Palavra

Etimologia

Palavras: marrano , , rebouças , retrete , trempe

Dia!

1. Marrano
2. Pã
3. Rebouças
4. Retrete
5. Trempe

Um rescaldo ainda da Heautontimorumenos: a palavra timorato está contida nela?
Agradecida,

Resposta:

a. Do Árabe MAHRAM, “coisa proibida”.

b. Tão antigo… origem discutida.

c. Talvez de rebouçar, “fazer limpeza de terreno”.

d. Do Catalão RETRET, “lugar retirado”, do Latim RETRACTUM,  de RE, “para fora”, mais TRACTUM, , de TRAHERE, “puxar, arrastar”.

e. Do Latim TER, “três”, mais PES, “pé”, pois muitas trempes

se apoiavam em três extensões.

Pã, panis, pão

Palavras:

A palavra latina panis, que deu origem á palavra pão, em português, tem alguma relação com o nome do deus grego Pã?

Resposta:

Não. Ela vem do Latim PANIS, de uma fonte mais antiga PA-,  signifcando “nutrir”.

E Pã, como tantos nomes de grande antiguidade, não tem etimologia definida.

FERRAMENTAS II

 

– Você se lembra, Vô, de uma vez em que me contou sobre a origem do nome de umas ferramentas? Você ficou de me falar sobre outras e acabamos nos esquecendo e agora seu neto aqui é um ignorante.

O velho esbelto e de barba branca curta me olhou com fingido ar de desprezo:

– Que eu me esqueça, do alto de minha avançada idade, não é nada. Mas que você se esqueça já na adolescência é um sinal perigoso. Talvez seja necessário interná-lo num lugar onde cuidem bem de você…

– Mas o senhor vai antes!

Ele suspirou.

– Está bem, em vez de discutirmos isso é melhor eu cumprir a minha promessa e a gente se esquecer de que se esqueceu.

Vamos lá, posso começar pelo sargento.

– Iih, Vô, o senhor caducou de vez? A gente não ia falar sobre militares!

– Prezado descendente, sua ignorância me faz pensar seriamente que você foi adotado, pois não parece meu parente de sangue. Em todo caso, dando um desconto para a sua idade, informo de que estou falando sobre uma ferramenta, sim.

Ela serve para apertar uma peça de madeira contra outra ao serem coladas, por exemplo. Seu nome nada tem a ver com o posto militar, vem do Francês serre-joint, de serrer, “apertar, comprimir”, mais joint, “articulação, espaço entre superfícies”.

A pronúncia em Francês de serre-joint é muito parecida com a de sergent, “sargento”.

E agora, se Vossa Senhoria me permitir, informarei que morsa ou “torno de bancada”, aquele artefato que fica preso a uma mesa de trabalho e se usa também para apertar uma peça contra outra ou para firmá-la enquanto se trabalha nela, vem do Latim morso, particípio passado de mordere. Tanto é assim que as duas peças que se aproximam entre si para firmar um objeto se chamam mordentes.

Acrescento que o mamífero marinho das beiras do Ártico, com aquelas enormes presas, também se chama morsa, mas seu nome tem origem diferente. Vem do Francês Morse, do Russo morju.

– E o torno do qual o senhor falou?

– Esse veio do Latim tornus, particípio passado de tornare, “fazer girar, fazer dar voltas”. A função dele é fazer girar uma peça de madeira ou metal para que ela possa ser desbastada.

– E como se chama aquela coisa que se usa para desbastar e alisar um pedaço de madeira?

Plaina. Seu nome vem do Latim planea, derivado de planum, “liso, plano”, que é como deve ficar a madeira com ela trabalhada.  Se o trabalho for bem feito, claro.

– Muito bem, e a broca que usa para fazer furos?

– Essa que veio do Latim broccus, “o que tem a boca ou os dentes para a frente”, dando a ideia geral de  “pontudo, saliente”.

– E os brócolis? – disse eu, rindo.

– Acha que é muito gracioso, é? Pois essa palavra vem de broccus mesmo, pelo sentido de “fazer saliência ao nascer, brotar”. Quá! Por essa você não esperava.

– Não esperava mesmo, Vô. Mas agora já sei, e continuo torcendo que não me sirvam isso na comida.

– Estou com você. E isso me lembra que não há só esse vegetal com o nome derivado daquela palavra.

Existem vários animais também chamados de broca pelo seu mau hábito de perfurar coisas que interessam à nossa espécie, como cascos de navio feitos em madeira ou plantas úteis, como o café.

– Falando em café, o senhor podia falar em ferramentas para agricultura?

– Como não. Podemos começar com a , do Latim pala.  Eles tinham também outro nome para ela, sappa. Até hoje existe a palavra sapador para designar aquele que faz certos trabalhos de engenharia militar.

Até pelo menos a Idade Média, estes eram importantíssimos nos trabalhos de cerco a cidades: faziam escavações por baixo das muralhas e enchiam o espaço assim aberto de lenha e acendiam fogo, para enfraquecer as fundações delas.

– Legal! Então era só chamá-los que a cidade estava tomada?

– Nada disso. O pessoal de dentro também tinha os seus sapadores, que faziam túneis para descobrir os dos atacantes e muitas vezes ocorriam lutas das mais horrendas debaixo da terra.

– Espertos, eles.

– Ah, para matar a humanidade sempre foi muito criativa. Mas voltando a atividades mais produtivas, podemos pensar na enxada, que veio do Latim asciata, o nome da ferramenta.

– E aquele instrumento que a Morte usa para suas colheitas?

– Que imagens! Você deve estar se referindo à foice.

Essa palavra veio do Latim falx, “foice”.  E agora me ocorre também o rastelo, que se usa para juntar folhas caídas, que veio do Latim rastellum, ligado a rastrum, “rastro, marca no chão”, já que ele sempre deixa seus sinais onde é usado.

Um utensílio mais ou menos com a mesma função é o ancinho, do Latim uncinus, “gancho”, diminutivo de uncus, “gancho, bastão recurvo”.

– E a picareta?

– Essa vem de “picar” mesmo, pois é para isso que serve, ao bater na terra e soltar seus fragmentos para serem retirados. E esse verbo deriva de uma base onomatopaica, isto é, da imitação do som de uma batida seca, “pic”.

– Então o pica-pau vem daí?

– Exatamente, que neto esperto eu tenho! Quem diria…

O velho tinha um jeito de não demonstrar com palavras o seu carinho, mas a mim não enganava.

– E agora, caro descendente, vamos parar que essa conversa toda sobre material de trabalho me deixou cansado. Vamos ouvir uma boa música e falar alguma besteira, para variar.

Resposta:

Ferramentas II

Eu me tinha interessado tanto com o que meu avô tinha falado sobre a origem do nome das ferramentas comuns que fiz uma lista mental e, assim que pude, fui visitá-lo para aprender mais.

– Hum, um jovem que não está apenas querendo saber de futebol e pagode. Só pode ter puxado a mim! – disse ele, tentando disfarçar seu contentamento.

– Nada disso, Vô, eu fui adotado – respondi, com a maior cara-de-pau.

– Então é um milagre. Ajoelhemo-nos para rezar.

– Quem sabe a gente pula essa parte e o senhor responde às minhas perguntas?

– Está bem, seu incréu, está bem. Mande.

– Vamos ver então… tesoura de onde vem, Vô?

– Do Latim tonsorius, “o que serve para cortar”, do verbo tondere, “cortar, tirar o pelo”.

Existe um outro derivado desse verbo que é tonsura, aquele corte circular do cabelo que os padres ostentam na cabeça, como um sinal de que são servos do Senhor.

– Ué, por que?

– É que entre os romanos os escravos tinham o cabelo raspado para serem facilmente distinguidos dos cidadãos livres. Esta pequena zona raspada ficou como um símbolo dessa relação.

Já que falamos em tesoura, cabe lembrar o podão, que veio do verbo latino putare

– Ei, essa não! Não me esqueci de que o senhor uma vez disse que esse verbo queria dizer “calcular, estimar, considerar”. Mudou agora, é?

– Calma, seu afoito. Esse verbo também era usado para “desbastar, cortar o que não é necessário, podar”. Aliás, deve ter sido esse o seu sentido inicial, seguindo o fato tão comum de que palavras relacionadas à agricultura acabaram tendo outros significados na civilização romana. Veja bem a analogia entre podar uma planta e podar os fatos para se poder fazer uma estimativa.

– É disso que eu gosto nestas histórias, Vô.

– Para mim, essa é a maior graça da Etimologia.

– E a espátula que se usa para alisar coisas?

– Veio do Latim spatula, diminutivo de spata, “instrumento largo e achatado, espada larga”, do Grego spathe, “lâmina, instrumento achatado”.

Aqui me ocorre a palavra sapador, aplicada ao militar que se encarregava de abalar muralhas cavando túneis por baixo. Ele se chamava assim devido à sua ferramenta básica, a sapa, uma pá cujo nome vem de spata.

Mas saiba que o nome da que usamos modernamente, quando os explosivos se encarregam de destruir obstáculos, deriva do Latim pala, também “pá”.

– Muito bem; e a picareta?

– Do verbo picar, que se origina de um som imitativo, uma onomatopéia de batida: “pic, pic”. Usar uma picareta num terreno acaba deixando tudo fragmentado, picado.

Isso me lembra um instrumento que se usa para fazer furos, a pua. O nome dela não tem origem muito certa, mas pode estar relacionado com o verbo latino pungere, “fazer furos, fincar”.

Há outra ferramenta que se usa para fazer furos retirando a parte do meio do material, de modo a que a borda não fique irregular; é o vazador, do Latim vacivus, “desocupado, vago, vazio”, pois ele deixa um espaço vazio no meio. Sem ele, fazer furo num cinto acaba saindo uma porcaria.

– Para construir casas, sei que era muito usado o esquadro.

– Palavra que vem de exquadrare, “partir em quatro”, de quattuor, “quatro”. O ângulo de noventa graus resulta de cortar um círculo em quatro partes iguais. Você sabia que o ângulo reto é o ângulo que ferve a noventa graus?

– Como é isso, Vô?

– Deixe para lá, que em troca eu lhe digo de onde veio a palavra régua. Foi de regula, que veio do verbo regere, “determinar, dirigir, guiar”, ligado a rex, “rei”, pois a idéia era que ele fizesse exatamente isso.

– Espertinhos, esses romanos. Deixe ver, tenho mais um nome para saber… ah, prumo.

– Este vem do Latim plumbum, “chumbo”. É que se usavam pesos desse metal presos a fios, para que estes representassem bem a perpendicular dum dado ponto, já que as paredes deviam subir bem retinhas para cima, para poderem se sustentar melhor.

– E o que pesa mais, Vô, um quilo de chumbo ou um quilo de penas?

– Um quilo de chumbo – disse o velho cara-de-pau muito rapidamente.

– Peguei o senhor, Vô! Que vergoonha! Pois, se se trata de um quilo, os dois pesam a mesma coisa! Mas que vexame, meu avô, tão preparado…

– Ah, é, espertinho? Pois então me diga o que você prefere que lhe caia na cabeça, um quilo de chumbo ou um quilo de penas?

Aquilo me deixou balbuciando, tentando falar em densidade e coisas assim, mas o velho não parava de rir de mim, de modo que desisti. O velho estava impossível naquele dia.

Resposta:

Origem Da Palavra