Palavra jornal

VIAGEM

Eu estava comentando com meu avô a viagem que meus pais fariam a outro país. Eu estava meio incomodado por não me levarem junto, mas entusiasmado por ficar sozinho em casa, de dono do pedaço.

– Eles tiveram muito trabalho e gastos com você, meu caro, agora é a vez de eles aproveitarem. Seja paciente e ganhe o dinheiro para a sua viagem, quando chegar a sua vez.

Lembro-me de quanto eles estudaram e trabalharam sem se queixar enquanto você crescia.

Falando nisso, já lhe contei a origem da palavra viajar?

– Vai contar já, imagino. Deixe eu me acomodar.

– Ela veio do Latim viaticum, “jornada”, originalmente “provisões para uma jornada”, derivado de via, “caminho, estrada”.

Note que, na Igreja Católica, existe um sacramento dado aos doentes ou moribundos chamado de “viático”, que se considera uma preparação para outro tipo de jornada.

– Brr. E ajuda nela?

– Até agora ninguém se queixou. Mas é verdade que tampouco teve ocasião. Mudando para coisas mais viventes, vou contar-lhe que isso que seus pais vão fazer, turismo, tem seu nome derivado do Francês tour, “volta, circuito, volta ao redor”,  de tourner, “fazer a volta”, do Latim tornare, “fazer dar a volta, polir, girar um torno”.

– Está certo, pois numa viagem de turismo a gente acaba saindo, dando uma volta e regressando para casa.

– Muito bem, você é menos burro do que parece, eu sempre digo. E para tentar melhorar mais ainda essa situação, informo que passeio vem do Latim passare, “passar, caminhar”, de  passus, “passo”.

– E uma excursão, como aquela que fiz com o colégio, Vô?

– Vem do Latim excursio, “saída militar, expedição, corrida para a frente”, de ex-, “fora”, mais currere, “correr”.

– Mas nós não corremos, fomos caminhando…

– Mais uma gracinha dessas e você vai ter que sair daqui correndo. Aproveite para aprender, sujeitinho!

Por exemplo, aprenda que expedição vem do Latim expeditio,  relacionado a expedire, “liberar, tornar adequado, aprontar”, literalmente “livrar os pés das cadeias”, de ex- mais pedis, “corrente, peso para os pés”, de pes, “pé”.

– O pai de um colega meu trabalha na expedição de uma firma.

– Nesse lugar as empresas despacham as suas mercadorias, fazem-nas sair para percorrer o mundo. Daí o nome.

E o nome que se dá a uma peregrinação, você sabe de onde vem? Claro que não, a pergunta foi apenas retórica. Vem do Latim peragrare, “andar sem destino”, feito por per-, “através”, mais ager, “campo”, originalmente “terra selvagem”.

Mas seus pais não estão fazendo nenhuma viagem religiosa, que eles não são disso, nem andando soltos pelo campo; o que eles disseram que queriam ver era “cidades com mais de dois mil anos e menos de cinco mil habitantes”. Escolheram cuidadosamente o itinerário para tentar o seu objetivo.

Claro que essa palavra vem do Latim itinerarius, “relato de uma viagem”, de iter, “jornada”, derivado de ire, “ir”.

– E safári, Vô?

– Ah, essa vem do Swahili safári, “jornada, expedição”, do Árabe safar, “jornada”.

– E essa jornada de que o senhor tanto fala?

– Vem do Francês journée, “o trabalho ou o trajeto feito num dia”, do Latim diurnum, “feito durante o dia”, de dies, “dia”.

Existe o verbo “jornadear” em nosso idioma, como sinônimo de “viajar”.

E a palavra “jornal” como “publicação diária com notícias” vem do Francês papier journal, “folha, documento diário”.

– Legal… Eles não vão pegar uma caravana, né? De onde vem esta?

– Do Francês antigo carouan, trazido durante as Cruzadas do Persa karwan, “grupo de viajantes do deserto”. É pouco provável que eles andem numa caravana, mas muito bem podem fazer uma parte do trecho numa van, que é um encurtamento inglês para essa palavra.

– Depois de tanto tempo foram pegar uma palavra antiga dessas para designar uma camionetona?

– Ela não é de uso tão moderno como você pensa. Está em atividade para “veículo coberto” pelo menos desde os anos 1600.

– O senhor devia ser bem pequeno então, Vô…

– Nada disso, eu já tinha matado muitos dinossauros naquela época, quando a gente saía em explorações e… taí, esta palavra vem do Latim explorare, “investigar, procurar, examinar”, de ex-, “fora”, mais plorare, “gritar”.

– E essa agora? O que uma gritaria tem a ver com isso?

– Tem a ver que se tratava de uma linguagem usada em caça, quando se lançava um grito ao localizar o objeto do próximo churrasco.

E falando em churrasco, agora pretendo fazer um para a gente, no qual vou tentar repor as proteínas gastas tentando iluminar a sua pobre mente.

Chega de perguntas e de sabedoria, vamos relaxar um pouco.

Resposta:

PUBLICAÇÕES

 

A Humanidade, para o bem ou para o mal, espalha suas palavras, noções, palpites, ideologias, obras literárias, besteiras – enfim, o que lhe vem à cabeça – de diversas maneiras, em vários tipos de apresentações.

Hoje é o nosso dia de dar uma olhada no étimo de diversas palavras usadas para nomeá-las.

LIVRO – do Latim liber, librum, “livro, papel, pergaminho”, originalmente “parte interna da casca das árvores”, do Indo-Europeu leubh-, “descascar, retirar uma camada”.

LIBRETO – designa o texto de uma ópera e deriva do Italiano libretto, diminutivo de libro, “livro”.

REVISTA  –  do Francês revue, inicialmente usado em teatro, com o sentido de “espetáculo comentando acontecimentos recentes”, do Latim revidere, “ver de novo”, formado por re-, “de novo”, mais videre, “ver”.

JORNAL – da expressão  francesa papier journal, “escrito a cada dia, texto que se renova diariamente”, onde papier quer dizer “matéria escrita” e journal vem do Italiano giorno, “dia”, do Latim diurnum, “diário”, de dies, “dia”.

DIÁRIO – publicação que aparece a cada 24 horas; deriva do dies acima citado.

PANFLETO –  “pequena obra impressa, muitas vezes sem capa”. O nome deriva do Anglo-Latim panfletus, uma alteração do título Pamphylus, Sive de Amore, “Pânfilo, ou Sobre o Amor”, um poema amoroso do século XII, muito popular na Idade Média.

FOLHETIM – do Francês feuilleton, “publicação pequena, com oito páginas”, derivado de feuille, “folha”, que veio do Latim folium, “folha”.

PUBLICAR – do Latim publicus, “relativo ao povo”, de populus, “povo”.

Uma publicação é um texto trazido ao povo, para qualquer um ler.

BOLETIM – do Italiano bulletino,  diminutivo de bulletta, “documento”,  por sua vez diminutivo do Latim  bulla, “documento selado”.

Na verdade, este era o nome dado ao selo em si, que tinha  forma arredondada. Bulla queria dizer “arredondado, inchado, bolha, bola”; depois a palavra foi estendida ao documento inteiro.

PASQUIM – a palavra que designa este texto calunioso ou satírico, também aplicado a um jornal de pouca importância e malfeito, tem uma história interessante.

Em 1501 o Cardeal Caraffa instalou à frente de seu palácio, em Roma, uma estátua antiga e mutilada.  Os habitantes locais logo acharam que ela se parecia com um vizinho chamado Paschino e aplicaram o seu nome à estátua.

Como se tratava de uma área de grande circulação, as pessoas pegaram o hábito de afixar junto a ela papéis com escritos satíricos, caluniosos ou debochados voltados contra seus desafetos. E a partir daí se fez um substantivo que faz parte de diversos idiomas até hoje.

LIBELO – com um sentido semelhante à palavra anterior, mas mais sério, o de “afirmação por escrito capaz de prejudicar a reputação de uma pessoa”. Deriva do Latim libellus, diminutivo de librum, “livro”.

VOLANTE – este pequeno texto de propaganda que consta apenas de uma folha em tamanho pequeno recebeu seu nome a partir do Latim volans, “aquele que voa, o que se desloca rapidamente”, de volare, “voar”.

MANUAL – é uma publicação que geralmente não ensina a usar direito algum aparelho.  Seu nome vem do Latim manualis, “relativo à mão, aquilo que pode ser usado com uma mão, portável”, de manus, “mão”.

VADEMECUM – é um livro de referência de consulta freqüente, em tamanho adequado para o porte cômodo.

Em Latim, vade mecum quer dizer “vem comigo” ou “anda comigo”.

Resposta:

Pergunta #161

Palavras: jornal , jornalista

Muito obrigada pela sua ajuda. O caminho que vc me indicou, para seu conhecimento não foi útil.

Resposta:

“Dia” em Latim era DIES. Daí se fez DIURNUS, “diário, o que acontece em cada período de 24h”.
De DIURNUS se fez DIURNATA, “o que se faz em um dia”.
Esta palavra passou, em Francês, para JOURNÉE.
E depois se criou a expressão PAPIER JOURNAL, onde PAPIER estava por”carta, escrito”, donde PAPIER JOURNAL significava “um escrito renovado diariamente”.
Essa é a origem do nosso JORNAL; a respectiva área de conhecimento é dita JORNALISMO; quem a exerce é chamado de JORNALISTA.

Dia

Crianças, crianças! Quietinhas, senão um dia desses a Tia Odete não vai agüentar e… Como? Se eu posso falar um pouco sobre a origem da palavra dia? Posso, mas não é nenhum truque de vocês para evitar a aulinha? Juram? Bem, então lá vai:

Vocês acreditam que dia tenha um parentesco muito próximo com jornal? Parece impossível, não é? Pois vou contar agora.

A palavra latina dies significa “dia”. Daí veio diurnus, “diário, o que acontece todos os dias”. E também diurnum, “pagamento pelo trabalho que se faz num dia” ou “ração para um dia”. Dá para chamar a merendinha que cada um trouxe de diurnum, então. Não é uma gracinha?

Dessa base surgiu, no Latim vulgar, diurnata, com o significado de “o que se faz num dia”. Daí para o Italiano giornata e o Francês journée foi um passo.

Lá pelo século 16, o significado de “o que se anda num dia” perdeu a conotação de tempo, passando a predominar o sentido de distância, de viagem. Assim, jornada hoje em dia significa uma distância percorrida, sem maior definição.

A palavra jornaleiro originalmente significava “aquele que é pago por dia de trabalho”. Agora quase só se usa no sentido de “vendedor de jornais”.

E aí vem o que eu queria ensinar a vocês: em Francês, papier journal significava “escrito diário, texto renovado a cada dia”. Essa expressão acabou perdendo o papier, ficando só a outra palavra, que passou a jornal em Português. Que coisa, né?

E antes que vocês façam uma bobagenzinha muito comum, aviso que diuturno não quer dizer “o tempo todo” ou “diurno e noturno”, como muitos pensam e usam. Diuturnus em Latim significa “aquilo que dura muito tempo”. O mesmo significa o seu derivado em nossa língua. Não quero ver aluninho meu cometendo esta barbaridade.

E acrescento que dieta, aquilo que nós, mulheres, vivemos fazendo para deixar as outras com inveja, tem outra origem. Essa palavra vem do Grego díaita, “modo ou método de viver, governar”. Queria dizer também uma maneira de viver prescrita por um médico, que incluía, entre outras coisas, a escolha dos alimentos. Ela passou para o Latim como diaeta e seguiu uma carreira de sucesso, tanto que ela neurotiza muitas pessoas hoje em dia. Ou por acaso as mamães de vocês não vivem de dieta?

Agora, só para os cultos, que conhecem a palavra dieta usada como nome de certos parlamentos ou reuniões: ela começou a ser usada para um determinado dia (dies em latim, lembram-se?) marcado para uma reunião ou assembléia, e depois para a assembléia em si.

Mas, antes que alguém me pergunte se data tem a ver com dies, já vou dizendo que não. Data é do verbo dare, Latim, e significa dado.

É que as cartinhas que os romanos escreviam para os seus amiguinhos – não, Miguelito, ainda não tinham inventado o e-mail naquela época, não! – começavam com a fórmula data Romae, “dado em Roma”, antes de se colocar o dia em que estavam escrevendo. A frase queria dizer “carta dada (feita) em Roma no dia tal”.

Claro, Leonorzinha, meu anjo, que as cartas podiam ser escritas também em outras cidades. Roma foi só um exemplo que escolhi.

Sim, Aidinha? Não, minha querida, diadema não tem nada a ver com dia. Essa palavra vem do Grego diadéo, “ato, amarro”. Esse bonito enfeite bem colorido que você usa nos cabelos, combinando com os tênis, tem um nome antigo, sim, mas de outra origem.

Bem, Joãozinho, está certo, sua mãe tem uma caixa de plástico redonda onde está escrito diafragma, mas isso não tem que ver com nenhum momento do dia. Vem do Grego diaphragma, que quer dizer “parede, tabique, separação”. Para que é que serve? Ah, não sei, meu filho, só sei que é feio andar olhando as gavetas dos outros e vamos mudar de assunto já-já.

Não, não fiquei nervosa coisa nenhuma, não estou fugindo de nada e olhem só: há uma palavra que ninguém associa a dia: é dial, aquele mostradorzinho de aparelhos como os rádios e medidores. Todos pensam que é puro Inglês, mas é Latim do bom: dialis, “relativo ao dia”.

Essa palavra passou ao nosso idioma a partir do Inglês, onde sundial significa “relógio de sol”. Como o mostrador de um rádio apresenta marcas, à semelhança de um relógio de sol, acabou pegando esse nome.

Antes que alguém pergunte sobre diamante, aviso que também este não é parente de dia. Esta palavra vem do Grego a, um prefixo negativo, e damaein, “domar, dominar”.Pela sua dureza, os gregos consideravam este mineral “difícil de domar”. Eles usavam o nome adamas também para metais muito duros.

Talvez algum dos pais de um aluninho tenha deparado com a palavra jórnea em algum livro antigo ou nas palavras cruzadas; ela vem também de journée. Significa “capote militar” ou “roupa feminina para o frio”. Aplica-se a vestes que são só para uso durante o dia ou que só se usam um dia, como o vestido de casamento ou a toga usada nas formaturas.

E saibam que vocês só vão conseguir usar uma toga dessas se se comportarem bem e estudarem direitinho e tiverem pena da sua professora!

Viram só quanta coisa útil se pode aprender quando a turma fica quieta? Assim a jornada da professora fica melhor e ela tem menos pesadelos de noite!

Resposta:

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