ORIGEM da palavra
origem da palavra CASCO no sentido de vasilhame
Resposta:
A origem é a mesma para todos os diversos significados de casco: o Latim CASICARE, relacionado a CADERE, “quebrar, golpear, bater”.
origem da palavra CASCO no sentido de vasilhame
A origem é a mesma para todos os diversos significados de casco: o Latim CASICARE, relacionado a CADERE, “quebrar, golpear, bater”.
Olhem, a criançada toda ao redor da Lary, que não para de falar sobre… sobre o que mesmo?
Ah, você foi dar um passeio a cavalo neste fim de semana com a sua família, que bonito! Gostou? Não diga, em certo momento, teve que se segurar na crina dele para não cair? É, ainda não inventaram cinto de segurança para andar neles.
Sim, crianças, eu já sabia que cavalos não têm mudança de marcha nem sinais de luz. Mas não se preocupem, com o avanço da tecnologia talvez um dia venham a ter.
Vamos aproveitar então o seu exemplo e falar sobre a origem de palavras relacionadas aos nossos amigos quadrúpedes.
Para começar vamos ver cavalo: em Latim, caballus era o nome dado ao cavalo de carga. Os cavalarianos de Roma não montavam um caballus, montavam um equus, palavra que veio do Indo-Europeu ekwos, “cavalo”.
Aliás, essa palavra originou termos de uso culto, como equestre, equídeo, equino. E não nos esqueçamos que a senhora do cavalo é chamada de égua, outro derivado de equus.
Não, Faustinho, a palavra equivalente não vem daí, não. Ela vem de aequus, que tem uma letrinha a mais e significa “igual”; é absolutamente diferente. Mas não fique emburrado, por favor; além de mim, ninguém é perfeito.
Já que se falou em crina, informo que ela vem do Latim crinis, “cabeleira, pelo, trança”.
E desde já aviso que se deve evitar passar perto dos cascos, cujo nome vem do Latim casicare, relacionado a cadere, com o sentido de “bater, quebrar, golpear”.
Como, Patty? Os sapatos do cavalo?… Não, aquilo se chama ferradura e deriva de ferro, o material de que é feito. Mas de qualquer modo tem o mesmo uso de nossos sapatinhos, serve para proteger as extremidades do contato com o solo. E vem do Latim ferrum, o nome do metal.
Para a gente se acomodar no lombo do animal, usa-se um assento chamado sela, do Latim sella, de sedes, “assento, lugar para sentar”.
Por muito tempo as pessoas montaram o cavalo em pelo…
Não, Valzinha, “em pelo” se refere ao cavalo, não às pessoas. E não nos interessa saber o que a sua vizinha da fente costuma fazer quando está com calor.
Como eu dizia antes de ser interrompida por essa menina fofoqueira, as pessoas montavam diretamente sobre o cavalo, no máximo colocando uma coberta sobre o dorso. Do cavalo, não da pessoa, Faustinho!
Mas se tem notícia de estruturas que serviam de sela já no ano 700 AC; assim ficou mais seguro e confortável montar.
Outra invenção que ajudou foi o estribo, do Latim strepum. Muita queda eles evitaram.
Nãão, crianças, o cavalo não tem guidom; para manobrá-lo, usam-se rédeas, do Latim retina, de retinere, “conter, reprimir, reter”. É desta maneira que se controla esse bicho. Mas em certos aluninhos nem colocando rédeas se consegue algum domínio.
Não nos esqueçamos que há um lugar onde eles são postos para disputar corridas, o hipódromo. Este nome vem do Grego hippos, “cavalo”, mais dromos, “corrida”.
Outro parente é hipismo… nada disso, Zorzinho, esta palavra significa “conjunto de esportes praticados sobre cavalos”; nada a vem com hippie, que vem do Inglês hip, “pessoa a par das últimas ideias e tendências”. Este menino é muito solerte, aposto que ele sabia direitinho disso.
O conjunto de atividades relacionadas às corridas de cavalos se chama turfe, do Inglês turf, “pedaço de solo com grama”, por extensão “terreno coberto com grama”.
As pessoas que montam os cavalos para isso são os jóqueis. Tal palavra vem do uso escocês do nome Jock, uma variante de Jack, diminutivo de John, “João”. Tratava-se de uma palavra usada para designar “rapazes” em geral.
Mais ou menos como o pessoal se chama de “mano” atualmente.
Os cavalos são criados em haras, que veio do Francês haras, “conjunto de cavalos destinado à reprodução”, mais tarde o nome do estabelecimento. Deriva de um radical har-, dando a noção de “cavalo”, possivelmente do escandinavo harr, “grisalho”.
Outro nome para esses estabelecimentos é “coudelaria”; por estranho que pareça, ele tem a ver com “capitão”.
Parece loucura, mas essa palavra vem de “coudel”, que significava “capitão de cavalaria” e mais tarde “chefe de estabelecimento onde se criam cavalos”. Ambas as palavras vêm do Latim caput, “cabeça”, aqui com a conotação de “cabeça pensante, chefia”.
Bonito, não?
Também é interessante aprender que há pelo menos dois nomes próprios de origem grega que fazem referência ao cavalo.
Um deles é Felipe, de Phílippos, “o que gosta dos cavalos”, de philos, “amigo, apreciador”, mais hippos.
O outro é pouco usado em nosso idioma, mas todos já ouviram alguma vez: é Hipócrates, de hippos mais o verbo kratéo, “eu domino, eu tenho poder sobre, eu controlo”. Foi um nome criado numa época em que domar cavalos e cuidar deles tinha um significado especial para uma nação.
A Valzinha ali quer falar algo sobre um vizinho dela. O que é, menina? Sim, o tal menino é muito grosseiro e seus pais dizem que é porque o pai dele é um cavalo e…
Chega, peguem suas coisas e vão galopar lá fora que vai começar o recreio.
O impertérrito Detetive das Palavras aguarda pela consulta das 21h. Sentado atrás da escrivaninha de seu decadente escritório, tem todo o aspecto de uma aranha à espera que sua presa caia na teia.
Pelo menos ele pensa assim. Mas ele é um romântico incurável e um perpetuador do roman noir, o que se evidencia na decoração de seu local de trabalho, onde ele atende ao desejo que toda palavra tem de saber sobre seu passado.
Entra a palavra-cliente: é Cassar. Como todas, está impressionada por estar frente a frente com o lendário detetive.
Este, para a deixar mais à vontade, pergunta por que ela está ali. E recebe a resposta de sempre: ela sempre quis saber de seu passado, de suas parentas longínquas, de que país veio, sente-se meio ultrapassada ao ver suas amigas que já se informaram sobre o assunto, juntou uma graninha e finalmente resolveu dirimir a questão que tanto a afligia.
Dá para ver que ela está menos tensa agora. X-8 entra finalmente no assunto:
– Pois veja você, Cassar, sua origem remonta aos tempos de Roma, quando andava por lá o verbo quatere, “sacudir, chacoalhar, bater”, por extensão “ameaçar, quebrar”.
Usava-se dizer também quassare quando a ação era repetida, o que se chama de um verbo “frequentativo”.
O mesmo acontece com “cantarolar”, que é o frequentativo de “cantar”, “mordiscar”, que é o frequentativo de “cantar” e assim por diante.
Enfim, dessas duas formas de seu antepassado vieram para o nosso idioma várias de suas parentes.
Você, para iniciar, com esse seu sentido de “anular, revogar, privar de”, é quem tem mais semelhança com a origem.
A palavra inchou de orgulho. São tão fáceis de alegrar, elas!
O grande profissional prosseguiu:
– Com esse significado original, não é estranho que outras descendentes expressem idéias meio agressivas.
Por exemplo, concussão. Ela se forma por com, “junto”, mais o particípio passado de quassare, que era cussus, passando a ideia de “abalo, batida”. Uma concussão cerebral é uma coisa a ser tratada com muita seriedade.
É interessante lembrar que essa palavra, além de passar a ideia de “sacudida”, tem o significado de “obtenção de vantagens indevidas por funcionário público”, de um significado inicial de “extorquir pelo terror”.
Também podemos falar em eletrocussão, com o mesmo final e começando com “eletro-“, formado a partir de “eletricidade”.
Quando as pessoas se desentendem verbalmente, dizemos que surgiu entre elas uma discussão, de discutere, formado por dis-, “fora, mal, inadequado”, mais cussus.
Originalmente, o sentido do verbo discutere era o de “destacar, soltar algo por meio de sacudidas”. A Etimologia não é uma beleza? Olhe só se uma discussão não lembra algo como uma caixa contendo pequenos objetos, os argumentos, que vão sendo chacoalhados e se soltando durante a rixa! E depois se tem que limpar tudo.
Em termos mais amenos, podemos falar em percussão, com o início per-, “através” e o verbo quatere: é “através da batida” que se faz o acompanhamento de uma música.
Com usos menos pacíficos, temos o percutor de uma arma de fogo, a peça que bate contra a cápsula da bala para provocar a explosão do propelente e a conseqüente saída do projétil.
Quando queremos dizer que algo se espalhou, se refletiu por aí e causou uma impressão generalizada, falamos em repercutir, com o acréscimo do prefixo re-, aqui como intensivo.
Falando em bater, surge a lembrança de um instrumento feito para isso, o cassetete. Deriva do Francês casse-tête, “quebra” mais “cabeça”. Só que no sentido literal, não se trata de nenhum enigma ou adivinhação, não. Em certa época a palavra se referia também a vinho barato, que sobe logo à cabeça e a deixa em mau estado.
Falando em Francês, como eu aprecio muito a música clássica, lembro-me da Suite Casse-Noisette, a “Suíte Quebra-Nozes”, de Tschaikowski, outra ilustre parenta sua.
Existe também aquilo de que ninguém gosta, o fracasso. Ele deriva de uma mistura feita no Italiano das palavras latinas frangere, “quebrar” e quassare. Em Francês e Italiano elas têm um significado bem diferente do Português: querem dizer “ruído, estrondo como de algo a se quebrar”.
E quassare gerou uma palavra de uso militar: casco, “capacete antigo”, relacionado a “pedaços quebrados de potes”, ligado à imagem de um crânio quebrado. Para que este não se partisse como um vaso, deveria ser protegido com alguma coisa.
Temos também, veja só, a queixa. Ela vem de quassare, que de tanto chacoalhar acabou assumindo esta forma de expressar descontentamento e desgosto.
E agora vem sacudir, de succutere, “sacudir, agitar, abalar”, formado por sub-, “abaixo”, mais quatere.
Então, como a senhora vê, cara cliente, seu parentesco é bastante agitado, expressando quase sempre suas origens muito sacudidas. Vou aceitar agora o pagamento… Obrigado, eis o recibo… Não tente abatê-lo do Imposto de Renda porque é proibido, viu?
Até uma próxima, vá pela sombra e cuide-se dos ratos no corredor que eles estão agitados hoje.