imaginamos que essa palavra vem de um significado tão radical. Tampouco o imagina o rapaz que diz que “essa moça fez estragos no meu coração”.
MUTILAR – do Latim mutilare, “cortar fora”, de mutilus, “aleijado”. Talvez esta palavra tenha a mesma raiz do Grego mytilos, “sem chifre, corneta”.
Em Roma, os escravos tinham a cabeça raspada e, por isso eram chamados de mutilus. Como muitas vezes eles levavam às costas um saco de tecido para poderem carregar as encomendas dos amos, estes sacos levaram o nome deles e acabaram resultando na nossa palavra “mochila”.
DIZIMAR – já houve quem escrevesse que “o grupo foi totalmente dizimado, não sobrando um só”. Essa frase indica um desconhecimento atroz ou de Português ou de Matemática. Tal palavra vem do Latim decimare, “destruir ou matar um em cada dez”, de decem, “dez”.
Esse era um castigo que muitas vezes se aplicava a uma cidade ou exército que entrassem em rebelião: fazia-se um sorteio e um décimo das pessoas sofria as penas.
DILAPIDAR – do Latim dilapidare, “arruinar, destruir, estragar a pedradas”, de dis-, “em pedaços”, mais lapidare, “atirar pedras”, de lapis, “pedra”.
Deste último verbo se formou um outro, mais pacífico, lapidar, que significa “trabalhar ou gravar a pedra”, coisa para especialistas.
Em geral, dilapidar se usa para descrever bens desperdiçados por quem não sabe mantê-los, tal como um herdeiro mal-preparado.
DEMOLIR – deriva do verbo latino demoliri, formado por de-, “abaixo”, mais moliri, “construir”. Esta palavra, por sua vez, veio de moles, “grande estrutura”.
Em Português existe a palavra “mole” com este sentido, mas o leitor comum quase nunca a vê. “A mole imensa do rochedo pendia sobre ele”… é coisa que se vê só em algum escrito do século 19.
A palavra “mole” no sentido de “macio, não rígido” vem do Latim mollis. Por convergência de forma, acabamos tendo palavras idênticas para expressar significados absolutamente diferentes.
EXTERMINAR – em Latim, exterminare queria dizer “expulsar, levar para fora”. Tal palavra se originou na expressão ex termine, “além dos limites”, de termen, “fim, limite, fronteira”.
Como uma pessoa expulsa do seu cargo ou lugar muitas vezes corria um risco, tal palavra também queria dizer “destruição”, e com esse significado foi que chegou até os nossos dias.
ANIQUILAR – de uma palavra latina, annihilare, que queria dizer “reduzir a nada”, formada por ad-, “a, para”, e nihil, “nada”.
Dessa fonte se gerou também “nihilismo”, inicialmente “doutrina da negação quanto à religião ou à moral”, depois se aplicando à Filosofia e Política.
ICONOCLASTA – do Grego ikonoklastés, “destruidor de imagens”, de eikon, “imagem, aspecto”, mais klastés, “aquele que quebra”.
Originalmente se aplicava, nos séculos 8 e 9, àqueles que se rebelavam contra a adoração de imagens, na Igreja do Oriente. Atualmente denomina as pessoas que desejariam destruir organizações e instituições.
ANARQUIA – do Grego anarkhia, “sem chefe, sem líder”, formado por an-, “sem” e arkhos, “líder”.
Hoje é sinônimo de “baderna, bagunça, confusão”. Mas a idéia inicial era a de um Estado onde as pessoas pudessem agir sem controles ou tutela de alguma forma de autoridade. Um Estado assim, obviamente, só poderia ser composto de pessoas de altíssimo nível moral e de conduta.
Uma utopia, portanto.
VANDALISMO – do Latim Vandalus, nome dado à tribo germânica que saqueou Roma em 455, sob a chefia de Genserico. O nome que eles haviam atribuído a si mesmos era Wandal, “errante”. O nome da tribo foi associado a depredações sem sentido pela maneira como eles trataram os monumentos da cidade. A eles é atribuída a generalizada falta de narizes das belas estátuas que lá estavam.
BÁRBARO – para os Gregos, barbaros era “estrangeiro, estranho, ignorante”; a rigor, “aqueles que não falavam Grego”. Essa palavra deriva de uma onomatopéia, pois eles diziam que os estrangeiros falavam de modo incompreensível, como “bar-bar”.
Assim, eram considerados “bárbaros” todos aqueles não pertencentes à nação grega e, depois, romana. Hoje a palavra se aplica a condutas desregradas e pouco sociais.
SABOTAGEM – vem da palavra francesa saboter, “caminhar ruidosamente”, de sabot, “calçado com sola de madeira, tamanco”.
Usada desde 1910 com o sentido de “estragar deliberadamente material alheio”, teve origem em situações de disputas trabalhistas na Europa. No entanto, não há confirmação para a explicação popular de que os operários jogavam seus calçados nas máquinas para estragá-las.
O uso da palavra se prende basicamente à metáfora de “agir desajeitadamente” como é o caso de quem tem que caminhar com tamancos volumosos e pesados.
EXTINÇÃO – muitas espécies animais, vegetais e mesmo linguagens estão atua
lmente sob esta ameaça. Essa palavra vem do Latim extinguere, “destruir, apagar, fazer desaparecer”, de ex-, “fora”, mais stinguere, “derrotar, destruir”. A origem mais remota é o Indo-Europeu steig, “furar, espetar”.